Segundo o líder brasileiro, os recentes pronunciamentos de Trump no Congresso norte-americano se assemelham àqueles proferidos por anarquistas, no início do século XX.
Por Redação, com ABr – de Moscou e Nova York (NY-EUA)
Presente às comemorações da vitória soviética sobre o nazismo alemão, que se realizam na capital russa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concedeu uma entrevista justo à icônica revista norte-americana The New Yorker, publicada nesta quinta-feira, na qual não poupa críticas ao mandatário dos EUA, o magnata Donald Trump (Republicano). Lula fez um alerta para o avanço de uma retórica que ameaça a ordem democrática global.

Segundo o líder brasileiro, os recentes pronunciamentos de Trump no Congresso norte-americano se assemelham àqueles proferidos por anarquistas, no início do século XX.
— Vi um discurso dele no Congresso (norte-)americano, recentemente, e foi absurdo, (com) aqueles republicanos aplaudindo qualquer besteira que ele falasse. Era quase o mesmo tipo de discurso que anarquistas faziam no início do século, pedindo uma sociedade sem instituições, onde impera o capital — afirmou.
Guinada
A crítica ocorre em um momento particularmente tenso entre os EUA e países latino-americanos, especialmente pela imposição de tarifas sobre o aço brasileiro. A guinada dos Estados Unidos em direção ao isolacionismo e à imposição de medidas protecionistas, segundo Lula, minam décadas de cooperação internacional.
— Temos que convencer o mundo de que não é possível acabar com o multilateralismo. O multilateralismo era uma forma de civilidade encontrada entre os Estados para coexistirem pacificamente, com regras que todos devem seguir.— afirmou.
Governança
O entrevistado da New Yorker pontuou, ainda, que a construção de uma ordem global baseada em acordos multilaterais e cooperação entre países foi o que permitiu avanços significativos nas últimas décadas. Para ele, abandonar esse modelo significa colocar em risco a estabilidade planetária.
— Está provado que, se não controlarmos o ar, todos seremos vítimas da poluição. Se o mar subir, todos seremos afetados. Ainda não caiu a ficha dos líderes mais importantes de que precisamos de governança global para certas decisões — sublinhou.
Democracia
Lula fez questão de frisar, também, que a retórica beligerante promovida por Trump e seus aliados, como o vice-presidente J. D. Vance e o empresário Elon Musk, representa uma ameaça direta à democracia.
— Eles são negacionistas das instituições que garantem a democracia mundial — apontou.
O presidente brasileiro criticou, em seguida, a posição intervencionista de Washington, ao citar a interferência dos EUA na política de outros países como um “crime”.
— O fato de o vice-presidente norte-americano interferir na política da Alemanha já é um crime. Eu nunca fui a outro país interferir em uma eleição! — observou.
Habilidade
Ao público norte-americano de uma das publicações mais acessadas, em Nova York, Lula também abordou a crescente hostilidade do Ocidente em relação à China, que segundo ele é motivada por interesses comerciais, não por questões de direitos humanos ou pela disputa sobre Taiwan.
— Ainda bem que temos a China, que, do ponto de vista tecnológico, é muito avançada e pode competir no mundo da inteligência artificial, nos dando uma alternativa nesse debate. A China começou a produzir tudo que era feito nos EUA e na Europa. Copiou com habilidade e aprendeu a produzir tão bem ou melhor. Agora que os chineses ficaram competitivos, viraram inimigos do mundo — criticou.
O presidente relembrou, por fim, que a ideologia do livre comércio foi promovida justamente por líderes ocidentais como Ronald Reagan e Margaret Thatcher nos anos 1980, e que agora os mesmos países recuam diante da ascensão de novos atores globais.
— Eu sou de uma geração que aprendeu que o melhor para o mundo era a globalização e o livre comércio. Produtos deviam circular livremente. O dinheiro devia circular livremente — concluiu.