Embora ainda não esteja claro quem foi o responsável, o bairro onde ficava o hotel tem sido palco de confrontos entre gangues e forças de segurança.
Por Redação, com Reuters – de Porto Príncipe
Importante patrimônio histórico e cultural do Haiti, o Hotel Oloffson foi incendiado e completamente destruído, na madrugada deste sábado, durante a escalada da violência que já deixou cerca de 5 mil mortos no país em menos de um ano, segundo relatório da ONU divulgado na véspera.

— Não quero chorar por um prédio enquanto tantos haitianos estão sendo mortos e estuprados. A não ser que o prédio chame atenção para essas mortes e estupros — afirmou Richard Morse, que gerenciava o hotel a partir dos Estados Unidos, em uma publicação pelas redes sociais.
Embora ainda não esteja claro quem foi o responsável, o bairro onde ficava o hotel tem sido palco de confrontos entre gangues e forças de segurança.
Sob controle
Cerca de 90% do território da capital, Porto Príncipe, está atualmente sob controle de grupos armados, segundo a ONU. Nas semanas anteriores, a vizinha Avenida Fouchard já havia registrado intensos tiroteios entre policiais e integrantes de facções, de acordo com o jornal local ‘Haitian Times’.
O Oloffson era considerado um marco essencial da identidade haitiana, com papel simbólico na memória coletiva do país. Não à toa, a destruição causou comoção nacional.
Ao longo das décadas, o hotel foi ponto de encontro da elite cultural e intelectual haitiana, mas também refletia as desigualdades sociais do país. O estabelecimento era cercado de ruas lotadas com vendedores ambulantes, além de moradores em situação de extrema pobreza.
A estrutura havia sobrevivido ao forte terremoto que assolou a capital em janeiro de 2010, servindo de hospedagem a grande parte da imprensa internacional. Omar Ribeiro Thomaz, brasileiro que estava no Haiti durante o tremor, conta que, no dia seguinte à tragédia, dirigiu-se ao Oloffson e sentiu alívio quando viu que o hotel não havia sido destruído.
‘Gingerbread’
Fechado desde 2022, o hotel já não recebia hóspedes há mais de um ano devido à escalada da violência. Ao longo de décadas, o hotel recebeu escritores, artistas, jornalistas e visitantes do mundo inteiro, como Mick Jagger, Jackie Kennedy Onassis e Elizabeth Taylor. Foi o romancista britânico Graham Greene quem deu ao Oloffson projeção internacional ao transformá-lo no cenário de seu romance ‘Os Farsantes‘,ambientado durante o regime de François ‘Papa Doc’ Duvalier e sua temida milícia, os ‘Tontons Macoute’.
Com treliças de madeira, torres e pináculos, o Oloffson era um exemplo clássico do estilo ‘gingerbread’, a arquitetura caribenha do século XIX,desenvolvida por arquitetos haitianos formados na França, que buscaram adaptar mansões tropicais ao clima local.