Jornalista ítalo-brasileiro teve carreira de mais de 70 anos, fundou algumas das principais revistas do país e criticava os rumos da imprensa na era digital.
Por Redação, com Agenda do Poder – de Brasília
O jornalista Mino Carta morreu na madrugada desta terça-feira, aos 91 anos, em São Paulo. A morte foi confirmada pela revista Carta Capital, da qual era fundador e diretor de redação. O profissional enfrentava problemas de saúde havia cerca de um ano e estava internado havia duas semanas na UTI do Hospital Sírio-Libanês.

Figura marcante na imprensa brasileira, Mino construiu uma trajetória de mais de sete décadas no jornalismo. Sua entrada na profissão ocorreu de forma quase acidental. Em 1950, quando o pai, o também jornalista Giannino Carta, recebeu a encomenda de artigos sobre a Copa do Brasil para jornais italianos, recusou a tarefa por detestar futebol. Foi o filho, então com 17 anos, quem assumiu o desafio de escrever.
— A partir daí, percebi que a felicidade não era tão cara e podia ser alcançada escrevendo — recordou Carta, em entrevista ao portal da Associação Brasileira de Imprensa, em 2008.
Carreira marcada por inovações editoriais
Aos 27 anos, Mino assumiu a direção da revista Quatro Rodas, da Editora Abril, mesmo sem saber dirigir ou distinguir um Volkswagen de uma Mercedes, como gostava de lembrar. O feito abriu caminho para uma sequência de empreendimentos jornalísticos que mudariam o panorama editorial brasileiro.
Foi um dos fundadores da revista Veja, em 1968, e da IstoÉ, em 1976. Também integrou a equipe responsável pela criação do Jornal da Tarde, em 1966, e do Jornal da República, em 1979. Em 1994, lançou a Carta Capital, publicação de viés crítico e independente, que consolidou sua marca pessoal no jornalismo.
Herança familiar e resistência política
Nascido em Gênova, na Itália, em 1932, Mino era a terceira geração de jornalistas na família. Seu avô materno, Luigi Becherucci, foi diretor do jornal genovês Caffaro, mas perdeu o cargo com a ascensão do fascismo. Já o pai, Giannino, foi preso em 1944 por se opor ao regime de Benito Mussolini e só escapou após uma revolta de carcereiros. Ao chegar ao Brasil, depois da Segunda Guerra, descobriu que o emprego que esperava já não existia.
Esse histórico de resistência marcou a visão crítica de Mino sobre política e imprensa. Ele sempre foi contundente em defender a busca pela verdade e a autonomia do jornalismo diante de pressões políticas e econômicas.
Adeus a um crítico das novas mídias
Mesmo ativo até os últimos anos, Mino Carta mantinha o hábito de trabalhar em sua máquina de escrever Olivetti, recusando computadores e outras tecnologias.
“Adepto da máquina Olivetti, Mino Carta abominava as novas tecnologias”, registrou a Carta Capital ao noticiar sua morte.
Em entrevista concedida em outubro passado ao escritor Lira Neto, deixou clara sua preocupação com os rumos da profissão:
— Em lugar de praticar um jornalismo realmente ativo, na busca corajosa pela verdade, a imprensa está sendo engolida e escravizada pelas novas mídias — lamentou.
Mino Carta deixa como legado não apenas a fundação de veículos de comunicação decisivos na história brasileira, mas também uma visão crítica e inquieta sobre o papel do jornalismo em tempos de transformações profundas.