Rio de Janeiro, 26 de Junho de 2025

Sob pressão, peruanos esperam presidente

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Domingo, 13 de Junho de 2021 às 08:48, por: CdB

Passada uma semana das eleições, os peruanos ainda aguardam o resultado definitivo da apuração dos votos da disputa presidencial, num processo cercado de tensão e incerteza que, para observadores, está testando a democracia do país.

Por Redação, com DW - de Lima

Passada uma semana das eleições, os peruanos ainda aguardam o resultado definitivo da apuração dos votos da disputa presidencial, num processo cercado de tensão e incerteza que, para observadores, está testando a democracia do país.
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À frente na apuração, Castillo pediu calma a apoiadores
Até o início deste domingo, 99,89% dos votos haviam sido contados. O esquerdita Pedro Castillo, um professor escolar de origem pobre e sem experiência política, lidera a apuração com cerca de 50 mil votos de vantagem. Como faltam apenas 16 mil votos a serem contabilizados, a diferença bastaria para lhe dar a vitória eleitoral. Só que sua concorrente, a direitista Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori, está contestando a apuração em algumas seções eleitorais. Desde que sua derrota começou a se desenhar, no início da semana passada, Keiko, que teve sua prisão solicitada pela Lava Jato peruana por corrupção, denuncia fraude eleitoral. A denúncia, até aqui infundada, diz que a "esquerda internacional”, estaria por trás de um esquema para eleger Castillo. Nenhuma das missões de observação eleitoral que visitou o Peru, incluindo a Organização dos Estados Americanos (OEA) e União Interamericana de Organismos Eleitorais (Uniore), encontrou irregularidades graves na eleição. Na verdade, eles parabenizaram o Peru pelo boa realização das eleições.

"Enorme fraqueza institucional"

Analistas políticos dizem que, com Castillo perto de vencer, Fujimori está tentando semear dúvidas sobre a legitimidade da eleição para não aparecer com perdedora e salvar sua imagem política. E afirmam que isso está testando a democracia peruana. – Keiko Fujimori está agarrada à alegação de fraude porque, se não o fizer, tudo o que ela realizou desmorona. É sua maneira de evitar o fracasso e o colapso – disse à agência de notícias AFP Hugo Otero, ex-conselheiro do ex-presidente Alan García. Em editorial, o jornal El Comércio apelou neste domingo a que autoridades, candidatos e simpatizantes atuem "com extrema responsabilidade", porque, no cenário atual, as "consequências de não fazer isso são incalculáveis”. "Os últimos cinco anos mostraram que a enorme fraqueza institucional que aflige o país faz dele um país instável e volátil”, diz o editorial. Há dias que apoiadores de Keiko Fujimori protestam diante da casa do presidente do Júri Nacional Eleitoral (JNE), Jorge Luis Salas. É ele que deverá decidir sobre os pedidos de nulidade feitos pela direita, que o acusa de ser "terrorista".

Recontagem em redutos da esquerda

Os votos que ainda precisam ser contados correspondem a 284 seções que estão sendo analisadas pelos júris eleitorais especiais regionais devido a vários pedidos de impugnação, erros materiais ou falta de assinaturas correspondentes. Keiko Fujimori e seu partido, o Força Popular, denunciaram irregularidades e fraude em cerca de 800 urnas - que correspondem a aproximadamente 200 mil votos - e pediram a anulação deles, assim como Castillo e sua legenda o fizeram em outras dezenas. As seções eleitorais denunciadas por Keiko Fujimori estão em regiões onde Castillo ganhou com ampla margem - principalmente áreas rurais andinas pobres e historicamente marginalizadas, incluindo a cidade natal do candidato esquerdista. O processo de análise por parte dos júris regionais deve levar de uma a duas semanas para ser concluído, e só então o JNE poderá nomear um vencedor.

Castillo apela à calma

No sábado, Castillo apelou a seus compatriotas para que permaneçam "calmos" e pediu a seus seguidores que "não caíssem na provocação" de Keiko Fujimori. "Hoje é o momento em que a serenidade, a responsabilidade e a frieza são necessárias”, afirmou. – Um segundo turno nunca foi dividido tão claramente quanto as eleições atuais – tuitou o analista político peruano Fernando Tuesta, em meio à divulgação dos resultados. A votação foi considerada a mais polarizada e dividida da história recente do país. Filho de camponeses analfabetos, Castillo entrou para a política ao liderar uma greve de professores. Ele propôs abolir o Tribunal Constitucional, controlar a mídia e nacionalizar a indústria de petróleo e gás, dizendo ter o intuito de criar um Estado socialista. Seu discurso, porém, ficou cada vez mais moderado com a proximidade das eleições, mas ele manteve a promessa de reescrever a Constituição aprovada sob o regime de Alberto Fujimori. Entre os apoiadores de Castillo estão o ex-presidente boliviano Evo Morales e o ex-presidente uruguaio José Mujica.
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