Os exercícios serão realizados na cidade paranaense de Foz do Iguaçu e consistirão em simulação viva de realização de ajuda humanitária, informou o Exército Brasileiro por meio de seu Centro de Comunicação Social, nesta quarta-feira.
Por Redação, com Sputnik Brasil - de Brasília
Tropas do Exército Brasileiro (EB), ao lado de forças dos Estados Unidos, Nicarágua e Venezuela, iniciarão nos primeiros dias de agosto uma série de exercícios militares conjuntos com países do continente americano. A chamada Operação Paraná III será realizada no âmbito da Conferência dos Exércitos Americanos (CEA), que está sob a presidência brasileira no biênio 2022-2023.

Os exercícios serão realizados na cidade paranaense de Foz do Iguaçu e consistirão em simulação viva de realização de ajuda humanitária, informou o Exército Brasileiro por meio de seu Centro de Comunicação Social, nesta quarta-feira.
Hemisfério
As manobras contarão com a participação de especialistas de 16 países das Três Américas, mas somente sete deles realizarão envio de tropas regulares, entre eles o Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Uruguai e EUA. A realização dos exercícios é resultado de uma iniciativa do Brasil, que busca retomar papel relevante nos assuntos hemisféricos.
— Este é um gesto importante por parte do comandante do Exército Brasileiro, general Tomás Ribeiro Paiva, que busca se alinhar a agenda internacional do governo — disse a professora do curso de Defesa e Gestão Estratégica Internacional da UFRJ, Adriana Marques, à agência russa de notícias Sputnik Brasil.
Marques lembra, ainda, que desde a presidência de Michel Temer (2016-2018) as Forças Armadas brasileiras receberam carta branca para conduzir uma política externa própria, ainda que diferente daquela proposta pelo presidente Lula e seu assessor internacional, Celso Amorim.
— Os militares brasileiros sempre terão como foco a cooperação com os EUA e Europa Ocidental, considerados os países do 'Arco do Conhecimento’. Os militares precisam de um incentivo político para cooperar com a América Latina, como é o caso agora — pontuou.
Cenários
O fato de a Operação Paraná III reunir países com orientações ideológicas distintas não interfere na sua eficácia, acredita a analista internacional.
— Os países participam desses exercícios até para colher dados sobre seus vizinhos. É necessário compreender como os cenários (de guerra) estão sendo construídos. Se o país fica de fora, vai abrir mão destas informações preciosas — adicionou Marques.
A Conferência dos Exércitos Americanos (CEA) é uma organização militar que reúne todos os países soberanos do continente americano, à exceção de Cuba. Criada em 1960, no âmbito da Guerra Fria, a instituição tinha como objetivo repelir grupos comunistas nos países alinhados.
— Historicamente, a CEA sempre teve duas faces, assim como o médico e o monstro. O lado médico é de troca de informações sobre tática e estratégia. O lado monstro era conter o comunismo na América Latina, a partir de iniciativas como a Operação Condor — avaliou o analista e consultor militar Pedro Paulo Resende à Sputnik Brasil.
Tortura
Aplicada em 1975 pelas ditaduras militares então no poder na América do Sul, a Operação Condor consistiu em uma série de operações de inteligência comandadas pelos EUA para eliminar opositores, dissidentes, líderes sindicais e camponeses no Cone Sul, incluindo assassinatos, sequestros e tortura.
Atualmente, a CEA centra seus esforços em preparar os exércitos do continente para operações de combate ao narcotráfico e reagir a cenários de forte instabilidade política. Durante a Operação Paraná III, o cenário será um país fictício localizado na América do Sul, sujeito a turbulências político-econômicas e catástrofes naturais.
— Há risco sério de anomia política na América Latina, em função do crime organizado, que são derivados dos esquadrões da morte financiados pelos EUA na nossa região — explicou Resende.
Segundo o analista, o poder instituído de países como o Haiti já vem sendo ameaçado pelo crime organizado, o que seria equivalente às organizações criminosas "Primeiro Comando da Capital (PCC) ou Comando Vermelho resolvessem tomar o poder no Brasil”. Apesar dos exercícios coordenados pelo Brasil utilizarem a América do Sul como palco, os países da América Central são os mais vulneráveis a esse tipo de ameaça.
— Esse tipo de cenário é de fato relevante para a América Central. Mas os EUA ainda não perceberam que a única solução para esse problema é o desenvolvimento econômico regional — concluiu Resende.