Rio de Janeiro, 26 de Junho de 2025

Alegria de palestinos com cessar-fogo diminui com ruínas e escavações

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Terça, 21 de Janeiro de 2025 às 15:23, por: CdB

A trégua entrou em vigor no domingo, após 15 meses de conflito, com a entrega dos três primeiros reféns mantidos pelo Hamas e a libertação de 90 palestinos das prisões israelenses.

Por Redação, com Reuters – de Gaza

A pé ou em riquixás, palestinos exaustos pela guerra em Gaza começaram a retornar às ruínas de suas casas no terceiro dia de um cessar-fogo entre Israel e o Hamas, chocados com a destruição total.

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Alegria de palestinos com cessar-fogo em Gaza diminui com ruínas e escavações em busca de mortos

A trégua entrou em vigor no domingo, após 15 meses de conflito, com a entrega dos três primeiros reféns mantidos pelo Hamas e a libertação de 90 palestinos das prisões israelenses.

Agora, a atenção se volta para a reconstrução do enclave costeiro, reduzido a vastas extensões de escombros pelo Exército israelense em sua campanha para eliminar o Hamas, em retaliação ao ataque do grupo militante a Israel em 7 de outubro de 2023.

Alguns habitantes de Gaza não conseguiam nem mesmo reconhecer onde moravam e deram as costas aos bairros destruídos para voltar às barracas onde se abrigaram nos últimos meses. Outros começaram a limpar os escombros para tentar voltar aos destroços de suas casas.

– Estamos limpando a casa e removendo os escombros para podermos voltar para casa. Esses são os edredons, travesseiros, nada foi deixado na casa – disse a palestina Walaa El-Err, apontando para seus pertences destruídos durante bombardeio em Nuseirat, um campo de refugiados com décadas de existência no centro de Gaza.

Segundo ela, a sensação de retornar ao bairro era “indescritível”. Ela disse que ficou acordada a noite toda no sábado esperando que a trégua entrasse em vigor no dia seguinte. Mas o otimismo em torno da notícia de um cessar-fogo se desvaneceu.

– Quando entrei no acampamento, chorei, pois nosso acampamento não era assim, era o melhor. Quando saímos, todas as torres (e) casas ainda estavam intocadas, e nenhum dos vizinhos havia sido morto – lamentou.

Na Cidade de Gaza, no norte do enclave, Abla, mãe de três filhos, esperou algumas horas para se certificar de que a trégua seria mantida no domingo, antes de ir para sua casa no subúrbio de Tel Al-Hawa, demolida por bombardeios e ofensivas terrestres israelenses.

A cena era “horrível”, disse ela, pois o prédio de sete andares havia sido arrasado, “esmagado como um pedaço de biscoito”.

– Ouvi dizer que a área foi duramente atingida e que a casa poderia ter desaparecido, mas fui movida tanto pela dúvida quanto pela esperança de que ela poderia ter sido salva – disse ela à agência inglesa de notícias Reuters por meio de um aplicativo de bate-papo.

– O que encontrei não foi apenas uma casa, mas uma caixa de lembranças, onde tive meus filhos, comemorei suas festas de aniversário, fiz comida para eles e lhes ensinei suas primeiras palavras e movimentos – disse.

Algumas pessoas montaram barracas ao lado dos escombros de suas casas ou se mudaram para casas destruídas, perguntando-se quando deve começar a reconstrução.

Uma avaliação de danos das Nações Unidas divulgada neste mês mostrou que a limpeza de mais de 50 milhões de toneladas de escombros deixados após o bombardeio de Israel poderia levar 21 anos e custar até US$ 1,2 bilhão.

Para piorar a situação, é possível que alguns dos escombros estejam contaminados com amianto, pois alguns dos campos de refugiados devastados de Gaza, transformados em cidades desde a década de 1940, foram construídos com esse material.

As autoridades de saúde de Gaza afirmam que pelo menos 47 mil pessoas foram mortas no conflito, e que os escombros provavelmente contêm os restos mortais de milhares de outras.

Um relatório do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas afirma que o desenvolvimento em Gaza sofreu um retrocesso de sete décadas devido à guerra.

– Eles (os habitantes de Gaza) podem voltar para casa. … É um pouco exagerado, eu diria, chamar isso de lares, porque na maioria das vezes, especialmente no norte, eles encontram montanhas de entulho. Portanto, eles precisam de ajuda com isso – disse Jens Laerke, porta-voz do escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários, em uma coletiva de imprensa em Genebra nesta terça-feira.

Escavação de corpos

Equipes de resgate palestinas continuavam a busca por restos mortais de habitantes de Gaza enterrados sob os destroços de casas e ao longo das estradas, localizando pelo menos 150 corpos desde que a trégua entrou em vigor, de acordo com o serviço de emergência civil de Gaza.

Imagens chocantes de corpos em decomposição se espalharam nas mídias sociais. No cemitério de Shejaia, que havia sido arrasado por tanques e escavadeiras israelenses nos meses anteriores, vários homens cavaram o solo em busca dos túmulos de seus parentes.

– Tenho procurado e procurado o túmulo de meu pai, o túmulo de meu irmão e o túmulo da esposa de meu irmão, e não consigo encontrá-los – disse Atef Jundiya, no cemitério da Cidade de Gaza.

“Quero dizer, estamos aliviados com o cessar-fogo, mas, ao mesmo tempo, ainda estamos procurando nossos mártires e procurando nossos túmulos e não conseguimos encontrá-los”, disse Jundiya à Reuters.

O serviço de emergência civil estima que 10 mil corpos permaneçam sob os escombros, solicitando maquinário pesado e veículos de terraplanagem para ajudar no processo de extração, que segundo expectativas das autoridades deve levar vários meses.

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