O presidente petista afirmou que “os acordos comerciais têm de ser mais justos” e criticou o adendo de exigências feito pelos europeus.
Por Redação, com Brasil de Fato - de Brasília
Em entrevista coletiva em Paris pouco antes de embarcar de volta ao Brasil após sua viagem pela Europa, o presidente Lula (PT) ressaltou o desejo de destravar o tratado de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE). A negociação se arrasta há mais de duas décadas. “A França tem um papel importante e nesse momento há um início de contrariedade em relação ao acordo”, afirmou o chefe do Planalto.

– Conversamos com o presidente Macron, ele nos disse que a gente pode discutir, que não tem tema proibido para discutir – relatou Lula, sobre a reunião bilateral que realizou com o chefe de Estado francês, acompanhado de uma delegação com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o assessor especial da presidência, Celso Amorim.
O acordo para criar uma área de livre comércio entre os dois blocos foi concluído em 2019, mas o texto ainda não foi ratificado nem pelos parlamentos europeus, nem pelos presidentes da UE. Apesar de não ser o único país ponderando o avanço do tratado, a França se tornou peça chave.
– Da mesma forma que ele (Macron) tem que resguardar os interesses agrícolas dele, nós temos que resguardar os interesses das nossas pequenas e médias empresas – descreveu Lula. O parlamento francês alega que o texto, se aprovado nesta versão, trará impactos ambientais e de concorrência em relação aos produtos agrícolas brasileiros. Os franceses também questionam o uso de agrotóxicos no Brasil que são proibidos na Europa e a discrepância entre direitos trabalhistas dos dois blocos.
Desmatamento na Amazônia
Impulsionado pela explosão do desmatamento na Amazônia que marcou a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o Parlamento Europeu adicionou uma carta ao compromisso firmado em 2019, impondo novas exigências ligadas à preservação do meio ambiente e penalidades aos países que não cumprirem metas climáticas firmadas no Acordo de Paris, de 2015.
Na sexta-feira, o presidente petista afirmou que “os acordos comerciais têm de ser mais justos” e criticou o adendo de exigências feito pelos europeus. “Estou doido para fazer um acordo com a União Europeia. Mas não é possível. A carta adicional que foi feita pela União Europeia não permite que se faça um acordo”, expôs Lula. “Não é possível que nós tenhamos uma parceria estratégica e haja uma carta adicional fazendo uma ameaça a um parceiro estratégico. Como a gente vai resolver isso?”, questionou.
Já no sábado, Lula informou que a resposta dos países do Mercosul à carta adicional da União Europeia deve ser feita até o final de 2023. “Espero que tenhamos capacidade e sabedoria de fazer avançar esse assunto porque é importante para a União Europeia, é importante para o Mercosul e é importante para o encontro que vai ter agora em julho”, anunciou. O presidente brasileiro se referia à cúpula entre a UE e a Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos, marcado para o próximo 17 de julho, na Bélgica.
– É muito engraçado esse mundo, porque dos anos 1980 para cá as pessoas falavam que quanto mais abertura melhor, quanto mais livre comércio melhor. Agora, quando chega a vez dos países em desenvolvimento competir em igualdade de condições, os mais ricos viram protecionistas – criticou Lula.
– Eu acho normal que a França tente defender a sua agricultura. Pode ser um ponto de mais dificuldade, de inflexão. Mas é normal que eles entendam que o Brasil não pode abrir mão das compras governamentais. O fato de ter esses dois pontos que são nervosos e considerados essenciais dos dois lados, ora, a gente pode não fazer acordo com esses, mas vamos melhorar outras coisas – defendeu o petista.
Defendendo o “bom senso” no lugar da “arrogância”, Lula ressaltou: "A União Europeia não pode ficar sendo a fatia de mortadela entre a nova guerra fria, entre Estados Unidos e China. É importante lembrar: nós precisamos da União Europeia e a União Europeia precisa muito de nós".