Durante um discurso, Torquato Jardim aplaudiu o entendimento e a formação de parcerias para combater violência no Rio. O tom era bem diferente.
Por Redação - do Rio de Janeiro
Titular na pasta da Justiça, o jurista Torquato Jardim recebeu, nesta quarta-feira, uma resposta às acusações formuladas, na véspera, sobre a eventual cumplicidade entre comandantes da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) e traficantes de drogas. Em sua página, em uma rede social, o colega dele na equipe de governo Leonardo Picciani, do Ministério dos Esportes, o acusou de agir de forma leviana.
O filho do deputado Jorge Picciani (PMDB-RJ), presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), disse; na mensagem, que, se o colega de ministério não tiver "indícios ou elementos de prova", agiu como um fanfarrão e prevaricou.
Segundo Picciani, em mensagem transmitida às 10h13 desta quarta-feira, Jardim é o comandante da Polícia Federal.
Parceria
“Se ele tem indícios ou elementos de prova a sustentar o que diz", afirmou Picciani; "deve, então, determinar a abertura imediata de um inquérito. Do contrário, é fanfarronice ou prevaricação”, acrescentou.
Na noite passada, Jardim, disse que o governo estadual do Rio não controla a PM. O comando da corporação, acrescentou, seria sócio do crime organizado. As acusações aconteceram na véspera; foi formalizado o grupo de procuradores organizados para o combate à criminalidade no Rio.
— Uma parceria histórica e o começo de muitas outras parcerias. Estamos todos engajados com isso — disse Jardim.
Ainda no discurso, Torquato Jardim aplaudiu o entendimento e a formação de parcerias para combater violência no Rio. Um tom bem diferente de uma entrevista na segunda-feira; quando fez duras críticas ao governo e à Secretaria de Segurança do Estado.
Torquato Jardim disse que o comando da PM no Rio faz “acerto com deputado estadual e o crime organizado”; e que “comandantes de batalhão são sócios do crime organizado”.
Repúdio
O jurista também falou sobre o assassinato de um comandante de um batalhão da PM, na semana passada. Ele desconfia que a morte do coronel Luiz Gustavo Teixeira teria sido “um acerto de contas”.
As declarações de Torquato Jardim também causaram alvoroço entre os oficiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Mais cedo, um grupo foi até o quartel-general da corporação, no centro da capital, exigir uma resposta formal às acusações. A PM divulgou uma nota sobre os fatos:
“As declarações (…) vinculando comandantes de batalhões da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro ao crime organizado, são de uma irresponsabilidade inadmissível e merecem o nosso mais veemente repúdio”, afirma a corporação.
E segue adiante:
“Ao generalizar acusações sem qualquer base comprobatória contra uma instituição bicentenária; as declarações do Ministro Jardim revelam, no mínimo, desrespeito e desprezo ao esforço descomunal empreendido por milhares de policiais militares que, não obstante a dificuldades de toda ordem, não têm medido esforços para defender a sociedade do nosso Estado.
“Vale lembrar que até a presente data, perdemos 113 companheiros de farda, vítimas de um quadro de violência formado por inúmeras variáveis e sobre o qual a Polícia Militar não pode ser responsabilizada.
“Muito pelo contrário, no enfrentamento diário aos criminosos, somente este ano efetuamos mais de 20 mil prisões e apreendemos mais de cinco mil armas de fogo. A grande maioria dessas armas é fabricada em outros países. Fuzis com alto poder ofensivo e pistolas sofisticadas chegam às mãos de criminosos por uma articulação do tráfico internacional de armas, cuja repressão transcende a atuação das forças de segurança estaduais.
Crime hediondo
“Em relação à morte do Coronel Luiz Gustavo Teixeira, citada também nas declarações do Ministro Jardim, cabe esclarecer que o oficial de conduta ilibada estava uniformizado, pois voltava de uma cerimônia de posse em outro batalhão da Corporação. E foi assassinado numa tentativa de assalto, como quase todos os policiais militares, que, ao se depararem com criminosos, não têm outra alternativa senão matar ou morrer. A banalização da vida, revelada nesse crime hediondo, é resultado também de um código penal anacrônico, cuja revisão também não é atribuição da esfera estadual.
“Por fim, vale registrar ainda nossa repulsa a denúncias contra uma Corporação que não aceita e pune com todo rigor qualquer desvio de conduta em suas fileiras, como pode ser comprovado pelo trabalho da Corregedoria Interna da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro”, conclui a PM.