Na entrevista ao canal de TV digital TVT, no entanto, Lula ressalta o tamanho do PT e sua capacidade de mobilizar as forças políticas, em todo o território nacional.
Por Redação - de São Paulo
Avesso à ideia de promover, publicamente, uma revisão dos atos de governos petistas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu, em uma longa entrevista na noite passada, que o PT “se escondeu” após o movimento que gerou o golpe de Estado contra a presidenta deposta Dilma Rousseff, em 2016. Lula criticou a legenda ao constatar, nas entrelinhas, que faltou coragem por parte dos dirigentes para se contrapor à onda fascista que assola a democracia brasileira.
Na entrevista à TVT, Lula admite que faltou coragem à direção do PT para enfrentar a onda fascista que assola o país
Na entrevista ao canal de TV digital TVT, no entanto, Lula ressalta o tamanho do PT e sua capacidade de mobilizar as forças políticas, em todo o território nacional.
— Em 1989 fui candidato à Presidência contra Ulysses Guimarães, Brizola, Mario Covas, Maluf, Collor, Afif Domingos e o Enéas. E eu que fui para o segundo turno. Por quê? Por causa do PT. O PT já estava enraizado no Brasil afora. Seja em comunidades, movimentos sindicais, movimento social — afirmou.
Segundo Lula, essa passagem de sua trajetória política explica porque sua agremiação não tem como pensar uma disputa eleitoral sem protagonismo. O ódio gerado contra o PT, segundo o líder político, explica a perseguição contra ele.
— É engraçado que a pressa que eles têm de fazer um inquérito contra mim não é a mesma pressa que eles têm para fazer um inquérito sobre o Queiroz. A pressa com que Justiça Federal ou o Ministério Público me acham não é a mesma pressa com que procuram o Queiroz, os milicianos ou quem mandou matar a Marielle — acrescentou.
‘Cinturãovermelho’
Na ocasião, primeira eleição presidencial após a ditadura, Lula enfatizou que foi a forte penetração social de sua legenda, então com menos de uma década de existência e enfrentando figurões da política brasileira, que conferiu-lhe o resultado inédito.
Mas Lula reconheceu que o PT entrou de cabeça baixa nas últimas eleições, em 2016 e 2018, depois de uma temporada de massacre midiático e que não correspondeu à altura aos ataques. Destacou ainda que o partido se escondeu até mesmo no chamado “cinturão vermelho”, referindo-se a cidades da Grande São Paulo onde havia ocupado prefeituras importantes, cujos legados administrativos seria obrigação lembrar.
— Se você sofre uma doença grave, uma agressão grave, não pode se esconder. Tem que enfrentar — pontuou.
Esquerda
O ex-presidente afirmou, ainda, que nunca foi um radical e sempre foi conciliador, mas pondera que está difícil encontrar disposição ao diálogo por parte de quem é próximo ao atual governo. Ele foi lembrado por Juca Kfouri – um dos entrevistadores – que 58% das mulheres negras evangélicas têm voz decisiva na influência familiar, e que esse eleitorado votou em peso em Bolsonaro.
— Mas já votaram em mim — retrucou.
O ex-presidente ressaltou que sempre defendeu um Estado laico, que respeite todas as matrizes religiosas, mas lembra que existem muitos evangélicos petistas e que é preciso estreitar o diálogo com esse público. Cobrado pela baixa competitividade dos candidatos de esquerda e que têm se apresentado para a disputa municipal em São Paulo, lançou um suspense:
— Pode aparecer alguma novidade, ainda.
Na conversa com os jornalistas Kfouri, José Trajano e Talita Galli, Lula comemorou sua liberdade.
— Ainda não totalmente livre, estou solto. Na semana passada, a Polícia Federal abriu mais inquérito sobre mim por conta de um discurso que eu dizia que este governo é um governo de milicianos — lembrou.
Soberania
Perguntado se concordaria em formar uma frente ampla em que estivessem presentes integrantes da direita, Lula disse que, primeiramente, “é preciso saber para que você quer a frente ampla”.
— Por exemplo, quando foi para conquistar as diretas neste país, fizemos uma frente ampla. Agora, na hora que você vai decidir quem é o candidato e o programa que você vai construir, tem a separação e cada um vai para seu canto.
Você percebe que tem, numa escada de 10 degraus, tem um que você fica com todo mundo, depois outro com menos gente e, às vezes, você vai ter que andar sozinho. Hoje, acho que é possível criar uma frente ampla para conquistar de volta a soberania nacional.
Agora, é preciso saber o seguinte: quando você vê o espectro político, percebe que, dentro da Câmara e do Senado, eles estão conseguindo aprovar quase tudo que o Guedes manda. Então, você tem essa seguinte coisa: de um lado, Bolsonaro falando e às vezes até blasfemando coisa que ele mesmo não acredita; você tem o Guedes governando, ele que diz o que tem que fazer; e você tem o Rodrigo Maia fazendo o papel de como se fosse um primeiro ministro, transformando as coisas do Guedes em coisas aprovadas.
Rede Globo
Então, quando chega na elaboração de projetos específicos de direitos do povo brasileiro, não tem como criar uma frente ampla. Você pode criar uma frente de centro-direita, uma de centro-esquerda, uma de esquerda. Coisa que já temos. Se você imaginar minha vida, pegue a eleição de 1989, começamos com a Frente Brasil Popular. Eram três partidos políticos. Depois, fomos para a Frente Ampla nas eleições de 2006. Em 2002 já tinha o José Alencar como vice que era do PR. Você tinha um objetivo, ganhar para quê?
Há vários momentos e várias possibilidades de criar frentes de acordo com o assunto que está em pauta.
Luciano Huck não representa a centro-esquerda, representa a Globo. O Huck está sendo discutido pelo dono da Ambev (João Paulo Lemann, homem mais rico do Brasil), que é o novo formador de quadros políticos no país — concluiu.