Rio de Janeiro, 05 de Setembro de 2025

Amazônia, cactus em lugar de árvores?

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Quinta, 04 de Setembro de 2025 às 17:26, por: Rui Martins

A primeira página do jornal suíço Le Temps, sobre uma foto mostrando fumaça e chamas queimando árvores, pergunta: Na Amazônia, os cactus suplantarão as árvores?

Essa pergunta decorre de um estudo publicado esta semana, na revista Nature Communications, revelando as desastrosas consequências climáticas da desflorestação da região, acompanhadas de uma diminuição constante das chuvas e da umidade. A consequência será uma gradativa passagem para o clima semi-árido do Nordeste, com a substituição das árvores frondosas por moitas de cactus, areia e poeira.

Por Rui Martins, editor do Direto da Redação.
Amazônia, cactus em lugar de árvores? | A criação de gado e a plantação de soja vão acabar com as florestas na Amazônia.
A criação de gado e a plantação de soja vão acabar com as florestas na Amazônia.

O desmatamento tinha mostrado uma ligeira diminuição na região amazônica, logo depois da eleição de Lula, mas voltou a crescer desde a metade do ano passado, com o retorno de queimadas criminosas com o objetivo de conquistar e preparar o terreno para imensas pastagens para gado. A alimentação desse gado exige também vastas áreas de plantio de soja, uma parte destinada à exportação.

Um outro estudo já havia sido divulgado, no ano passado, no qual se previa o risco de um ponto de não retorno, por volta de 2050, em grande áreas da região amazônica, com desequilíbrio do ecossistema e mudança climática. Assim, a região amazônica deixará de ser uma importante reguladora climática e perderá sua condição atual de preservadora da reserva da biodiversidade.

Faltando dois meses para a COP 30, a Conferência internacional de Belém, organizada pela ONU, sobre as mudanças climáticas, essas notícias preocupam, pois o desmatamento coincide com outros sinais preocupantes: o visível derretimento das geleiras no alto das montanhas em todo mundo, seguido por deslizamentos de encostas de montanhas, provocado por tempestades com chuvas em excesso, mais a tendência de aumento do nível dos mares com borrascas e temporais nas orlas marítimas.

De acordo com RTBF (televisão belga) a Floresta Amazônica não é mais o pulmão do mundo do mundo há dez anos, pois ela emite mais carbono do que absorvia, tendo perdido mais de 11 mil km2 de sua superfície arborizada nos últimos três anos, cerca de 17% da área nativa. À medida que avança o desmatamento, a área vai sendo ocupada por savanas e aumenta a temperatura por falta da umidade antes gerada pelas chuvas nas florestas. Assim, a previsão é a de que até 2035, haverá um aumento de 2,6 graus na temperatura da região, gerando seca e uma vegetação de cactus e caatinga, parecida com a do Nordeste.

Essa situação de seca se estenderá também às regiões vizinhas, diminuindo o volume de água nos rios, podendo afetar o fornecimento de água potável nas cidades próximas. O centro e o sul do Brasil também serão afetados com temperaturas mais elevadas. Já existem cidades paulistas onde os criadores de gado têm problemas com a água necessária para seus rebanhos. Para impedir o agravamento dessa situação só há uma solução: parar com o desflorestamento na Amazônia.

Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.

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