Moraes chegou a brincar no início da sessão desta manhã, “fazendo votos” para que o advogado Matheus Milanez, tenha “jantado tranquilamente”.
Por Redação – de Brasília
Um espetáculo burlesco ganhou as telas das tevês brasileiras, nos últimos dois dias, no depoimento dos réus constantes do núcleo crucial da trama golpista frustrada pela sociedade civil brasileira, no 8 de Janeiro. Liderado por Jair Bolsonaro (PL), que depôs ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes na tarde desta terça-feira, o ex-mandatário neofascista tentou transformar o inquérito em chanchada ao perguntar se poderia ali, perante a alta Corte de Justiça do país, fazer uma piada,
— Aconselho o senhor a ouvir seus advogados — advertiu Moraes.

Ainda assim, num riso frouxo, Bolsonaro continuou e disse que se tratava de um convite para que o relator do processo, alvo da Operação Punhal Verde e Amarelo — que previa o assassinato dele e de outras autoridades federais —, assumir o posto de candidato a vice-presidente em uma chapa eleitoral nas próximas eleições, para as quais está inelegível7. Moraes declinou de imediato, com um semblante sóbrio, e passou adiante em outra pergunta ao réu.
Bom humor
Moraes, no entanto, chegou a brincar no início da sessão desta manhã, “fazendo votos” para que o advogado Matheus Milanez, tenha “jantado tranquilamente”, em referência ao pedido feito por ele na segunda-feira, para que o ministro postergasse a sessão desta terça. Milanez defende o general Augusto Heleno.
— Cumprimento os advogados aqui presentes (…), Dr. Matheus Milanezi, fazendo votos que tenha jantado ontem tranquilamente — afirmou o ministro. Milanez havia pedido para que a sessão anterior fosse encerrada para que ele tivesse tempo de jantar.
Antes de Bolsonaro, a Primeira Turma do STF ouviu o ex-comandante da Marinha Almir Garnier, que descartou pedir uma acareação dele com o ex-comandante da Aeronáutica, Carlos Baptista, após ser acusado de participar do arranjo golpista construído no ocaso do governo Bolsonaro. Os dois apresentaram versões divergentes ao Supremo.
— Nós não iremos requerer acareação. A superioridade probatória é muito evidente em favor de Garnier. O depoimento foi ótimo. Ele estava com a verdade do seu lado — disse o advogado Demóstenes Torres a jornalistas, após novo depoimento do militar nesta terça-feira.
Celular
O ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Anderson Torres, que também depôs perante a Corte Suprema, nesta manhã, protagonizou outro momento de incredulidade na negação do golpe de Estado, ao afirmar que perdeu o celular enquanto estava nos Estados Unidos, ao ficar “transtornado” com a notícia de que havia sido decretada sua prisão.
Em seu depoimento, o ex-ministro disse que o momento em que recebeu a notícia “foi o mais duro” de sua vida.
— Eu perdi meu telefone, acho que aquele momento foi o mais duro da minha vida. Eu saí daqui [do Brasil] como Secretário de Segurança e no dia 10 saiu minha prisão. Isso me deixou completamente transtornado, eu perdi completamente o equilíbrio com aquela notícia da prisão e nesse contexto eu acabei perdendo o meu celular — tentou justificar, diante da incredulidade geral.
Tornozeleira
Torres é um dos réus do chamado “núcleo 1” do golpe, segundo a Procuradoria-Geral da República. O documento que tinha a intenção de mudar o resultado das eleições presidenciais de 2022, que passou a ser conhecido como “minuta do golpe” foi encontrado na casa de Anderson Torres e considerado pela Polícia Federal (PF) como o elo que ligou os demais alvos da investigação.
Após retornar ao Brasil, depois da viagem aos Estados Unidos, ele foi preso pela PF, por meio de um mandado de prisão preventiva expedido por Moraes. Após quatro meses depois, Torres foi solto e desde então cumpre medida cautelar com uso de tornozeleira.
Logo após as indagações a Torres, o general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), prestou seu depoimento ao STF e se recusou a responder às perguntas da Corte sobre sua participação no plano do golpe de Estado.
De acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) contou com “auxílio direto” de Heleno para “deflagrar o plano criminoso” de difusão de mensagens que contestavam a segurança do sistema eleitoral brasileiro.
Flagrante
Com a participação de Alexandre Ramagem, então diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Heleno tinha sob sua posse documentos com orientações para que Bolsonaro descumprisse ordens do STF.
“As anotações previam a ‘prisão em flagrante’ da autoridade policial ‘que se [dispusesse] a cumprir’ as decisões judiciais que a organização criminosa qualificasse como manifestamente ilegais”, descreve a denúncia. Heleno também teria “pleno domínio sobre as ações clandestinas” da chamada “Abin paralela”, já que o órgão, em seu caráter oficial, estava subordinado ao GSI.
Apesar do pedido para silenciar nas respostas a Alexandre de Moraes, o ex-ministro combinou de responder apenas às perguntas ensaiadas com seu advogado, Milanez, e protagonizou mais um episódio cômico. Heleno disse em juízo, para desespero de seu defensor, que não praticou atitudes ilegais porque “não havia oportunidades” para isso.