Rio de Janeiro, 22 de Julho de 2025

Base bolsonarista se esfacela depois da derrota assumida em carta

Arquivado em:
Sexta, 10 de Setembro de 2021 às 13:37, por: CdB

Além de divulgar a nota, Bolsonaro conversou brevemente por telefone com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, em um contato intermediado pelo ex-presidente Michel Temer, que também ajudou a redigir o documento.

Por Redação, com RBA - de Brasília
A base mais radical dos apoiadores de Jair Bolsonaro não recebeu bem a carta assinada pelo presidente nesta quinta-feira, intitulada "Declaração à Nação" e com um tom de recuo após ele ter ameaçado o Supremo Tribunal Federal (STF), nos atos de 7 de Setembro.
bolso.jpg
Jair Bolsonaro ficou sem munição perante seus apoiadores, após assumir a derrota
Além de divulgar a nota, Bolsonaro conversou brevemente por telefone com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, em um contato intermediado pelo ex-presidente Michel Temer, que também ajudou a redigir o documento. Moraes tem sido o alvo preferencial dos bolsonaristas, pois é relator de inquéritos que investigam o presidente e seus aliados por atos contra as instituições democráticas, e determinou ações de busca e apreensão e prisões contra alguns deles. Para a base de Bolsonaro, essas decisões de Moraes seriam inconstitucionais e arbitrárias.

‘Desculpa’

Uma parte dos apoiadores decepcionados do presidente torcia para que os atos de 7 de Setembro culminassem num golpe contra o Supremo ou que no mínimo fossem usados por Bolsonaro como uma carta para intimidar outros Poderes. Ao publicar a nota, no entanto, Bolsonaro enfraqueceu a narrativa da força das manifestações. Um dos apoiadores do presidente que criticou a nota foi o comentarista bolsonarista Rodrigo Constantino, que viu demonstração de fraqueza no gesto de Bolsonaro. No Twitter, ele escreveu que a nota parecia um "pedido de desculpa" e que com ela "Bolsonaro pode ter assinado sua derrota”. Como é comum na base de apoio do presidente, ele recorreu a uma metáfora bélica para analisar o episódio. "Meu pai sempre me disse sobre ter armas: filho, se sacar, tem que estar disposto a puxar o gatilho. Eu tenho uma pistola pois sei que puxaria o gatilho para proteger minha propriedade e minha família. Mostrar arma e não atirar, ou puxar um revólver sem bala, isso é mortal", escreveu Constantino.

Publicidade

O ativista Allan dos Santos, do site Terça Livre, que já foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por ameaças ao ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), disse que a nota do presidente significava "game over”. O Terça Livre é uma das páginas que foram desmonetizadas por ordem do corregedor-eleitoral do TSE, ministro Luís Felipe Salomão, que em agosto determinou a plataformas de internet que não repassem a esses sites verbas obtidas com a veiculação de publicidade. Santos compartilhou um vídeo que circulou nas redes sociais da passagem da faixa presidencial no dia da posse de Bolsonaro, mas reproduzido no sentido reverso, mostrando Temer pegando a faixa de Bolsonaro. "A nota foi horrorosa e uma confissão de bravata", escreveu Santos.

Crítica

Santos também usou o Twitter para se defender de críticas que sofreu dentro do campo bolsonarista e disse que a base do presidente não poderia abrir mão de seu senso crítico interno. "'Emocionado' virou o adjetivo para a anulação completa de senso crítico na base que não deseja de modo algum que o presidente saia do poder. Já aviso que isso só destrói a base. Nenhum grupo vive de fé na pobre natureza humana: foi na crítica interna que a esquerda CRESCEU", diz ele. Parte da base do presidente avalia que Santos, Constantino e outros se precipitaram ao criticar a nota de Bolsonaro. Segundo essa parcela dos bolsonaristas, o documento teria sido um recuo tático em um jogo de xadrez para preservar a sua posição e aguardar o momento certo do próximo lance. "É preciso ter senso crítico sim e, principalmente, PACIÊNCIA pois sabemos que o jogo precisa ser muuuiiiito bem pensado antes do xeque mate", respondeu uma seguidora de Santos.

‘Não-beligerância’

Alguns bolsonaristas se baseavam em uma análise divulgada pelo jornal online Brasil Sem Medo, vinculado ao ideólogo do presidente, Olavo de Carvalho, a respeito de um suposto pacto de "não-beligerância" segundo o qual a nota de Bolsonaro se inseriria em um acordo para que o inquérito sobre os atos antidemocráticos que tramita no Supremo deixe de ser conduzido por Moraes e que o Congresso aprove uma emenda à Constituição que reduziria o escopo de ação do Supremo. Muitos apoiadores do presidente fizeram nas redes sociais referência a um "xadrez 4D", em quatro dimensões, que estaria sendo jogado por Bolsonaro à espera do novo momento para avançar em sua estratégia. "Dia 7 atacou com o cavalo. Dia 9, protegeu a torre. Os bispos estão aguardando a próxima jogada do inimigo que não esperava essa jogada. Xadrez 4 D a todo vapor", escreveu um perfil de apoio ao presidente. Constantino ironizou as referências ao termo: "Se era xadrez 4D, parece que Bolsonaro tomou um xeque-mate de uma rainha tridimensional", concluiu.
Edições digital e impressa
 
 

 

 

Jornal Correio do Brasil - 2025

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo