Seguindo exemplo dos EUA, Berlim permite a ucranianos atacarem zonas de fronteira com armas que forneceu, para se defenderem. Até então, contraofensivas com equipamento ocidental eram tabu, por temor de uma escalada.
Por Redação, com DW – de Kiev
A Alemanha deu à Ucrânia carta branca para usar as armas que forneceu na defesa da metrópole de Kharkiv contra a Rússia: agora, as Forças Armadas ucranianas poderão também utilizá-las contra o território do país agressor, para se defender de ataques. Até então vigoravam limitações estritas quanto ao emprego desses armamentos em contraofensivas, por temor de provocar unilateralmente uma escalada no conflito.
– Nas últimas semanas, a Rússia preparou, coordenou e realizou ofensivas, sobretudo contra a província de Kharkiv, a partir de suas regiões na fronteira imediata (com a Ucrânia) – explicou nesta sexta-feira o porta-voz do governo, Steffen Hebestreit. Após deliberar com seus aliados mais próximos, “chegamos conjuntamente à conclusão de que a Ucrânia tem o direito garantido pelo direito internacional de se defender contra esses ataques”.
– Para tal, ela pode também empregar as armas fornecidas para esse fim, em consonância com suas obrigações legais internacionais, inclusive as fornecidas por nós. Embora o representante da Alemanha não tenha explicitado quais armas ficam liberadas, entram em questão o obuseiro PzH 2000 e o lançador múltiplo de foguetes Mars II, devido a seu alcance.
No âmbito da guerra de agressão iniciada em 24 de fevereiro de 2022, a Rússia abriu recentemente uma terceira frente de combate na região de Kharkiv, nordeste da Ucrânia, e vem bombardeando constantemente a capital regional homônima a partir de seu território.
Ao suspender algumas restrições ao emprego de armamentos que forneceu aos ucranianos, a Alemanha segue o exemplo recente dos Estados Unidos e da França. O anúncio de Berlim foi saudado por políticos nacionais de diversas alas.
“Neste momento não se pode ser previsível”
Na manhã desta sexta-feira, antes de se reunir em Praga com seus homólogos dos demais Estados-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock, defendera que a Ucrânia possa usar armas ocidentais contra posições russas atrás da fronteira.
Segundo a política verde, Kiev precisa fazer tudo para proteger a população de Kharkiv. Ninguém tem a intenção de agredir a Rússia, porém esta vem permanentemente atacando a Ucrânia de forma ilegal, observou; além disso não é sensato discutir em público cada detalhe da estratégia de guerra.
Na terça-feira, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, declarara: “Do ponto de vista do direito internacional, a Ucrânia tem todas as possibilidades para fazer o que faz.” Por outro lado, no Congresso Católico na cidade de Erfurt, nesta sexta, o chefe de governo alertou contra o perigo de que a guerra na Ucrânia se transforme numa guerra da Rússia contra a Otan.
A presidente da comissão de defesa do Bundestag (câmara baixa do parlamento alemão), Marie-Agnes Strack-Zimmermann, criticou o fato de o apoio do Ocidente à Ucrânia ser, no momento, excessivamente previsível e “nos tempos atuais não se pode ser previsível”.
Ela disse esperar que a atual dinâmica reavive a discussão sobre o fornecimento aos ucranianos de mísseis de cruzeiro alemães do tipo Taurus. Seu otimismo a esse respeito é moderado, mas, como demonstra o caso de Kharkiv, a situação muda constantemente, frisou Zimmermann.