Talvez a demonstração mais cabal do desastre causado pelos governos tucano e petista ao país seja o fato de que, assim como o dinamismo econômico passou a depender ainda mais da economia internacional, o próprio movimento interno da política brasileira passou a depender de mudanças no âmbito daquela economia. Tanto é que, se não houver um fato externo que impacte a economia brasileira, esta se manterá estável e, se não houver forte turbulência na economia, o atual equilíbrio político tenderá a manter-se inalterado.
Esta situação explica o paradoxo de vivermos uma crise econômica e política de grandes proporções, que, contudo, não se expressa na superfície da vida da Nação.
A eleição presidencial reforçou esse quadro, na medida em que os votos revelaram uma grande confiança do eleitorado na democracia parlamentar. A exposição pública da verdadeira farsa que constitui o processo eleitoral baseado no caixa 2, nos dossiês forjados, na compra e venda do tempo dos partidos na TV, não afetou o comparecimento eleitoral e a votação de candidatos notoriamente ligados à corrupção.
Baixa expectativa
Houve, contudo, mudanças importantes em relação ao comportamento popular nas eleições de 2002. Naquela ocasião, o voto foi entusiasmado, carregado de esperança, um voto dirigido ao corte de privilégios da classe dominante. Desta vez, o medo da volta de um setor mais á direita desta classe dominante ao poder foi a causa do voto. Não se acredita que o quadro possa ser substancialmente alterado e por isso, escolheu-se o mal menor.
Este é um dado importante, para o efeito da formulação de uma tática para o movimento popular: não parece razoável supor que o desempenho governamental venha a causar uma reversão de expectativas que, provocando uma queda abrupta da popularidade de Lula, abra espaço para a esquerda comandar um processo renovado de mobilização popular. Contraditoriamente, portanto, a baixa expectativa propicia ao Lula condições de governabilidade e de iniciativa política. Ele as usará, ora cooptando; ora jogando povo contra povo; ora criando factóides.
Obviamente, o cenário aqui desenhado, é bastante adverso, pois, embora a crise não se agrave a ponto de provocar reações mais fortes da massa popular, as condições para o desenvolvimento econômico e político do país estão sendo corroídas de forma implacável. À medida que o tempo passa, o funcionamento inercial do modelo em vigor se encarrega de concentrar renda; desindustrializar o país; desnacionalizar os principais ramos da economia; entregar o comando desta ao capital internacional.
Do mesmo modo, o decurso do tempo, além de representar o enorme sacrifício das populações marginalizadas, compromete a possibilidade de uma reação popular no futuro, pois despoja o povo até dos meios intelectuais para situar-se na realidade do país, submetendo-o completamente ao domínio do crime e do Estado burguês.
O único aspecto positivo que se pode discernir na situação refere-se à vantagem que o ritmo lento concede a uma esquerda dispersa, que precisa passar por um demorado e penoso processo de crítica do seu passado e de experimentação de formas de ação política novas, mais ajustadas à realidade concreta desse novo capitalismo que terá de enfrentar.
O desafio colocado para a esquerda é o de aproveitar esse tempo que a história nos dá para construir instrumentos mais eficazes de luta socialista e para estarmos mais preparados quando a conjuntura mudar.
Os movimentos populares
Tudo indica que a crise interna do PT está estancada. Alinhado de corpo e alma no campo dos "partidos da ordem", o PT ocupará a esquerda da coalizão governamental. Deste modo, embora sem assumir efetivamente posições de esquerda conseqüente, poderá, com o auxílio da propaganda, apresentar-se como a "esquerda positiva", a fim de barrar a "esquerda negativa".
No primeiro turno, os movimentos populares apoiaram L