A primeira resolução importante da Assembléia Mundial da Saúde, em Genebra, foi relacionada com a futura vacina contra o coronavírus, Covid-19, e decepcionou os que esperavam uma gratuidade para todos.
Rui Martins,correspondente do CdB em Genebra
Pressão de Trump sobre a Assembléia Mundial da Saúde impediu uma gratuidade da futura vacina (foto OMS)
Sob pressão dos Estados Unidos, com apoio da Suíça e dos grandes laboratórios farmacêuticos, os participantes da Assembléia - pela primeira vez online, sem a presença dos representantes dos 194 países membros da Organização Mundial da Saúde - chegaram a um acordo pelo qual as leis do mercado predominam sobre a solidariedade internacional, assim que for criada uma vacina para o vírus Covid-19.
Em lugar de gratuidade, surgiram dois termos próximos - deverá haver um acesso equitável e abordável à vacina, tão logo seja encontrada a mais segura e confirmada sua eficácia. Além disso, a vacina deverá ser posta em prática e circulação quando for de qualidade, segura e rápida.
A gratuidade para a população só ocorrerá nos países de seguro saúde para todos, imagina-se neste caso o Brasil, onde outras importantes vacinas são encontradas nos postos de saúde. Deverá ser igualmente gratuita na França e na Inglaterra, porém deverá se pagar pela vacina nos Estados Unidos e na Suíça.
Uma variante será os países ricos pagarem mais, a fim de que os países pobres paguem menos e possam, assim, permitir a gratuidade da vacinação à sua população.
Depois da OMC a OMS
Depois da fragilidade anunciada da Organização Mundial do Comércio, agora é a vez da Organização Mundial da Saúde, por pressão do presidente americano Donald Trump que decidiu suspender por dois meses as contribuições dos EUA à OMS e poderá tornar permanente essa suspensão.
Uma deterioração das relações de Trump com a OMS, tendo como razão a participação da China, poderá implicar numa retirada dos EUA da organização. Entretanto, nem tudo é tão simples para Trump, pois o dirigente chinês prometeu, caso encontre rapidamente uma vacina contra o Covid-19, distribuí-la como um bem comum mundial.
Atualmente, apenas cinco grandes empresas farmacêuticas com suas 60 indústrias de produção são capazes de criar uma vacina, havendo 102 projetos de vacinas em pesquisas em todo mundo. Oito estão avançados em testes clínicos e dois já em fase final. Recentemente, um dos maiores pesquisadores em vacina, que trabalhava na Suíça, decidiu mudar para os EUA e levar seu know-how para uma empresa norteamericana.
Por Rui Martins, correspondente em Genebra.