Três salões serão abertos ao público nesta quarta-feira; conclusão da obra está prevista entre 2027 e 2028, com apoio de recursos públicos e privados.
Por Redação, com Agenda do Poder – do Rio de Janeiro
Sete anos depois do incêndio que destruiu grande parte de seu acervo e de sua estrutura, o Museu Nacional reabre pela primeira vez parte de seu palácio ao público. A partir desta quarta-feira, três salões do Palácio de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, estarão acessíveis para visitação. A reabertura simbólica marca uma nova etapa do projeto de recuperação da instituição, cujo término está previsto entre 2027 e 2028.

O anúncio foi feito nesta segunda-feira por Andrea Costa, vice-presidente do museu; Roberto Medronho, reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e Camilo Santana, ministro da Educação. A visitação é gratuita e deve ser agendada pelo site Sympla, com 300 ingressos disponíveis por dia até o fim de agosto.
A exposição temporária “Entre Gigantes: Uma experiência no Museu Nacional” permitirá ao público circular por três áreas restauradas do edifício. Entre os destaques estão o meteorito Bendegó, que resistiu ao incêndio de 2018, o esqueleto de um cachalote de 15,7 metros de comprimento suspenso sobre a escadaria monumental de mármore, e uma sala com esculturas de mármore de Carrara restauradas, que ainda receberá pintura e acabamentos, para que os visitantes acompanhem o processo de transformação.
— Queremos abrir temporariamente três ambientes para acesso, aos poucos. Esse ato tem um simbolismo forte. São 207 anos desse espaço. Ele passou pelo incêndio em 2018, todo o Brasil acompanhou, mas é um espaço educacional, histórico e científico que vai gerar oportunidades para pessoas do Rio de Janeiro e de todo país — declarou o ministro Camilo Santana.
Memória preservada nas marcas do fogo
Um dos espaços mais emblemáticos abertos ao público é a Sala das Vigas, onde teve início o incêndio em setembro de 2018. A área será mantida com as marcas da tragédia — vigas retorcidas, tijolos expostos e sinais das chamas. A proposta, segundo Andrea Costa, é transformar o ambiente em um testemunho permanente da destruição sofrida pela instituição.
— Lá foi onde começou o incêndio e vai ficar como está: com os tijolos, as vigas retorcidas, queimadas. Foi um evento tão dramático na história do edifício e da instituição que a gente resolveu deixar o espaço como um testemunho — afirmou.
Campanha por nome e novas doações
O esqueleto de cachalote, que pesa cerca de três toneladas, é o maior exemplar do tipo em exibição na América do Sul. Para sua instalação, foram necessários dois meses de trabalho técnico, que incluiu consolidação óssea, pintura, reposição de estruturas esqueléticas e içamento da peça. O museu lançou uma campanha pública para que a população sugira um nome para o animal.
Além disso, a instituição segue recebendo doações de fósseis, artefatos indígenas e peças históricas — muitas delas de colecionadores particulares ou museus estrangeiros. No entanto, a vice-presidente alerta que a estrutura para armazenar esse material ainda está sendo construída.
— A gente só não tem onde guardar tudo. Além disso, há muitas coisas prometidas, acertadas. Não estamos recebendo, de fato, porque estamos construindo os espaços para a guarda de reserva técnica — explicou Andrea Costa.
Obras e segurança reforçada
Até o momento, já foram restauradas as fachadas, as coberturas dos blocos principais, a claraboia da escadaria monumental, esculturas de mármore de Carrara e réplicas ornamentais. Os jardins históricos também foram revitalizados.
Segundo Larissa Graça, gestora técnica do projeto Museu Nacional Vive, o prédio recebeu reforços importantes no sistema de segurança, com a instalação de equipamentos modernos para prevenção de incêndios.
— Essa questão é muito importante. Então, novos sistemas de segurança estão sendo adicionados ao prédio, além dos exigidos em norma para proteção: chuveiros automáticos, sprinklers, uma série de equipamentos que vão preservar o prédio e evitar que situações como aquela aconteçam — destacou.
Investimento público e privado
O custo total do projeto de recuperação está estimado em R$ 500 milhões, dos quais R$ 330 milhões já foram captados. Faltam ainda R$ 169,6 milhões. O ministro Camilo Santana garantiu que o governo federal continuará contribuindo com recursos.
— Foram R$ 330 milhões já captados. Faltam quase R$ 170 milhões. O governo federal trará mais recursos — afirmou.
Do setor público, os principais aportes vieram do BNDES (R$ 100 milhões), emendas parlamentares (R$ 56,4 milhões), MEC (R$ 44,3 milhões) e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (R$ 20 milhões). Entre os doadores privados, destacam-se Vale (R$ 50 milhões), Bradesco (R$ 50 milhões), Itaú (R$ 10 milhões) e Cosan (R$ 7,3 milhões). Doações de pessoas físicas somaram R$ 68 mil, além de R$ 3,5 milhões em rendimentos financeiros e R$ 200 mil do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB).
Um símbolo nacional renasce
Para o reitor da UFRJ, Roberto Medronho, a restauração vai além da reconstrução física: ela representa um compromisso com a memória e o conhecimento.
— O museu é um ícone educacional, científico, uma instituição de reputação internacional. Estamos buscando na restauração preservar ao máximo o que era no início — disse.
Sete anos depois de uma das maiores tragédias da ciência e da cultura brasileiras, o Museu Nacional dá seus primeiros passos de volta ao convívio com o público. Ainda parcial, a reabertura simboliza resistência, reconstrução e a reafirmação do papel do museu como patrimônio histórico, cultural e científico do Brasil.