Disposto a salvar o que ainda restava de seu patrimônio empresarial, o engenheiro Léo Pinheiro, dono da OAS à época, fechou delação premiada, com a anuência de Moro em 2017, na qual diz que teria entregue um apartamento tríplex, no Guarujá — litoral paulista — ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Por Redação - de São Paulo
Ex-ministro do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), nomeado e exonerado nove meses depois, o ex-juiz Sergio Moro levou quase um ano para ajustar seu contrato com a empresa de consultoria norte-americana Alvarez & Marsal. Com remuneração condizente à posição de gestor da empresa, internacionalmente calibrada em torno de US$ 1,2 milhão por ano segundo ranking especializado, Moro é agora sócio da empresa responsável pela recuperação judicial das empreiteiras Odebrecht e OAS. Ambas foram quase que destruídas, econômica e administrativamente, pela Operação Lava Jato.
Moro está de malas prontas para morar em Washington, após assumir um cargo na empresa que atestou a inocência de Lula
Disposto a salvar o que ainda restava de seu patrimônio empresarial, o engenheiro Léo Pinheiro, dono da OAS à época, fechou delação premiada, com a anuência de Moro em 2017, na qual diz que teria entregue um apartamento tríplex, no Guarujá — litoral paulista — ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Moro sentenciou Lula a 8 anos de meio de cadeia com base na denúncia de Pinheiro, mas agora se vê diante de um fato novo.
A empresa da qual o ex-juiz Moro é sócio gerou um um documento no qual atesta que o tríplex do Guarujá é, na realidade, um patrimônio da OAS, sem nunca ter sido passada, legalmente, ao ex-presidente Lula. A petição foi enviada pela própria defesa de Lula, à época do julgamento. A Alvarez & Marsal, da qual Moro agora consta do contrato social, provou que o apartamento era de Léo Pinheiro.
Ainda assim, o juiz do caso que interrompeu a carreira do líder petista ignorou os fatos.
Conflito
À época, o empresário Léo Pinheiro fez dois acordos de delação premiada. O primeiro, que não trazia quaisquer acusações contra Lula, foi anulado pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Ele alegou problemas com vazamentos de informação na própria Lava Jato, que contou com o apoio irrestrito das Organizações Globo.
Algumas semanas depois, em depoimento prestado diretamente ao juiz Moro, fora do ambiente de delação, Pinheiro disse que a reforma do tal tríplex seria “um prêmio da empreiteira dado a Lula”. Mesmo sem uma prova sequer para sustentar a acusação, foi o que bastou para o então magistrado lavrar a sentença, às vésperas das eleições de 2018.
Embora o ex-ministro tenha negado “haver conflitos de interesses” no novo emprego, políticos, jornalistas e advogados destacaram as contradições do ex-juiz.
“Nova maneira de ficar rico: quebrar uma empresa e depois ser contratado para a sua recuperação judicial. Foi o que fez Sérgio Moro. Quebrou a Odebrecht e agora foi contratado pela empresa que está fazendo a recuperação judicial”, escreveu o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP).
Incompetência
No Twitter, o ex-presidente Lula também publicou a reprodução do documento que atesta a propriedade do apartamento no Guarujá. Para a defesa do ex-presidente, “Moro promoveu uma farsa para tirar Lula das eleições e cometeu vários absurdos e ilegalidades para isso, entre elas ignorar esse documento”.
De acordo com o advogado criminalista Leonardo Yarochewsky, em entrevista a jornalistas nesta manhã, o processo do caso do tríplex é nulo devido aos fatos divulgados pela agência norte-americana de notícias The Intercept Brasil. Uma série de reportagens transcreve os diálogos do procurador Deltan Dallagnol e o ex-juiz Sergio Moro, no processo da Operação Lava Jato que levou o ex-presidente à condenação .
— No entender de vários processualistas penais, a incompetência do juízo, no sentido processual, é a mãe de todas as nulidades — concluiu.