Acerto com deputados teria custado cerca de R$ 12 bilhões em verbas públicas e vantagens aos deputados.
Por Redação - de Brasília
Presidente de facto, Michel Temer reservou esta terça-feira para os acertos finais antes da votação, pela Câmara dos Deputados, da segunda denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR). As portas do Palácio do Planalto estiveram abertas aos parlamentares “interessados em conversar”, disse um aliado do peemedebista. Em um jantar para 100 deputados, casa do vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho (PMDB-MG), o suspeito de liderar uma quadrilha e obstruir a Justiça fez os ajustes finais.
Na noite passada, Temer reuniu no Palácio da Alvorada alguns líderes da base aliada. Fizeram um último levantamento da situação dos votos e das pendências com a base.
— Nós não tratamos desse ou daquele caso específico, mas levantamos os números e falamos onde vemos essa ou aquela insatisfação — admite o vice-líder do governo, Beto Mansur (PRB-SP).
Sob controle
No encontro com líderes, Temer se ofereceu para conversar pessoalmente durante toda esta terça-feira com deputados indecisos; ou aqueles que ainda têm questões pendentes com o esquema. Na agenda oficial, apenas despachos internos marcados para às 10h; mas, na realidade, os compromissos eram outros.
Temer objetiva 263 votos a favor, mesmo placar obtido na primeira denúncia. A avaliação, até a semana passada, era de que o Planalto poderia perder cerca de 20 votos. O fato levou-o a concentrar esforços. A ordem era tentar reverter a debandada.
As conversas, porém, sugerem que cada um dos interlocutores teve seu valor. Segundo Mansur, que coordena o levantamento de votos na Câmara, “a situação já está sob controle”. Depois das conversas de segunda-feira, o governo teria entre 260 e 270 votos. Esse número, porém, pode ficar acima das expectativas.
Benesses
Mas Temer não parou de cabalar votos. O jantar desta noite, na casa de Ramalho com outros 100 deputados, tem objetivo certo.
— Eu sempre faço dois grandes jantares por semestre e convido o presidente (de facto) — disse o deputado. Ele negou, porém, que a data tenha sido escolhida por ser a véspera da votação. Na noite anterior à análise da primeira denúncia pelo plenário, Temer também jantou com parlamentares na casa de Ramalho.
Estas negociações de Temer com os deputados envolveram, “ao menos R$ 12 bilhões — além de cargos e benesses de valor inestimável, como a mudança no combate ao trabalho escravo”, denunciou o principal diário conservador carioca.
“Só de emendas parlamentares pagas desde o início de setembro foram R$ 881 milhões. Mas houve ainda uma frustração de receita com o novo Refis, estimada até o momento em R$ 2,4 bi; a desistência de privatizar Congonhas no ano que vem, cuja outorga era estimada em R$ 6 bi, e, por fim, a possibilidade de abdicar de R$ 2,8 bi com a anistia de parte das multas ambientais prevista no decreto editado na segunda-feira”, prossegue.
Muitos bilhões
A votação da segunda denúncia levou o Palácio do Planalto a “acelerar a liberação de recursos para o empenho de emendas parlamentares obrigatórias desde setembro. Foram R$ 881,3 milhões em menos de dois meses, sendo R$ 607,9 milhões apenas nos primeiros 21 dias de outubro; e R$ 273,4 milhões em setembro. No final da semana passada, grandes volumes foram liberados para deputados e senadores: R$ 122,4 milhões na sexta-feira e ainda R$ 53,2 milhões no sábado, segundo os dados da Comissão Mista de Orçamento (CMO)”, contabiliza.
“Desde a primeira denúncia, o governo já empenhou R$ 5,1 bilhões, sendo R$ 4,28 bilhões apenas com os 513 deputados. Na prática, já foi gasto quase tudo do que está previsto para o ano, que é de R$ 6,1 bilhões com o contingenciamento. Mas Temer resolveu ampliar a promessa e, segundo aliados, quer esquecer este contingenciamento”.
Desta forma, segundo o jornal, poderá retomar o valor original destinado às emendas parlamentares. O total é de R$ 9 bilhões no Orçamento de 2017. “Se Temer fizer isso, cada um dos 513 deputados e 81 senadores vai ganhar uma cota de R$ 15 milhões e não os R$ 10,7 milhões fixados depois do corte”, conclui.