Rio de Janeiro, 17 de Junho de 2025

Símbolo de integração de refugiados na Itália é condenado

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Quinta, 30 de Setembro de 2021 às 11:21, por: CdB

 

Lucano, 63 anos, foi sentenciado pelo Tribunal de Locri, na Calábria, pelos crimes de formação de quadrilha, abuso de poder, fraude, concussão, peculato, fraude em licitação, falsidade ideológica e favorecimento à imigração clandestina.

Por Redação, com ANSA - de Roma

Um ex-prefeito que se tornou conhecido por promover projetos de acolhimento de refugiados em uma cidade de cerca de 2 mil habitantes no sul da Itália foi condenado nesta quinta-feira a 13 anos e dois meses de prisão por supostos crimes ligados à gestão de deslocados internacionais.
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Mimmo Lucano chegou a ficar um ano proibido de entrar em Riace
Lucano, 63 anos, foi sentenciado pelo Tribunal de Locri, na Calábria, pelos crimes de formação de quadrilha, abuso de poder, fraude, concussão, peculato, fraude em licitação, falsidade ideológica e favorecimento à imigração clandestina. A sentença é quase o dobro da pena pedida pelo Ministério Público, que era de sete anos e 11 meses de cadeia. Mimmo Lucano foi prefeito de Riace, na Calábria, entre junho de 2004 e outubro de 2018, período em que ganhou fama internacional por seus projetos de acolhimento de migrantes e refugiados. Suas ações o fizeram entrar, em 2016, na lista das 50 personalidades mais influentes do mundo da revista Fortune. Em seus mandatos, ofereceu casas abandonadas, treinamento profissional e "bolsa trabalho" a estrangeiros, ajudando a revitalizar a economia de Riace, afetada pelo esvaziamento populacional que atinge muitos vilarejos italianos. No entanto, ele se tornou alvo de um inquérito por suspeita de ter facilitado casamentos forjados para garantir a permanência no país de migrantes em situação irregular. Além disso, o Ministério do Interior, na época chefiado pelo ultranacionalista Matteo Salvini, o acusou em 2018 de irregularidades no uso de recursos nacionais para financiar projetos de acolhimento. Lucano também é acusado de ter concedido sem licitação um serviço de coleta e transporte de lixo para duas cooperativas formadas por migrantes e refugiados e de ter colocado estrangeiros para morar em imóveis que não tinham laudos para habitação.

Prisão domiciliar

Ele chegou a ser posto em prisão domiciliar em 2018, quando foi afastado do cargo de prefeito, e ficou quase um ano proibido de entrar em Riace. As iniciativas idealizadas por Lucano foram desmontadas após sua saída da prefeitura. – Esse é um caso sem precedentes. Ficarei para sempre manchado por crimes que não cometi, esperava uma absolvição – declarou o ex-prefeito após o julgamento. Já seus advogados, Giuliano Pisapia e Andrea Daqua, afirmaram que a condenação é "exorbitante" e contrasta "totalmente com as evidências processuais". "Mais de 13 anos de cadeia para um homem como Mimmo Lucano, que vive na pobreza, não obteve qualquer benefício patrimonial com suas ações como prefeito e que sempre se empenhou por sua comunidade e pelo acolhimento e integração de crianças, mulheres e homens que chegaram no país para escapar da guerra, de torturas e da fome", acrescentou a defesa. Os advogados também anunciaram que entrarão com recurso na segunda instância para reverter a sentença. O ex-prefeito, que é candidato a conselheiro regional da Calábria nas eleições de 3 e 4 de outubro, também foi condenado a restituir 500 mil euros em repasses feitos pela União Europeia e pelo governo italiano a Riace.

Reações

A condenação de Lucano provocou revolta e manifestações de apoio na esquerda italiana. "Proximidade e solidariedade, Mimmo Lucano", escreveu no Twitter o ex-primeiro-ministro e secretário do Partido Democrático (PD), Enrico Letta. Já a senadora Monica Cirinnà, também do PD, disse que a sentença é "anormal". "Resto convencida da inocência de Mimmo Lucano. Se a intenção é demolir o sistema de acolhimento e integração dos migrantes, eu me coloco do lado de quem o continua apoiando", acrescentou. A ONG Emergency, que faz resgates no Mar Mediterrâneo, elogiou o "experimento de Riace" e disse que "não consegue entender" como um modelo de acolhimento e símbolo de integração concreta se tornou alvo da Justiça. "Esperamos os três graus de juízo e estamos confiantes de que eles podem esclarecer a boa fé de sua pessoa", ressaltou a agência humanitária. Por outro lado, o partido de extrema direita Liga, de Matteo Salvini, disse que a condenação de Lucano "certifica a existência de um sistema criminal naquela que era conhecida como a 'cidade do acolhimento'". "Hoje a Justiça reconhece que, por trás da narrativa de bondade e solidariedade em parte de uma certa esquerda, se escondiam interesses de natureza econômica e política", afirmou a legenda ultranacionalista.
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