Rio de Janeiro, 26 de Julho de 2025

Médica Luana Araújo, dispensada pelo Planalto, bate pesado contra a cloroquina

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Quarta, 02 de Junho de 2021 às 13:43, por: CdB

Segundo a cientista Luana Araújo, há impacto quando a preconização do medicamento se transforma em política pública. Para ela, não seria justo deixar apenas com os médicos a responsabilidade pelo uso de um "tratamento que não funciona". 

Por Redação - de Brasília

Médica e cientista, com projeção internacional, a infectologista Luana Araújo não deixou pedra sobre pedra quanto à aplicação do ‘tratamento emergencial’ preconizado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) com o uso da substância cloroquina e hidroxicloroquina. Em depoimento à CPI da Covi, Araújo enfatizou que estudos demonstram a alta na mortalidade por covid-19 com o uso desses medicamentos.

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A médica Luana Arau1jo compareceu a CPI da Covid, nesta quarta-feira, acompoanhada do paié o medico e advogado José Carlos Araújo (E)

Ainda segundo a cientista, há impacto quando a preconização do medicamento se transforma em política pública. Para ela, não seria justo deixar apenas com os médicos a responsabilidade pelo uso de um "tratamento que não funciona".

— Autonomia médica faz parte da nossa prática, mas não é licença para experimentação — frisou.

Máscara

A infectologista afirmou, ainda, que insistir no chamado tratamento precoce seria um "iluminismo às avessas", e que as pessoas se apegam a uma esperança de proteção com os remédios, em vez de medidas como uso de máscara e distanciamento social.

— A partir do momento que vulnerabiliza as pessoas com informações incorretas, não podemos esperar resultado positivo — declarou a médica sobre a divulgação do tratamento precoce.

A médica explicou, ainda, o porquê de a estratégia da imunidade de rebanho, defendida em diversas ocasiões por membros do governo federal e pelo presidente Jair Bolsonaro, não ser possível naturalmente na crise da pandemia da covid-19.

— O vírus Sars-Cov-2 é de RNA, que  é um tipo de material genético que tem tendências a sofrer mutações com muita facilidade. É e sempre será esperado que sofram mutações claras ao longo do tempo — explicou.

Rebanho

A infectologista disse, ainda, que a imunidade de rebanho natural é impossível de ser atingida, e que "não é uma estratégia inteligente."

A única maneira de conseguir que o vírus pare de circular e que a pandemia arrefeça, frisou Araújo, é a vacinação, e em um curto período de tempo - o que não é realidade no Brasil, que conta com pouco mais de 10% da população imunizada com as duas doses da vacina.

— É assim (com a vacinação) que a gente atinge uma imunidade de rebanho. Não posso imputar sofrimento e morte a uma população com uma imunidade de rebanho. Não tem lógica — acrescentou.

Luana Araújo também não poupou críticas a condução focada somente nos leitos de UTI - cidades e Estados impõem medidas de circulação quando a ocupação está próxima da lotação total. A atenção primária e a testagem em massa são estratégias, de acordo com ela, que poderiam amenizar a pandemia.

Comportamento

  Questionada pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), a médica pontuou, ainda, a necessidade de orientar a população com uma mesma estratégia de comunicação.

— Nos países democráticos é assim que se faz. Se cada um diz uma coisa, em quê acredito? Especialmente se não tenho conhecimento técnico? — questionou.

Segundo acrescentou, diante da ausência de estratégia unificada de comunicação, a população acaba absorvendo aquilo que atende melhor a seus anseios.

— Se eu estou desesperada, achando que vou morrer, tomo aquilo que acho que vai me proteger — ressaltou.

Tal comportamento, continuou, pode ser combatido pelas atitudes de líderes populares, dentro de uma democracia.

— Não vamos conseguir que todas essas lideranças se alinhem a um conhecimento correto por várias questões, mas precisamos que haja a exposição clara, e direito de acesso à informação correta, para que as pessoas possam se guiar — afirmou.

Debate

O senador Otto Alencar (PSD-BA), em sua intervenção, justificou seu tratamento à médica Nise Yamaguchi em depoimento na véspera. Ele foi admoestado por colegas, por ter sido incisivo.

— Se a minha veemência aconteceu, aconteceu porque não suportava mais ver tantas coisas negadas que foram afirmadas no passado — defendeu-se

Os senadores Marcos do Val (Podemos-ES), Ciro Nogueira (PP-PI) e Marcos Rogério (DEM-RO) reclamaram do tratamento dado a Nise Yamaguchi na CPI, na terça, e por senadores chamarem a depoente de mentirosa. 

Presidente da CPI, Omar Aziz, e o senador Tasso Jereissati afirmaram que Otto Alencar foi “técnico” nas perguntas a Nise Yamaguchi na terça. Alessandro Vieira disse que pode ter havido um “exagero de retórica”, mas reforçou que Yamaguchi mentiu à CPI.

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