Já era esperado, desde que Donald Trump virou presidente dos Estados Unidos, que o petróleo da Venezuela virasse o foco do vizinho do Norte. A maior reserva do mundo enterrada ali, na porta dos fundos dos EUA, não poderia ser de um país independente, com governo soberano, que não entrega suas riquezas assim, facilmente.
Por Jaime Sautchuk - de São Paulo Por sorte de Trump, desde então houve eleições na Colômbia e Brasil, os mais importantes vizinhos da Venezuela, e governos de direita, vassalos dos EUA, assumiram o poder nesses dos países. Por azar dele, porém, o governo bolivariano de Nicolás Maduro tem dado sucessivas demonstrações de que tem força e unidade, contando com maciço apoio da população.Fronteiras
A fronteira com a Colômbia pega todo o lado Oeste da Venezuela, até seguir o rio Cassiquiare, defluente do Orinoco, e descer no rumo Sul até se encontrar com o Rio Negro, já na tríplice fronteira com o Brasil, numa extensão total de 2.050 km. Ali está a pequena vila de Cucuí, onde há uma guarnição do Exército Brasileiro. As fronteiras colombiana e brasileira são, em grande parte, na floresta da Planície Amazônica. Na sua ala final, a com a Colômbia ocupa a Cordilheira dos Andes e a com o Brasil chega ao Sistema Parima de Serras, onde se situa o Pico da Nebrina e o monte Caburai, o ponto mais setentrional do país, no lado brasileiro. No lado venezuelano, está a cachoeira de El Angel, a mais extensa queda livre do mundo, com 1.072 metros. A parte de planície, que no lado brasileiro tem 1.000 km é bastante complicada, especialmente em períodos mais chuvosos, como o atual, pois o terreno é muito molhado. O acesso principal é por rios, mas a infraestrutura é precária em toda a região, ocupada principalmente por grupos indígenas, alguns dos quais completamente isolados, e por populações tradicionais. É certo que, na parte da Colômbia, há várias cidades, de ambos os lados. No rumo do Brasil, a última delas, de porte mais avantajado, é San Felipe, que nos últimos anos antes do armistício, esteve sob o controle das Forças Armadas Revolucionárias (FARC), o movimento guerrilheiro que durante 50 anos travou luta contra os sucessivos governos do país e controlava perto de 30% de seu território. O autoproclamado “presidente interino” da Venezuela, Juan Guaidó, sofreu duas pesadas derrotas nos últimos dias. A primeira foi no sábado mesmo, quando contrariou as leis de seu país e foi à Colômbia, tentar apoios pra receber a “ajuda humanitária” enviada por seus orientadores nos EUA. Ficou com meia dúzia de gatos pingados e a deserção de militares que o apoiassem não passou de sete soldados que se refugiaram no Brasil, sem ele. A outra foi na segunda-feira, 25, quando o chamado Grupo de Lima, formado por chefes de governos de direita na América Latina, reunido em Bogotá, sequer concordou com a proposta do vice-presidente dos EUA, Mike Pence, de uso de força militar contra Maduro. O vice de Trump foi além, ameaçando os demais países do agrupamento, mas não obteve retorno positivo deles. Neste aspecto, o vice-presidente brasileiro, general Mourão, manteve a firme posição de não intervenção militar. Em diversas ocasiões, inclusive no discurso que faz na reunião, ele se contrapôs ao conhecido falatório do atual presidente brasileiro, afirmando que “a Venezuela faz o que quiser na fronteira dela” e que o Brasil irá lutar pra que a crise venezuelana seja resolvida “pelo diálogo, não pelas armas”. Na prática, o general brasileiro lançou um balde de água fria no incandescente espírito do fracassado Guaidó, que sonhava voltar a Caracas “nos braços do povo”, mas viu que a realidade de seu país é bem diferente do que ele prega. Agora, com fronteira fechada, terá de ficar na Colômbia e negociar e se explicar à justiça de seu país, se quiser voltar pra casa. Jaime Sautchuk, é jornalista.As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil