As manobras, que se concentravam no último trimestre de 2022, foram adiantadas e deverão ser executados até setembro. Após este período, todo o efetivo da Força estará à disposição para eventuais necessidades, em um ambiente de alta tensão política no país em face da disputa entre Lula e Bolsonaro.
Por Redação - de Brasília
O planejamento tático das forças terrestres brasileiras mudou para este ano. O Alto-Comando do Exército agora enxerga, no horizonte até as eleições de outubro deste ano, um aumento no risco de incidentes violentos e, com base na análise geopolítica, resolveu adiantar todos os 67 exercícios militares principais previstos para o ano.
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As manobras, que se concentravam no último trimestre de 2022, foram adiantadas e deverão ser executados até setembro. Após este período, todo o efetivo da Força estará à disposição para eventuais necessidades, segundo adiantou o diário conservador paulistano Folha de S. Paulo (FSP), nesta quinta-feira.
Nos encontros de oficiais do Estado Maior, as conversas “sempre giram em torno do tema da polarização, levando em conta o cenário atual das pesquisas eleitorais”, escreveu o colunista da FSP, Igor Gielow, referindo-se a uma disputa em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apresenta-se como franco favorito dos eleitores e poderá vencer o pleito ainda no primeiro turno; “e na qual o atual titular do Planalto, Jair Bolsonaro (PL), ainda ocupa a segunda posição, apesar da precariedade da curva de seus números”, acrescentou.
Bastidores
“Generais e outros oficiais temem que a animosidade que consideram inevitável entre os dois grupos possa descambar para incidentes pontuais de violência ou contaminar discussões nas disputas estaduais — levando ao eventual pedido de socorro às Forças Armadas, que já estarão mobilizadas para o pleito deste ano”, observou Gielow.
Ainda segundo o colunista “nos bastidores, oficiais de alta patente especulam sobre como os bolsonaristas, principalmente integrantes das polícias militares, reagirão em caso de derrota do atual ocupante do Palácio do Planalto”.
Para o advogado, Marcelo Aith, professor da Escola Paulista de Direito, a “guerra híbrida é uma estratégia militar que mescla táticas de guerra política, guerra convencional, guerra irregular e ciberguerra com outros métodos não ortodoxos, como a desinformação, lawfare e a intervenção eleitoral externa (disparos em massa por robôs é um exemplo desse último)”, no cenário previsto por oficiais do Exército, para este ano.
Lawfare
A ‘guerra híbrida’, segundo Aith, se desenvolve em duas etapas: a primeira, conhecida como “Revolução Colorida” e a segunda, denominada de “Guerra não convencional”, também chamada de “Revolução Colorida”. “O termo ‘colorida’ tem a ver com a utilização de cores para notabilizar e simbolizar o movimento, como a utilização do verde e amarelo, entre 2015 e 2018”, que resultou no golpe de Estado que derrubou a presidente deposta Dilma Rousseff (PT) e na eleição de Bolsonaro.
“A gênese da ruptura que resultou na eleição de Bolsonaro, um político do baixo clero, ligado ao regime militar e idólatra de torturadores, foi a ‘guerra híbrida’ retratada com maestria no livro ‘Geopolítica da Intervenção’. A Lava Jato, comandada por Sérgio Moro e os meninos da procuradoria da República de Curitiba, utilizaram a torto e a direito da desinformação e do lawfare, com o propósito firme de deslegitimar o governo Dilma e possibilitar a ruptura política”, acrescentou, em artigo recém-publicado.
Dois episódios são evidentes dessa prática: a divulgação ilegal e seletiva da conversa interceptada entre a presidente Dilma e o ex-presidente e a divulgação de trechos da delação de Palocci. A primeira culminou no impeachment de Dilma e o segundo na vitória de Bolsonaro, pois em ambos os casos foi gerado um sentimento de repulsa ao PT. Mas isso só foi possível pela utilização de disparos em massa das informações falsas, que alcançaram alvos (pessoas) vulneráveis e suscetíveis a serem manipulados.
Extremistas
Uma amostra clara do poder de manipulação do exército bolsonarista, conforme lembra o advogado, ocorreu no dia 7 de setembro de 2021. Nessa oportunidade, Brasília foi literalmente invadida por cegos apoiadores do governo Bolsonaro, que tinham o firme propósito de romper com as instituições de Estado.
“Essa gigantesca manifestação de apoio aos ideais extremistas de Bolsonaro, que tinha como objetivo a invasão do STF e do Congresso, foi totalmente planejada e posta em prática nos grupos de WhatsApp e Telegram. Pessoas do Brasil inteiro se deslocaram em caravanas para pôr em prática a intenção de aniquilar com o regime democrático brasileiro”, ressalta.
Para o professor, “o poder do exército bolsonarista não pode ser subjugado, especialmente em um ano de eleições presidenciais, que caminham a passos largos para a derrota governista”, conclui.