Entre velas, pranto e um respeitoso silëncio, milhares de pessoas visitaram as valas comuns onde foram enterradas as vítimas do tsunami que causou a morte ou o desaparecimento de cerca de 230 mil pessoas há exatamente dois anos. Com dois minutos de silêncio, nesta terça-feira, milhões de asiáticos lembraram a onda gigante que pulverizou aldeias inteiras no litoral do oceano Índico. Em Ulee Lheue, em Aceh, a província Indonésia mais atingida pelo maremoto daquela ensolarada manhã de domingo, em uma mesquita, o imã Usman Dodi disse aos fiéis que o tsunami foi um alerta religioso.
- Por favor, perdoe as pessoas que nos deixaram por terem feito coisas erradas - rezou o clérigo muçulmano, voltando a um sermão que alguns líderes pregaram após o desastre, que matou 169 mil pessoas e deixou meio milhão de desabrigados no norte da ilha de Sumatra.
A mesquita de Ulee Lheue, à beira-mar, se tornou um símbolo da devastação provocada por um dos piores desastres naturais da história. O prédio foi o único que restou em pé depois do tremor de magnitude 9,1 que rompeu o leito marinho, próximo ao extremo norte de Sumatra, desencadeando as ondas que atingiram dezenas de países banhados pelo Índico à velocidade de um trem.
Guerra civil
Ao contrário de Aceh, onde o desastre levou a um histórico acordo de paz numa insurgência que durava três décadas, a data passou despercebida em regiões do Sri Lanka controladas por rebeldes. A retomada de uma guerra civil iniciada há duas décadas levou milhares de pessoas da etnia tâmil, inclusive sobreviventes do tsunami, a fugirem para outras casas e campos de refugiados pela segunda vez em dois anos.
- Não há muito a mostrar em termos de reconstrução. Não há muito a comemorar quando quase não se avançou nem uma polegada. O tsunami poderia ter significado uma guinada no conflito, caso ambas as partes concordassem em um pacto de compartilhamento da ajuda. Ao invés disso, (a ajuda) se tornou outro ponto de divisão - disse uma autoridade ocidental envolvida na operação humanitária em Sri Lanka.
Simulação
Na ilha de Bali, na Indonésia, milhares de pessoas participaram, nesta terça-feira, de uma simulação de evacuação para marcar dois anos da ocorrência do tsunami na Ásia. O objetivo do exercício foi preparar a população local para emergências e testar nova tecnologia. Para atrair a participação do público para a simulação em Bali, os organizadores realizaram um show. A simulação começou com o soar de sirenes aunciando um tsunami, depois do show. O exercício envolveu ainda alertas em tempo real enviados de Jacarta para rádios na praia.
Em Aceh, muita gente visitou mesquitas e túmulos. A Federação Internacional da Cruz Vermelha disse que vários vilarejos na região continuam vulneráveis a desastres. O porta-voz, John Sparrow, disse que "há muito pouco em termos de barreira entre as comunidades e o mar, e mesmo sem uma tsunami, marés altas estão entrando nas plantações de arroz e destruindo o cultivo".
No sul da Tailândia, sobreviventes e parentes de vítimas se reuniram para lançar flores ao mar em homenagem aos 5,4 mil mortos com o tsunami - a maioria deles, turistas. Monges budistas realizaram orações e pessoas acenderam velas nas praias em cerimônias ao longo da costa de Andaman. Também foi inaugurado um cemitério para centenas de vítimas não-identificadas.
Em Sri Lanka, o presidente Mahinda Rajapakse inaugura nesta terça-feira uma estátua gigantesca de um Buda em Peraliya, onde até mil pessoas morreram quando gingantescas ondas atingiram um trem, no pior desastre ferroviário do mundo.
Veículos em todo o país pararam para realizar dois minutos de silêncio em homenagem às vítimas do acidente, no momento em que, dois anos atrás, as ondas atingiram a área.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, fez um apelo nesta terça-feira para que a devastação do tsunami não seja ag