A Lei Maria da Penha representou grande avanço, não somente na punição, como, também, na prevenção do feminicídio. No entanto o cumprimento da Lei não é preocupação do atual Governo Federal.
Por Jandira Feghali - do Rio de Janeiro
Não há dúvida que a Lei Maria da Penha foi um divisor de águas no combate à violência doméstica contra a mulher. Antes da lei, os agressores eram “punidos” com o pagamento de cestas básicas, não existiam medidas protetivas e nem tão pouco juizados especializados para os casos. Por tempo demais, ficamos sem legislação específica e os acordos construídos nos juizados especiais criminais acabavam por deixar os agressores impunes e as mulheres desprotegidas, desamparadas e desestimuladas a denunciar as agressões, certas de que o agressor pagaria meia cesta básica como pena e voltaria para casa com maior disposição de reincidir na violência.Violência doméstica e feminicídios
Lamentavelmente, salvar vidas não é o foco do atual governo federal. Nem na pandemia e nem para conter o avassalador aumento de casos de violência doméstica e de feminicídios. Dados do Inesc mostram que, em 2020, apenas R$ 5,6 milhões de um total de R$ 126,4 milhões previstos na Lei Orçamentária foram efetivamente gastos com as políticas públicas para mulheres. No mesmo ano, a própria Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, ligada ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, divulgou que o número de denúncias de violência contra a mulher feitos por meio de ligações ao Disque 100 e ao Ligue 180 foi 25% superior ao de 2019. Casos aumentando e investimentos caindo. E a realidade da execução orçamentária para 2021 não é muito diferente. No primeiro semestre, foram pagos apenas R$ 13,9 milhões, R$ 1,47 milhão a menos se compararmos com o mesmo período do ano anterior. Uma tragédia anunciada e sem qualquer prioridade por parte do Executivo. Temos uma lei reconhecida como uma das três melhores do mundo, as mulheres ganharam confiança para denunciar, mas a estrutura necessária para protegê-las necessita de recursos dos Executivos e do Judiciário. Sem investimentos, caímos na triste situação de apenas ampliar penas e voltar ao foco punitivista. Queremos punição exemplar para os agressores, mas antes de tudo, queremos mulheres vivas. Vivas e com estruturas que lhe permitam superar o trauma e buscar uma vida sem violência. Esse é um direito das mulheres. Um direito que o Estado lhes nega quando não aplica os recursos necessários. Nesses 15 anos da Lei Maria da Penha nosso grito deve ser: Queremos viver! Queremos que a lei seja cumprida em sua íntegra! Cumpra-se!Jandira Feghali é médica, deputada federal (RJ) e líder da oposição na Câmara.
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