No entanto, a determinação presidencial, na análise de observadores da cena política, é inócua. Com os acordos fechados entre o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL) para a governabilidade do próximo presidente, os pagamentos podem ser retomados ainda em janeiro.
Por Redação - de Brasília
Presidente em fim de mandato, Jair Bolsonaro (PL) determinou, nesta quinta-feira, a suspensão do pagamento das emendas de relator, do conhecido ‘Orçamento secreto’, após ex-aliados no Congresso manterem diálogo com o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A ordem direta do Palácio do Planalto é a de não pagar “mais nada” neste ano, segundo apurou a reportagem do Correio do Brasil.
Bolsonaro e Arthur Lira (PP-AL) já foram mais próximos do que agora, quando o mandatário foi derrotado
No entanto, a determinação presidencial, na análise de observadores da cena política, é inócua. Com os acordos fechados entre o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL) para a governabilidade do próximo presidente, os pagamentos podem ser retomados ainda em janeiro. Mas o objetivo da medida foi o recado a Lira, que perde por ora a capacidade de honrar os acordos feitos para garantir a reeleição.
Na prática, contudo, Bolsonaro deixa para Lula o desgaste político de manter o “toma lá, dá cá” que condenou na campanha; além do desembolso bilionário de recursos, já a partir de janeiro de 2023, para consolidar sua relação com as duas Casas do Legislativo.
Comando
A ordem de Bolsonaro acontece justamente no dia seguinte ao anúncio de que o PT fechou apoio à reeleição de Lira; além de apoiar a recondução de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) ao comando do Senado. Ambos foram eleitos com o aval de Bolsonaro e definem a distribuição do orçamento secreto.
Do total de R$ 16,5 bilhões reservados para o ‘Orçamento secreto’ neste ano, R$ 7,8 bilhões foram bloqueados pelo governo. Líderes do Congresso agiam para destravar os recursos e pressionavam o Planalto, mas foram pegos de surpresa por dois atos publicados no Diário Oficial da União, nesta quinta-feira.
Bolsonaro mandou suspender o pagamento do ‘Orçamento secreto’ no mesmo dia em que Lula se reuniu com Lira e com Pacheco, separadamente. Para tanto, argumentou que faltam recursos para outras áreas, com os sucessivos bloqueios que o governo precisou fazer para cumprir o teto de gastos, regra que atrela o crescimento das despesas à alta dos preços.
Mau humor
A ‘vendeta’ do mandatário, todavia, é apenas mais uma face do mau humor que o domina desde a derrota, nas urnas, há um mês. Ainda nesta manhã, assessores do Itamaraty confirmaram a informação veiculada pela mídia brasiliense quanto ao comparecimento de Bolsonaro ao seu último compromisso internacional, antes de entregar o cargo ao novo presidente.
Bolsonaro cancelou sua presença na cúpula dos chefes de Estado do Mercosul, que acontecerá na próxima quarta-feira, em Montevidéu. A reunião seria a última agenda internacional prevista para Bolsonaro antes do término de seu mandato, em 31 de dezembro deste ano.