Rio de Janeiro, 09 de Setembro de 2025

Tempos sinistros, uma crônica oldfashion

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Sexta, 08 de Dezembro de 2017 às 13:00, por: CdB

Tempos sinistros: vou de manhã ao banco numa segunda-feira e encontro-o completamente fechado por causa de um assalto que sofreu na véspera quando os assaltantes quebraram todo o seu segundo andar e levaram tudo.

Por Maria Lúcia Dahl, do Rio de Janeiro:

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O Rio de ontem, nada a ver com o Rio de hoje

Fiquei olhando o prédio depredado com alguns clientes assustados em volta, sem saber o que fazer da vida.

Fui andando pra pegar um táxi quando vi uma moça, ali perto, entregando dinheiro e celular ao bandido que devia ser da mesma turma dos assaltantes da véspera. O cara saiu correndo e eu, andando pro outro lado pra pegar um táxi, até que a moça chegou perto de mim, nervosa, e me disse:

-Não pega táxi, não, moça. Eu fui assaltada agora por que fiquei à toa, parada, esperando por um.

Tentei consola-la , o que a fêz me dizer que , graças a Deus, não tinha quase dinheiro nenhum.

-Mas o que eu posso fazer? Perguntei. Roubaram o meu carro há meses e estou sujeita a me virar num táxi ou ficar em casa e não sair nunca mais! Ainda mais agora que o tráfego foi substituído pelo tráfico, e esse, sim, anda depressa.

Lembrei-me de quando eu era pequena, quando às vezes, meu pai chegava tarde do trabalho e botava a culpa no trânsito, quando ia por exemplo beber no Lidador com os amigos, e ao voltar pra casa encontrava mamãe furiosa, brigando, e ele botando a culpa num carro enguiçado na rua que fazia a fila inteira parar. Só que hoje em dia a mentira se tornou verdade e não há hora possível da noite ou do dia em que os carros possam andar tranquilos ,sem fugir de tudo e todos ou pararem na rua e esperar.

Semana passada levei três horas pra ir de Botafogo ao Projac pra encontrar minha irmã. São verdadeiras viagens que fazemos sem ninguém mais parar num Lidador atual pra tomar um vinho ou mesmo um chopinho pra dar uma arejada do trabalho e bater um papo animado com os amigos.

Então, pra não pagar esses micos de ficar parada no meio da rua correndo riscos, resolvi encarar um ônibus que me levasse rapidinho de Botafogo a Copa e acabei contando a história dos assaltos a um bando de adolescentes que estavam juntos, e eles morreram de rir da história, comentando, às gargalhadas: “Sinistro, cara! Irado!”

Fiquei pensando em quem vai combater esse tráfico, hoje em dia, se a juventude de agora, se diverte com ele achando-o “sinistro e irado”, como se diz hoje em dia, ao contrário do significado que isso tinha antigamente.

Maria Lúcia Dahl , atriz, escritora e roteirista. Participou de mais de 50 filmes entre os quais – Macunaima, Menino de Engenho, Gente Fina é outra Coisa – 29 peças teatrais destacando-se- Se Correr o Bicho pega se ficar o bicho come – Trair e coçar é só começar- O Avarento. Na televisão trabalhou na Rede Globo em cerca de 29 novelas entre as quais – Dancing Days – Anos Dourados – Gabriela e recentemente em – Aquele Beijo. Como cronista escreveu durante 26 anos no Jornal do Brasil e algum tempo no Estado de São Paulo. Escreveu 5 livros sendo 2 de crônicas – O Quebra Cabeça e a Bailarina Agradece-, um romance, Alem da arrebentação, a biografia de Antonio Bivar e a sua autobiografia,- Quem não ouve o seu papai um dia balança e cai. Como redatora escreveu para o Chico Anisio Show.Como roteirista fez recentemente o filme – Vendo ou Alugo – vencedor de mais de 20 premios em festivais no Brasil.

Direto da Redação, editado pelo jornalista Rui Martins.

 

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