Derrota do peemedebista Michel Temer, por unanimidade no STF, fortalece Rodrigo Janot em seus últimos dias na PGR.
Por Redação - de Brasília
Derrotado por unanimidade no pedido de suspeição contra o procurador-Geral (PGR), Rodrigo Janot, o presidente de facto, Michel Temer, recebe a última flecha da acusação, desta vez por organização criminosa e obstrução de Justiça. A denúncia contém mais de 200 páginas e alcança toda a cúpula do PMDB.
Temer, no processo, é apontado como chefe do “quadrilhão do PMDB”, como o descreve Rodrigo Janot. Seria beneficiário, ainda, de propinas no valor de R$ 31,5 milhões. A cifra é apontada em investigação da Polícia Federal (PF). Entre os integrantes do bando criminoso estão presos os ex-deputados peemedebistas Eduardo Cunha (RJ), Geddel Vieira Lima (BA) e Henrique Eduardo Alves (RN). Seguem em liberdade o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o secretário de Governo, Moreira Franco. Ambos têm foro privilegiado.
Na denúncia, o delator Lúcio Funaro confessa que recebia por seu silêncio em régias quantias, pagas pela organização comandada por Joesley Batista, sócio do Grupo JBS. Ele gravou Temer no momento em que este assentia com a decisão de subornar o doleiro preso:
— É preciso manter isso, heim?!
Geddel na mira
Elo mais fraco na corrente que unia os suspeitos por assaltar os cofres da União, Geddel Vieira Lima teria chamado seus advogados, na manhã desta quinta-feira, para uma conversa no Presídio da Papuda. Fontes próximas ao processo disseram à reportagem do Correio do Brasil que ele estaria preocupado com a possível delação de um de seus cúmplices.
O ex-diretor-geral da Defesa Civil de Salvador (Codesal), Gustavo Ferraz (PMDB), preso há uma semana, confessou à PF que tem detalhes ainda inéditos sobre a ação da quadrilha.
Ferraz revelou dados sobre o trânsito de uma mala com notas de R$ 100, em São Paulo. Ele se disse "traído" por Vieira Lima. Este, por sua vez, já deixou transparecer que foi “abandonado” por seus colegas peemedebistas.
Mala de dinheiro
À PF, Ferraz disse que buscou uma mala suspeita em um endereço na capital paulista. O advogado afirmou que entregou a encomenda na residência de Geddel em Salvador, sem abri-la, conforme parte do depoimento vazado para a mídia conservadora.
Em novo e posterior depoimento, o ex-secretário do prefeito ACM Neto (DEM) identificou o carro usado no transporte de dinheiro sujo. Ele também descreveu o imóvel onde buscou o dinheiro e o avião que o transportou. A aeronave o aguardava no aeroporto. Ele relatou, ainda, que estava ao lado de Geddel quando este abriu a mala, em Salvador, e constatou o pagamento em pacotes de dinheiro. O ex-funcionário público relata, ainda, que uma parcela da propina seguiria para a cúpula do PMDB.
Um alívio
Recém-expulsa da legenda, a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) disse que se sente aliviada por deixar o partido. Segundo a parlamentar, "a preocupação do PMDB deveria ser provar que não é uma organização criminosa, um 'quadrilhão'".
“Eu estou longe de ser um problema para o PMDB. Sigo minha vida", afirmou ela, em nota.
A congressista foi afastada porque votou contra o impeachment de Dilma Rousseff, enquanto a direção do partido havia orientado parlamentares a aprovarem o afastamento da petista. Mas tanto o Ministério Público (MPDFT) como uma perícia do Senado inocentaram a presidente deposta pelo golpe.