Rio de Janeiro, 17 de Junho de 2025

Brasil apela à China para não parar campanha de vacinação

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Quarta, 10 de Março de 2021 às 07:41, por: CdB

 

Governo Bolsonaro, que disse que jamais compraria vacina chinesa, admite que campanha pode parar e pede a Pequim outro imunizante, além da CoronaVac. Mensagem foi enviada a embaixador que presidente tentou remover.

Por Redação, com DW - de Brasília Reconhecendo que a campanha nacional de imunização contra a covid-19 corre o risco de ser interrompida no Brasil por falta de vacinas, o Ministério da Saúde enviou uma carta ao embaixador da China em Brasília pedindo que este interceda junto à estatal Sinopharm para liberar 30 milhões de doses de seu imunizante ao Brasil.
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Funcionária da Sinopharm inspeciona vacinas
Na carta enviada ao embaixador Yang Wanming, o secretário-executivo do ministério, Antônio Elcio Franco Filho, afirma que, diante da escassez da oferta internacional, o governo brasileiro vem buscando estabelecer contato com novos fornecedores, em especial a Sinopharm. "Nesse contexto, muito agradeceria os bons ofícios de Vossa Excelência para averiguar a possibilidade de a Sinopharm fornecer 30 milhões de doses da vacina BBIBP-CorV, em cronograma e preço a serem acordados, se possível, ainda para o primeiro semestre de 2021, com possibilidade de quantidades adicionais para o segundo semestre deste ano", diz a carta, datada na segunda-feira. O secretário-executivo da pasta ressaltou que o Brasil enfrenta a variante do coronavírus conhecida como P1, originária de Manaus e mais contagiosa. "O Ministério da Saúde está ciente da importância de conter essa cepa e de impedir que se espalhe pelo mundo, recrudescendo a pandemia. A principal estratégia brasileira para conter a pandemia e, em particular, essa variante P1 é intensificar a vacinação", afirma. A vacina da Sinopharm, chamada de BBIBP-CorV, tem eficácia 79,3% em evitar casos graves de covid-19, segundo a fabricante. Ela não foi comprada e nem estava entre as negociadas pelo Ministério da Saúde até o momento. A CoronaVac, jé em uso no país, também foi desenvolvida na China, mas por outra empresa, a Sinovac.

Histórico de conflitos

O pedido de auxílio vem em meio ao recrudescimento da epidemia de covid-19 no Brasil, com seguidos recordes de mortes, e a críticas sobre a lentidão da campanha de imunização. Ocorre ainda após uma série de atritos entre os governos do presidente Jair Bolsonaro e o chinês e críticas a vacinas contra a covid-19 provenientes da China. O embaixador chinês à qual a carta foi endereçada é o mesmo que o governo Bolsonaro já pediu duas vezes para ser trocado após conflitos. Os pedidos de troca não foram aceitos pelo governo chinês. Em março de 2020, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, declarou que a China era a culpada pela pandemia. No mês seguinte, o então ministro da Educação, Abraham Weintraub, insinuou que o país asiático teria ganhos com a disseminação do coronavírus Sars-Cov-2, causador da covid-19, e fez piada com o sotaque chinês. À época, o embaixador chinês em Brasília, Yang Wanming, manifestou repúdio e exigiu um pedido de desculpas por parte do governo brasileiro. Em outubro, Jair Bolsonaro afirmou categoricamente que não compraria a vacina chinesa CoronaVac, em claro embate com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que impulsionou o desenvolvimento da vacina da Sinovac, da China, em parceria com o Instituto Butantan. A seguir, Eduardo Bolsonaro acusou a China de fazer espionagem por meio de sua tecnologia de rede 5G. A embaixada reagiu novamente com repúdio.

Lira também recorreu à China

A carta do Ministério da Saúde ao embaixador chinês não foi o único pedido de ajuda do governo a Pequim nesta semana. Na terça-feira, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, também recorreu ao diplomata chinês. – Eu me dirijo ao governo chinês neste momento de grande angústia para nós brasileiros, para que nossos parceiros chineses tenham um olhar amigo, humano, solidário e nos ajudem a superar a pandemia, oferecendo os insumos, as vacinas, todo o apoio que este grande parceiro da China precisa neste grave momento – escreveu Lira, que é aliado de Bolsonaro. Além de vacinas produzidas na China, o Brasil depende de insumos importados do país para produzir imunizantes contra a covid-19, tanto a CoronaVac, produzida pelo Butantan, quanto a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela farmacêutica AstraZeneca, produzida localmente pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Até o momento a CoronaVac e a vacina de Oxford-AstraZeneca são as duas únicas em uso no Brasil. O imunizante desenvolvido pela americana Pfizer e pela alemã Biontech é o único a já ter registro definitivo na Anvisa, mas o governo ainda negocia o fornecimento de doses após recusar ofertas pela Pfizer desde o ano passado. Nesta segunda, Bolsonaro afirmou em reunião virtual com executivos da Pfizer que gostaria de fechar contrato para a compra de vacinas do laboratório diante da agressividade do coronavírus no Brasil. O Brasil registrou oficialmente 1.972 mortes ligadas à covid-19 nesta terça, segundo dados divulgados pelo Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass), a pior marca diária registrada desde o início da pandemia. A ocupação dos leitos de UTI do Sistema Único de Saúde (SUS) destinados a pacientes com covid-19 supera os 80% em 20 unidades da federação, de acordo com a Fiocruz. Segundo levantamento feito por um consórcio de veículos da imprensa brasileira, até esta terça-feira, 8,7 milhões de pessoas receberam ao menos uma dose de vacina contra a covid-19 no Brasil, o equivalente a 4,13% da população.
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