Até o início da tarde desta quinta-feira, as manifestações já estavam confirmadas em 24 países e 70 cidades. Segundo a jornalista Selma Vital, residente na Dinamarca e responsável pela grupo Aurora, o governo Bolsonaro atinge todos os brasileiros, inclusive quem mora no exterior.
Por Redação - de Berlim, Brasília e Rio de Janeiro
Grupos da sociedade civil organizada, ao redor do mundo, realizarão no próximo domingo um ato de repercussão planetária: o Stop Bolsonaro. Segundo os organizadores, o momento é o mais propício, devido à perda de substância no movimento de ultradireita que levou o mandatário neofascista ao poder; a hora certa para criar uma pressão internacional.
Até o início da tarde desta quinta-feira, as manifestações já estavam confirmadas em 24 países e 70 cidades. Segundo a jornalista Selma Vital, residente na Dinamarca e responsável pela grupo Aurora, o governo Bolsonaro atinge todos os brasileiros, inclusive quem mora no exterior.
— É uma situação que afeta todos os brasileiros e é triste ver isso de longe. Esse ato dá a possibilidade de quem está fora do país também ecoar a indignação. Enquanto vimos países pararem, por conta da pandemia, Bolsonaro não fez nada — criticou, em entrevista à agência brasileira de notícias Rede Brasil Atual (RBA).
Os organizadores pretendem denunciar a falta de política do governo brasileiro em relação ao novo coronavírus e o discurso fascista endossado pelos apoiadores de Bolsonaro. Erica Caminha, ativista dos Direitos Humanos na Alemanha e artista plástica, é uma das organizadoras do ato, em Berlim. Ela relata que o presidente brasileiro é criticado diariamente pela mídia alemã.
— Todos os dias, nas rádios, revistas e emissoras de televisão, Bolsonaro é criticado. Nós somos vistos como coitados que estão à mercê de irresponsáveis. Aqui na Alemanha, nem a extrema-direita alemã quer ter vínculo com ele, de tão terrível que é — afirmou.
Na pandemia
As manifestações ocorrerão de maneira presencial e virtual. Em alguns países ainda não controlaram a síndrome da covid-19 e a indicação é para que as pessoas participem de casa.
— Sobre a segurança sanitária, a gente indica que, no Brasil, os atos sejam online. Mas vamos aplicar um protocolo de segurança para que as pessoas, que vão à rua, se protejam do vírus — acrescentou Erica.
O Stop Bolsonaro está marcado, até agora, em países como: Alemanha, Áustria, Argentina, Chile, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Itália, México, Nova Zelândia, Portugal, Inglaterra, Suíça e Uruguai.
Sem consenso
Se as organizações internacionais não têm qualquer dúvida quanto aos riscos que o governo de ultradireita, instalado há mais de dois anos no país, representa para a sociedade brasileira, internamente a dificuldade aumenta. Nesta quinta-feira, o deputado José Netto (Podemos-GO) teve a ideia de convidar o ex-ministro Sergio Moro para um ato virtual pela democracia, organizado pelo movimento Direitos Já. A proposta desandou.
De imediato, a sugestão revelou divisões entre as forças políticas que compõem o movimento, com a reação contrária de políticos de centro-esquerda e de esquerda. O ex-ministro Aldo Rebelo, que deixou o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) para se filiar ao Solidariedade (SD), pediu que o avisassem “quando estiver para acontecer”.
Lava Jato
O deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP), por sua vez, não quis sequer ouvir qualquer argumento.
— Se ele entrar por uma porta, eu saio por outra — disse à jornalista Mônica Bergamo em sua coluna no diário conservador paulistano Folha de S.Paulo.
O deputado goiano, no entanto, exaltou a figura de Moro como alguém que teve a coragem de combater a corrupção e nunca ter se insurgido contra a democracia. As forças progressistas e de esquerda veem em Moro alguém que usou a Operação Lava Jato para destruir a democracia e abrir caminho a um regime autoritário no país.
Alinhamento
Composto por várias forças que vão da esquerda à direita, passando pelos diferentes matizes do centro, o movimento se dividiu também porque não constava no texto a ser lançado nenhuma referência a Jair Bolsonaro. Líderes de oposição, entre os quais defensores da palavra de ordem Fora Bolsonaro, exigiram que o nome do presidente estivesse no texto.
Há no movimento aqueles que defendem a permanência de Bolsonaro no governo até o fim do seu mandato e se alinham à sua política econômica, executada pelo ministro da Economia Paulo Guedes, neoliberal e defensor do arrocho fiscal.
Outra confusão foi criada pela revelação de que o evento reuniria os ex-presidentes Michel Temer, José Sarney e FHC, e os ex-presidenciáveis Fernando Haddad (PT-SP) e Guilherme Boulos, além de Luciano Huck. Temer, que já tinha até enviado vídeo para o ato, e Sarney desistiram de participar. O presidente do STF Dias Toffoli tinha confirmado presença, mas voltou atrás.