Mais do que atualizações técnicas, o pano de fundo do evento foi marcado por uma série de escândalos envolvendo inteligência artificial, atrasos estratégicos, processos por propaganda enganosa e pressões políticas.
Por Redação, com agências internacionais – de Nova York
A Apple revelou na segunda-feira uma série de atualizações para seus sistemas operacionais durante o WWDC 2025. As novidades incluem um novo design para o iOS dos iPhones, melhorias no iPadOS, macOS e watchOS. No entanto, o evento ocorre em um dos momentos mais frágeis da história recente da companhia.

Mais do que atualizações técnicas, o pano de fundo do evento foi marcado por uma série de escândalos envolvendo inteligência artificial, atrasos estratégicos, processos por propaganda enganosa e pressões políticas e econômicas lideradas pelo governo Trump.
Apple Intelligence: promessas não cumpridas e propaganda enganosa
A Siri que não existia
Durante o WWDC 2024, a Apple impressionou ao apresentar o “Apple Intelligence”, com destaque para uma Siri reformulada. A proposta era que a assistente pessoal ganhasse funções inteligentes que a tornariam um verdadeiro secretário digital. Com consciência do que ocorria na tela, a Siri seria capaz de entender comandos em contextos variados, interagir com e-mails, fotos e contatos, e executar tarefas como adicionar endereços automaticamente.
Contudo, reportagens investigativas revelaram que o vídeo promocional estrelado por Bella Ramsey, que simulava as funcionalidades da nova Siri, era apenas conceitual. O jornalista John Gruber, referência em tecnologia, afirmou que a apresentação foi uma encenação, e não um protótipo funcional.
Desorganização interna e falhas de comunicação
Segundo informações do portal The Information, a equipe de inteligência artificial liderada por John Giannandrea desenvolveu o conceito da nova Siri sem o conhecimento do time responsável diretamente pela assistente, liderado por Robby Walker. O resultado foi um anúncio surpreendente até para os próprios funcionários da empresa.
A falta de coordenação entre os times e o atraso no desenvolvimento forçaram a Apple a remover do YouTube a publicidade oficial do recurso. Atualmente, analistas apontam que a versão aprimorada da Siri ainda está longe de se concretizar — e pode sequer existir nos moldes prometidos.
Crise de imagem e ações judiciais nos EUA
Acusações de propaganda enganosa
A Apple está sendo processada por propaganda enganosa nos Estados Unidos. Parte do marketing do iPhone 16, lançado em 2024, baseava-se nas inovações em inteligência artificial, que até hoje não foram entregues. O Ministério da Justiça e entidades de defesa do consumidor argumentam que a empresa utilizou publicidade enganosa para induzir consumidores a adquirirem o novo modelo.
– O problema não é o atraso. É a manipulação da percepção pública – declarou John Gruber. “A Apple precisava contar a verdade, mesmo que não fosse empolgante.”
Impacto na confiança do mercado
Essas revelações resultaram em uma queda na confiança de consumidores e investidores. A Apple, que historicamente liderou o mercado em inovação e estabilidade, perdeu seu posto de empresa mais valiosa do mundo para a Microsoft e, surpreendentemente, para a Nvidia, símbolo da nova era da inteligência artificial.
Pressões políticas: Trump quer Apple produzindo nos EUA
Novo tarifaço atinge em cheio o setor de tecnologia
Durante seu segundo mandato, o presidente Donald Trump adotou uma política protecionista ainda mais intensa do que em seu primeiro governo. Visando reindustrializar os Estados Unidos, aplicou tarifas pesadas a produtos e componentes importados, especialmente os vindos da China, onde a Apple mantém grande parte de sua produção.
Com tarifas de até 30%, analistas estimam que o preço do iPhone pode subir até US$ 500 no mercado americano. Como resposta, a Apple realocou parte da produção para a Índia, onde as tarifas giram em torno de 10%.
Trump endurece: nem China, nem Índia
No entanto, o presidente deixou claro que sua intenção é forçar a produção interna total dos dispositivos Apple. Em declarações públicas, Trump ameaçou aplicar uma tarifa de 25% sobre qualquer produto da empresa que não seja fabricado nos Estados Unidos.
A medida criou um impasse para a gigante de Cupertino, que esbarra em obstáculos técnicos e estruturais para atender à demanda presidencial.
Por que a Apple não pode simplesmente “voltar para casa”
Falta de mão de obra qualificada
A produção de iPhones exige profissionais altamente especializados. Na China, 41% dos graduados estão nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM), enquanto nos EUA esse número é de apenas 20%. A escassez de profissionais qualificados tornaria logisticamente impossível migrar toda a produção para o território americano sem um plano de médio e longo prazo para formar essa força de trabalho.
Dependência global de componentes
Além da mão de obra, a Apple depende de uma complexa cadeia de suprimentos global. Mesmo que o produto final fosse montado nos Estados Unidos, peças essenciais continuariam sendo importadas de países asiáticos. Portanto, a simples mudança de local de montagem não resolveria o problema das tarifas.
WWDC 2025: poucas surpresas e ambiente de cautela
Atualizações modestas nos sistemas operacionais
Diante das dificuldades, o WWDC 2025 foi marcado por um tom mais comedido. A Apple apresentou uma nova interface para o iOS, melhorias no desempenho do macOS e atualizações incrementais no watchOS. Entretanto, nada que se compare ao impacto de eventos anteriores.
Como antecipado pela imprensa especializada, não houve qualquer menção a grandes avanços no Apple Intelligence. A ausência reforça a percepção de que a empresa ainda não conseguiu alcançar os avanços prometidos.