Rio de Janeiro, 12 de Setembro de 2025

Temer: estorvo para investidores

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Quarta, 08 de Novembro de 2017 às 13:40, por: CdB

Com a equipe de assessores em frangalhos e a repulsa dos investidores, Temer tenta manter o PSDB no governo. A revoada tucana, porém, parece inexorável.

 
Por Redação - de Brasília, Frankfurt (Alemanha) e São Paulo

 

Pressionado por investidores que apoiaram, desde o início, o golpe de Estado, em curso no país, o presidente de facto, Michel Temer (PMDB), torna-se cada vez mais obsoleto para o empresariado. Sem capacidade para aprovar uma reforma substancial na Previdência, de forma a cassar os direitos mais caros aos trabalhadores, o peemedebista tenta negociar, e ainda assim, sem sucesso, alguns remendos e exclusões no texto legal, encaminhado ao Congresso.

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Na Bolsa de Frankfurt, a principal da Alemanha, Temer passou de solução a problema, em curto espaço de tempo

Com a base aliada em frangalhos, após duas pesadas negociações para se livrar de uma possível cadeia, caso as denúncias contra ele seguissem adiante, no Supremo Tribunal Federal (STF), Temer reuniu, na manhã desta quarta-feira, seus assessores mais próximos. Avaliaram o resultado dos últimos encontros com os líderes dos partidos que ainda o atendem. Desde o início da semana, porém, tem recebido uma série de notícias desagradáveis.

Pinguela

A principal começou ainda no domingo, com um artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC). Em poucas palavras, disse que passa da hora de o PSDB descer da “pinguela para o futuro”. Era uma “ponte”, quando os tucanos apoiaram a cassação da presidenta Dilma Rousseff (PT) e consolidaram a tomada do governo, em Maio do ano passado.

Nesta manhã, junto aos assessores, Temer calculava o tamanho do estrago que representa o rompimento da aliança entre o que resta de seu governo e a fração tucana que o sustenta; em ambas as Casas legislativas.

Na reunião, tentavam desenhar o governo sem os integrantes tucanos. A redistribuição das pastas, presumem, poderá acalmar os ânimos dos parlamentares de outras legendas; aborrecidos com o não cumprimento das promessas feitas para evitar o garrote no STF. A interlocutores, Temer já admite que a debandada tucana é inexorável. Esta deverá antecipar uma reforma em seu gabinete, antes do previsto. Ele havia calculado a mudança em abril de 2018. Até lá, 17 assessores deixarão seus cargos para disputar eleições.

Previdência

Sem força para cumprir o prometido, seja ao mercado financeiro, seja aos parlamentares aliados; e com o prestígio junto aos eleitores próximo ao zero absoluto, Temer passou a ser “um estorvo para os brasileiros”. Esta foi a avaliação de um operador lusófono, que trabalha em uma das corretoras da bolsa de valores de Frankfurt.

— As bolsas de valores, principalmente no Brasil, têm reagido mal à perspectiva de que não haverá uma mudança de paradigma no sistema previdenciário brasileiro. Muitos investidores apostaram alto nessa tese. Com Temer, porém, começam a perceber que isso não vai muito longe — disse o corretor. Ele falou, por telefone, à reportagem do Correio do Brasil, na condição de anonimato.

Temer ainda não jogou todas as suas fichas na tentativa de atrasar a saída dos tucanos. Ele acredita, segundo interlocutores, que há uma pequena chance de negociar alternativa mais branda na questão da Previdência. Uma parte do PSDB, coordenada por interesses do empresariado, insiste na agenda de ajustes fiscais e da reforma da Previdência.

Fim do prazo

Os tucanos também serviram, até agora, como uma espécie de fiador do governo. Sem eles, Temer passa a depender, de forma perigosa, das diretivas emanadas do “baixo clero”, como são conhecidos os partidos e parlamentares ligados a interesses inconfessáveis. Mesmo o mercado financeiro e o setor produtivo procuram se afastar, publicamente, destes aliados.

O declínio do senador Aécio Neves (PSDB-MG), porém, dificultou ainda mais a vida do peemedebista. Temer contava com o ‘mineirinho’, como foi citado na lista de corruptos da Construtora Norberto Odebrecht, para evitar a revoada tucana. Sem ele, os assessores Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) e Aloysio Nunes (Relações Exteriores) ficam sem padrinho no governo.

Assim, a saída do PSDB tornou-se apenas uma questão de tempo. Deputados da ala governista do partido já admitem que o desembarque tornou-se inevitável. Qualquer nome hoje cotado para ocupar a Presidência da legenda, no lugar de Aécio Neves, já faz campanha pela saída, imediata, da Esplanada dos Ministérios. O prazo expira no mês que vem.

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