Após a vitória de Arlindo Chinaglia (PT-SP) para presidir a Câmara dos Deputados, o governo trabalhará para "aproximar a base política", afirmou o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro. Ele anunciou, também, que a reforma ministerial começará nesta segunda-feira, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende avaliar o quadro político pós-eleição na Câmara e o peso de cada partido que integra a coalizão de governo para, desta forma, definir a distribuição dos ministérios.
Apesar da disputa na Câmara, acrescentou, "em nenhum momento houve uma quebra da idéia de uma coalizão programática". Segundo Tarso Genro, o governo acompanhou o processo de votação "preocupado com a evolução da aliança" e ficou tranqüilo quando os dois candidatos da base - Arlindo Chinaglia e Aldo Rebelo (PCdoB-SP) - passaram para o segundo turno.
- Ficamos tranqüilos porque não haveria uma crise 'severina' no processo - disse Tarso, em referência à eleição do ex-deputado Severino Cavalcanti para a Presidência da Câmara, há dois anos.
Para o ministro, a soma de votos dos dois candidatos no segundo turno de votação (504 no total) demonstrou que a base política "está muito bem", e que o Legislativo saiu fortalecido.
- Não houve instabilidade durante o processo. Essa idéia de que a base está dividida foi criada pela oposição. A coalizão sai fortalecida pela grande votação na Câmara. Isso, entretanto, não dá direito a um esmagamento da oposição. Nem o governo pretende isso nem a base deve se comportar assim - disse.
Avaliação
Na avaliação do professor de Ciências Políticas da Universidade de Brasília (UnB) Leonardo Barreto, em entrevista nesta manhã, a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados representou um teste a base aliada imposto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes de definir sua equipe de governo para o segundo mandato. Com a vitória de Chinaglia, diz Barreto, o governo poderá se dedicar à distribuição de cargos em torno da estrutura do poder Executivo.
- Arlindo Chinaglia é um grande negociador. Ele foi um dos pilares de sustentação do PT durante todo o período de crise - afirmou.
Mesmo com um papel importante no partido, a candidatura de Chinaglia enfrentou dificuldades, pois não tinha o apoio nem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para o professor, ainda que tenha fcapacidade de articulação política, o novo presidente da Câmara representa uma parcela do PT que reivindica mais espaço dentro do governo.
- Chinaglia acaba representando uma fonte de conflito e vai tentar ampliar o espaço do PT dentro do governo. Isso terá que ser contornado pelo presidente Lula que, afinal de contas, tem que acomodar todos os aliados dentro de ministérios e secretarias - disse.
Segundo Barreto, a pequena diferença de votos entre Aldo e Chinaglia pode ter denunciado que o "racha" na base aliada é maior do que se imaginava.
- A diferença de apenas 18 votos demonstrou que dentro da própria base de Chinaglia, dentro do 'blocão' composto por PT, PMDB e uma série de outros partidos, houve um número muito grande de traições - contabiliza.
Na visão visão do professor, trabalhar nesse cenário de divisão é o principal desafio do novo presidente eleito da Câmara em um processo de reconstrução da base aliada que se mostrou mais frágil do que se pensava no início do ano.