Celso Lungaretti. jornalista, autor e frequente presença aqui no Direto da Redação, que foi um jovem resistente à ditadura militar, é um náufrago da utopia, como ele próprio se declara. Celso é um visionário que escreve todos os dias contando suas visões de um novo mundo sem desigualdades. Felizmente, ele é um sobrevivente daqueles anos de resistência, dos quais restaram alguns visionários, que não participaram das aventuras lulistas, que se agravam dia a dia com a ausência de uma autocrítica do PT, desacreditando hoje as bandeiras da verdadeira esquerda brasileira. E Celso se pergunta, poderá haver um novo Maio 68 na França? Greves dos ferroviários e dos aeroviários da Air France, descontentamento popular com um presidente liberal que se considera chefe de uma empresa, decepção dos aposentados cujos pagamentos foram diminuídos, poderiam levar a uma revolta, porém não vivemos mais em Maio 68, o individualismo minou a consciência social. Por que não imaginar um novo Maio 68, que chegasse ao Brasil como um tsunami e provocasse uma grande transformação política, distribuindo além da justiça social a cultura para as novas gerações, instrumento capaz de evitar - como diz o senador Cristovam Buarque - a violência e a nossa endêmica corrupção? (Nota do Editor, RM)
Por Celso Lungaretti, de São Paulo:
Da minha parte, torço exatamente para as manifestações se avolumarem a tal ponto que reeditem as jornadas de 1968, reatando os fios da História.
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Estará renascendo na França/2018... |
O Libération destaca que o prédio principal da Sciences-Po, escola na qual o presidente Emmanuel Macron se formou, foi tomado por estudantes contrários à ditadura macroniana.
E, mais reacionário ainda do que o Jair Bolsonaro, Le Figaro mancheteou o que torce muito para ver tornar-se realidade: Franceses divididos sobre uso da força para evacuar universidades.
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...a esperança que inspirou o mundo em 1968? |
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Uma nova esquerda despontou em 2013. E foi tratada a pontapés pela velha... |
Já em 1968, uma onda de paralisações em escolas de Paris evoluiu rapidamente para uma formidável greve geral, fazendo o presidente De Gaulle balançar no cargo, que só conservou graças à boia que o Partido Comunista Francês lhe atirou, mais interessado em manter sua liderança nas entidades sindicais do que em fazer a revolução.
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...que parece ter esquecido totalmente o próprio passado. |
Merecidamente, ao agir como fura-greves da nova Comuna de Paris (são marcantes as semelhanças entre o que propunham communards de 1871 e a pauta de seus congêneres de 1968, ambas, aliás, inspiradíssimas!), o PCF se condenou à insignificância. Os franceses não são tão condescendentes com relação às atuações desastrosas de seus partidos quanto os esquerdistas brasileiros...
E, nas manifestações contra o capitalismo e suas mazelas que vêm marcando a década atual, incluindo as jornadas de junho de 2013 no Brasil, a pulverização da vanguarda é uma característica comum. Não há força majoritária da esquerda as convocando e conduzindo, mas uma imensidão de células independentes imantadas pelas redes sociais.
Este título se revelará profético? |
Fazem lembrar as ondas revolucionárias que, segundo Marx, varreriam o mundo. Dá para imaginarmos que, com a agonia capitalista chegando ao ponto decisivo, uma crise do tipo da imobiliária de 2007/2008 possa não só evoluir para um clash como o de 1929, mas também gerar uma reação da sociedade equivalente à Primavera de Paris.
Direto da Redação é um fórum de debates editado pelo jornalista Rui Martins.