“O que estamos assistindo é uma dissolução global da forma de organização da sociedade, para entregar ao mercado a direção das nossas vidas”. A afirmação é do economista Luiz Gonzaga Belluzzo.
Por Redação, com RBA - de São Paulo
Com a presença do economista e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Luiz Gonzaga Belluzzo, a executiva nacional do PT e a Fundação Perseu Abramo realizaram, na noite desta segunda-feira, o primeiro de uma série de debates no contexto preparatório do 7º Congresso Nacional do partido.
O economista Luiz Gonzaga Belluzzo falou, em palestra na Fundação Perseu Abramo
A abertura promoveu a discussão do tema “Capitalismo x Democracia”, com apresentação da presidenta nacional da legenda, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR).
Gleisi inaugurou a série dizendo, brevemente, que o país vive “uma faceta das mais perversas do capitalismo, em que a democracia está sendo colocada de lado”. O professor da Universidade de São Paulo (USP) Fernando Rugitsky não pôde comparecer ao evento, que teve a presença dos ex-ministros Luiz Dulci, organizador do ciclo de debates, e Gilberto Carvalho, do ex-presidente da legenda José Genoino e dos ex-senadores Lindbergh Farias e Eduardo Suplicy.
Colapso
Belluzzo discorreu sobre o processo histórico que culmina, no Brasil de 2019, com a destruição de sistemas de proteção social que foram sendo construídos no mundo após a Segunda Guerra Mundial, e que no país é simbolizado pela principal reforma em marcha.
— O que estamos assistindo é uma dissolução global da forma de organização da sociedade (fundada no Estado do bem-estar social), para entregar ao mercado a direção das nossas vidas. Assistimos isso na reforma da Previdência, sistema baseado nos regimes de previdência por repartição simples, regimes de solidariedade, construídos sob os princípios do bem-estar social — disse.
O economista Marcio Pochmann, professor do Instituto de Economia e da Unicamp, dialogou com Belluzzo sobre a nova condição de precarização do trabalho no contexto de devastação de direitos que se dá, hoje, não só no Brasil, mas em todo o mundo. Para Pochmann, há na atualidade um colapso da sociedade baseada no trabalho assalariado.
— Que perspectiva teríamos nesse capitalismo em que se questiona as possibilidades do trabalho do assalariado? — questionou.
Democracia
Na opinião de Belluzzo, “precisamos ter claro que o capitalismo na forma atual está a destruir o assalariamento.” Ele observou que, com a robotização, são estabelecidas novas relações, em que a produtividade sobe, mas as pessoas perdem o emprego.
— Essas plataformas reduzem todo mundo a empreendedores de si mesmos, como trabalhador independente — afirmou.
O sistema de relações é hoje a negação dos princípios de solidariedade, inclusão e democracia instituídos na Europa do pós-Segunda Guerra Mundial, disse Belluzzo.
— Hoje, o sistema de relações é a negação disso. Não se quer a compreensão, mas a afirmação — acrescentou.
Realidade
Para ele, “a maior ameaça à democracia são as redes sociais, que impedem a compreensão” da realidade por parte dos cidadãos.
— Produziu-se um processo devastação da capacidade de os indivíduos compreenderem. Assistimos à demolição das articulações do que foi construído lá atrás — afirmou.
Porém, como sempre, e sem deixar de reafirmar ser palmeirense, ele se afirma otimista, apesar da realidade.
— Os que nos se sucederem vão tentar recuperar o projeto da autonomia, da liberdade e da igualdade e nós vamos nos livrar disso — concluiu.