“A mim só me resta um caminho: deixar a minha pré-candidatura em suspenso até que a bancada do meu partido reavalie sua posição. Temos um instrumento definitivo nas mãos, que é a votação em segundo turno, para reverter a decisão e voltarmos ao rumo certo”, escreveu, no Twitter.
Por Redação - de Brasília
O presidenciável Ciro Gomes (PDT) decidiu, nesta quinta-feira, suspender a pré-candidatura à Presidência da República, após a bancada pedetista votar favoravelmente à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios. O anúncio ocorreu nas primeiras horas da manhã, por meio das redes sociais.
Ciro Gomes encontra uma forma de sair do cenário político, ao suspender sua candidatura ao Planalto
Ciro Gomes demonstrou-se surpreso após o partido votar com o governo do presidente Jair Bolsonaro e anunciou a suspensão da candidatura até o segundo turno da votação da PEC.
“A mim só me resta um caminho: deixar a minha pré-candidatura em suspenso até que a bancada do meu partido reavalie sua posição. Temos um instrumento definitivo nas mãos, que é a votação em segundo turno, para reverter a decisão e voltarmos ao rumo certo”, escreveu, no Twitter.
Farsa e erros
A PEC dos Precatórios libera R$ 90 bilhões para Jair Bolsonaro gastar em ano eleitoral. A proposta limita o valor de despesas anuais com precatórios, corrige seus valores exclusivamente pela Taxa Selic e muda a forma de calcular o teto de gastos. O texto obteve 312 votos favoráveis e 144 contrários.
“Não podemos compactuar com a farsa e os erros bolsonaristas. Justiça social e defesa dos mais pobres não podem ser confundidas com corrupção, clientelismo grosseiro, erros administrativos graves, desvios de verbas, calotes, quebra de contratos e com abalos ao arcabouço constitucional”, acrescentou Ciro, em uma crítica direta à bancada pedetista.
A PEC dos Precatórios viabiliza o lançamento do programa Auxílio Brasil de R$ 400, com o qual o governo Bolsonaro pretende substituir o Bolsa Família. Mas o texto precisa passar ainda por um segundo turno de votação na Câmara antes de ir para o Senado. Deputados da base bolsonarista e do chamado ‘Centrão’ exigiram mais recursos em emendas para garantir o quórum.
Reeleição
Dos 21 votos que o PDT tem na Câmara dos Deputados, 15 foram favoráveis à PEC dos Precatórios, que beneficia o governo. A proposta foi aprovada por 312 votos, quatro a mais do que o necessário. Caso a bancada pedetista altere a tendência de apoio à medida, o risco de uma nova derrota de Bolsonaro é iminente, na Casa.
Nas redes, o partido foi bastante criticado pela ala da oposição. “Em 2018, três dos quatro candidatos do PDT a governador que foram para o segundo turno declararam voto em Bolsonaro.”, escreveu o ex-prefeito Fernando Haddad (PT).
De acordo com o texto aprovado, que vem sendo chamado de PEC do calote dos precatórios, os pagamentos das dívidas da União relativas ao antigo Fundef deverão ser quitados com prioridade em três anos: 40% no primeiro ano e 30% em cada um dos dois anos seguintes. Essa prioridade não valerá apenas contra os pagamentos para idosos, pessoas com deficiência e portadores de doença grave.
Apoio externo
A iniciativa de Ciro Gomes (PDT) de suspender sua candidatura em função de seu partido ter sido a peça fundamental para aprovar a PEC dos Precatórios na Câmara dará força para derrubar “o projeto na continuidade de sua tramitação”, segundo o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP).
“A firme e corajosa negativa de @cirogomes à PEC do Calote contribui imensamente para derrotar o projeto. Além disso, pode inspirar outros presidenciáveis a se engajarem pela reversão de votos. Se acontecer, viraremos o jogo, mais uma vez apostando na frente ampla antibolsonaro”, repercutiu o deputado, no Twitter, ainda pela manhã.
Ao longo do dia, o presidenciável e seu partido têm sido alvos de críticas, uma vez que quatro dos cinco deputados do PDT eleitos no Ceará, Estado da família Gomes, votaram “sim”. Nas redes, jornalistas, políticos, analistas e influenciadores foram críticos à posição do PDT.
Estrago
Haddad afirmou, ainda, que o partido de Ciro pode ter viabilizado a reeleição de Jair Bolsonaro à Presidência da República.
“Hoje, o partido assinou um cheque de R$ 90 bi para viabilizar sua reeleição. Não sei se tem conserto. Estrago monumental”, acrescentou Haddad, ao lembrar o alinhamento do PDT com o atual governo.
O deputado federal José Guimarães (PT-CE) também foi crítico à postura dos colegas pedetistas. “Após um dia de tanto trabalho, ver o PDT votando com o governo é uma decepção sem fim. A Câmara vai dar ao Bolsonaro R$ 90 bilhões pra ele gastar de forma secreta, enquanto deixa mais de 23 milhões de brasileiros passando fome. Esse governo é um genocida e quem o apoia pior ainda”, concluiu.