Tempos sinistros: vou de manhã ao banco numa segunda-feira e encontro-o completamente fechado por causa de um assalto que sofreu na véspera quando os assaltantes quebraram todo o seu segundo andar e levaram tudo.
Por Maria Lúcia Dahl, do Rio de Janeiro:
Fiquei olhando o prédio depredado com alguns clientes assustados em volta, sem saber o que fazer da vida.
Fui andando pra pegar um táxi quando vi uma moça, ali perto, entregando dinheiro e celular ao bandido que devia ser da mesma turma dos assaltantes da véspera. O cara saiu correndo e eu, andando pro outro lado pra pegar um táxi, até que a moça chegou perto de mim, nervosa, e me disse:
-Não pega táxi, não, moça. Eu fui assaltada agora por que fiquei à toa, parada, esperando por um.
Tentei consola-la , o que a fêz me dizer que , graças a Deus, não tinha quase dinheiro nenhum.
-Mas o que eu posso fazer? Perguntei. Roubaram o meu carro há meses e estou sujeita a me virar num táxi ou ficar em casa e não sair nunca mais! Ainda mais agora que o tráfego foi substituído pelo tráfico, e esse, sim, anda depressa.
Lembrei-me de quando eu era pequena, quando às vezes, meu pai chegava tarde do trabalho e botava a culpa no trânsito, quando ia por exemplo beber no Lidador com os amigos, e ao voltar pra casa encontrava mamãe furiosa, brigando, e ele botando a culpa num carro enguiçado na rua que fazia a fila inteira parar. Só que hoje em dia a mentira se tornou verdade e não há hora possível da noite ou do dia em que os carros possam andar tranquilos ,sem fugir de tudo e todos ou pararem na rua e esperar.
Semana passada levei três horas pra ir de Botafogo ao Projac pra encontrar minha irmã. São verdadeiras viagens que fazemos sem ninguém mais parar num Lidador atual pra tomar um vinho ou mesmo um chopinho pra dar uma arejada do trabalho e bater um papo animado com os amigos.
Então, pra não pagar esses micos de ficar parada no meio da rua correndo riscos, resolvi encarar um ônibus que me levasse rapidinho de Botafogo a Copa e acabei contando a história dos assaltos a um bando de adolescentes que estavam juntos, e eles morreram de rir da história, comentando, às gargalhadas: “Sinistro, cara! Irado!”
Fiquei pensando em quem vai combater esse tráfico, hoje em dia, se a juventude de agora, se diverte com ele achando-o “sinistro e irado”, como se diz hoje em dia, ao contrário do significado que isso tinha antigamente.
Direto da Redação, editado pelo jornalista Rui Martins.