Rio de Janeiro, 03 de Setembro de 2025

Mino Carta, ícone do jornalismo brasileiro, morre aos 91 anos

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Terça, 02 de Setembro de 2025 às 11:56, por: CdB

Jornalista ítalo-brasileiro teve carreira de mais de 70 anos, fundou algumas das principais revistas do país e criticava os rumos da imprensa na era digital.

Por Redação, com Agenda do Poder – de Brasília

O jornalista Mino Carta morreu na madrugada desta terça-feira, aos 91 anos, em São Paulo. A morte foi confirmada pela revista Carta Capital, da qual era fundador e diretor de redação. O profissional enfrentava problemas de saúde havia cerca de um ano e estava internado havia duas semanas na UTI do Hospital Sírio-Libanês.

Mino Carta, ícone do jornalismo brasileiro, morre aos 91 anos | Morre o jornalista Mino Carta
Morre o jornalista Mino Carta

Figura marcante na imprensa brasileira, Mino construiu uma trajetória de mais de sete décadas no jornalismo. Sua entrada na profissão ocorreu de forma quase acidental. Em 1950, quando o pai, o também jornalista Giannino Carta, recebeu a encomenda de artigos sobre a Copa do Brasil para jornais italianos, recusou a tarefa por detestar futebol. Foi o filho, então com 17 anos, quem assumiu o desafio de escrever.

— A partir daí, percebi que a felicidade não era tão cara e podia ser alcançada escrevendo — recordou Carta, em entrevista ao portal da Associação Brasileira de Imprensa, em 2008.

Carreira marcada por inovações editoriais

Aos 27 anos, Mino assumiu a direção da revista Quatro Rodas, da Editora Abril, mesmo sem saber dirigir ou distinguir um Volkswagen de uma Mercedes, como gostava de lembrar. O feito abriu caminho para uma sequência de empreendimentos jornalísticos que mudariam o panorama editorial brasileiro.

Foi um dos fundadores da revista Veja, em 1968, e da IstoÉ, em 1976. Também integrou a equipe responsável pela criação do Jornal da Tarde, em 1966, e do Jornal da República, em 1979. Em 1994, lançou a Carta Capital, publicação de viés crítico e independente, que consolidou sua marca pessoal no jornalismo.

Herança familiar e resistência política

Nascido em Gênova, na Itália, em 1932, Mino era a terceira geração de jornalistas na família. Seu avô materno, Luigi Becherucci, foi diretor do jornal genovês Caffaro, mas perdeu o cargo com a ascensão do fascismo. Já o pai, Giannino, foi preso em 1944 por se opor ao regime de Benito Mussolini e só escapou após uma revolta de carcereiros. Ao chegar ao Brasil, depois da Segunda Guerra, descobriu que o emprego que esperava já não existia.

Esse histórico de resistência marcou a visão crítica de Mino sobre política e imprensa. Ele sempre foi contundente em defender a busca pela verdade e a autonomia do jornalismo diante de pressões políticas e econômicas.

Adeus a um crítico das novas mídias

Mesmo ativo até os últimos anos, Mino Carta mantinha o hábito de trabalhar em sua máquina de escrever Olivetti, recusando computadores e outras tecnologias.

“Adepto da máquina Olivetti, Mino Carta abominava as novas tecnologias”, registrou a Carta Capital ao noticiar sua morte.

Em entrevista concedida em outubro passado ao escritor Lira Neto, deixou clara sua preocupação com os rumos da profissão:

— Em lugar de praticar um jornalismo realmente ativo, na busca corajosa pela verdade, a imprensa está sendo engolida e escravizada pelas novas mídias — lamentou.

Mino Carta deixa como legado não apenas a fundação de veículos de comunicação decisivos na história brasileira, mas também uma visão crítica e inquieta sobre o papel do jornalismo em tempos de transformações profundas.

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