Rio de Janeiro, 17 de Setembro de 2025

Rússia e China contra o império do dólar

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Quinta, 14 de Setembro de 2017 às 05:47, por: CdB

Um vasto arco de tensões e conflitos se estende da Ásia oriental à central, do Oriente Médio à Europa, da África à América Latina

Por Manlio Dinucci - de Roma:

Os “pontos quentes” ao longo deste arco intercontinental, Península Coreana, Mar do Sul da China, Afeganistão, Síria, Iraque, Irã, Ucrânia, Líbia, Venezuela e outros, têm história e características geopolíticas diversas, mas são ao mesmo tempo ligados a um único fator: a estratégia com que o “império americano do Ocidente”, em declínio, tenta impedir a emergência de novos sujeitos estatais e sociais.

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Rússia e China contra o império do dólar

O que Washington teme se compreende com a Cúpula dos Brics (Brasil, Rússia; Índia, China, África do Sul), realizada de 3 a 5 de setembro em Xiamen, na China. Exprimindo “as preocupações dos Brics sobre a injusta arquitetura econômica e financeira global; que não tem em consideração o crescente peso das economias emergentes”, o presidente russo Putin sublinhou a necessidade de “superar o excessivo domínio do número limitado de moedas de reserva”.

EUA

Clara referência ao dólar dos EUA, que constitui quase dois terços das reservas monetárias mundiais; e a moeda com que se determina o preço do petróleo, do ouro e de outras matérias primas estratégicas.

Isto permite aos EUA manter um papel dominante; imprimindo dólares cujo valor se baseia não na real capacidade econômica estadunidense. Mas no fato de que são usados como moeda global.

China

Contudo, o yuan chinês entrou há um ano na cesta de moedas de reserva do Fundo Monetário Internacional (juntamente com o dólar, o euro, o yen e a libra esterlina); e Pequim está para lançar contratos de compra de petróleo em yuan, convertível em ouro.

Os Brics demandam também a revisão das cotas; e portanto dos votos atribuídos a cada um no interior do Fundo Monetário; os EUA, sozinhos, detêm mais do dobro dos votos do conjunto dos 24 países da América Latina (incluindo o México) e o G7 detém o triplo dos votos do grupo dos Brics.

Parceria

Washington vê com crescente preocupação a parceria russo-chinesa: o comércio entre os dois países; que em 2017 deverá somar US$ 80 bilhões, está em forte crescimento; aumentam ao mesmo tempo os acordos de cooperação russo-chineses nos campos energético; agrícola, aeronáutico, espacial e no da infraestrutura.

A anunciada compra de 14% da empresa petrolífera russa Rosneft por parte de uma empresa chinesa; e o fornecimento de gás russo à China na quantidade de 38 bilhões de metros cúbicos por ano através do novo gasoduto de Sila Sibiri; que entrará em funcionamento em 2019; abrem às exportações de energia russa a via para o Leste enquanto os EUA buscam bloquear a Oeste, para a Europa.

Plano econômico

Perdendo terreno no plano econômico, os EUA lançam sobre um dos pratos da balança a espada da sua força militar; e sua influência política. A pressão militar dos EUA no Mar do Sul da China e na Península Coreana; as guerras dos EUA/Otan no Afeganistão, Oiente Médio e África, o golpe dos EUA/Otan na Ucrânia; e o consequente confronto com a Rússia, estão dentro da mesma estratégia de confronto global com a parceria russo-chinesa, que não é somente econômica. Mas geopolítica.

Isto inclui também o plano de minar os Brics por dentro; instalando a direita no poder no Brasil e em toda a América Latina. Isto o confirma o comandante do Comando Sul dos EUA, Kurt Tidd, que está preparando contra a Venezuela a “opção militar”; ameaçada por Trump, em uma audiência no Senado, acusa a Rússia e a China de exercitar uma “influência maligna” na América Latina; para fazer avançar também aqui “a sua visão de uma ordem internacional alternativa”.

Tradução de José Reinaldo Carvalho

Manlio Dinucci, é jornalista, geógrafo e cientista político.

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