Rio de Janeiro, 17 de Junho de 2025

Relatório da CPI da Covid contém erros, mas deverá ser aprovado

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Segunda, 25 de Outubro de 2021 às 13:07, por: CdB

Entre as 17 propostas legislativas, o documento torna crime o ato de “criar ou divulgar notícia que sabe ser falsa para distorcer, alterar ou corromper gravemente a verdade” em temas do “interesse público”, como saúde, segurança e economia, e propõe pena de prisão de seis meses a dois anos.

Por Redação, com RBA - de Brasília e São Paulo
O relatório final da CPI da Covid, apresentado pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), faz recomendações sobre alterações legais para combater a disseminação de notícias falsas. Mas, segundo diversas entidades que trabalham pela democratização da comunicação, há erros nas orientações listadas que podem provocar um efeito reverso na prática.
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Integrante da CPI da Covid, o senador Humberto Costa (PT-PE) aponta o aumento das dificuldades para Bolsonaro
Entre as 17 propostas legislativas, o documento torna crime o ato de “criar ou divulgar notícia que sabe ser falsa para distorcer, alterar ou corromper gravemente a verdade” em temas do “interesse público”, como saúde, segurança e economia, e propõe pena de prisão de seis meses a dois anos. O que para a jornalista, doutora em Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB) e integrante do coletivo Intervozes Helena Martins, “parece desproporcional”. Professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), onde coordena o Laboratório de Economia, Tecnologia e Políticas de Comunicação (Telas), Helena explica à agência brasileira de notícias Rede Brasil Atual (RBA) que é “fundamental” trazer à tona o tema que preenche um capítulo com mais de 200 páginas no relatório final. — A desinformação causou efetivamente milhares de mortes no Brasil e no mundo e é uma questão que tem que ser enfrentada — afirmou.

Interpretações

No entanto, a especialista pondera que a criminalização dos usuários deixa de lado “os grandes que realmente partilham e produzem desinformação e constroem um ecossistema todo desinformativo, inclusive o presidente da República, Jair Bolsonaro”, ressalta. Segundo Martins, há uma dificuldade de precisão no conceito de desinformação estabelecido que pode abrir caminho para diversas interpretações. O texto da proposta trata que “não é considerada notícia falsa a manifestação de opinião, de expressão artística ou literária, ou de conteúdo humorístico”, o que pode não ser suficiente. — Inclusive na academia já há vários conceitos e dificuldades de se apontar, porque às vezes desinformação pode ser algo descontextualizado, uma mentira, ou um erro. É muito mais efetivo, e tem um risco menor de imprecisões, focar efetivamente na produção de campanhas de desinformação de forma organizada e financiada — acrescenta. As plataformas de aplicativos de mensagem e redes sociais, por sua vez, poderão armazenar o CPF ou CNPJ dos usuários, assim como o nome completo e data de nascimento, segundo o relatório final, para “garantir a identificação inequívoca do usuário”. As medidas também são questionadas pelas entidades que apontam o risco de “fragilização da proteção de dados de todos os usuários das redes sociais”.

Desinformação

Outro problema identificado pela professora é a falta de uma educação voltada para a mídia, que dê condições, por exemplo, para que a população possa buscar outras informações, checar e comparar abordagens distintas sobre um mesmo tema ou a mensagem que recebe. — Numa sociedade que tem esse déficit em relação à educação midiática e mesmo no acesso ao direito à comunicação, é muito problemático que a gente coloque de uma maneira genérica (na legislação) e acabe também apontando para essa punição. O que outros países fazem é apostar muito mais na lógica de promoção da educação para a mídia. — ressalta. A votação do relatório deve ocorrer nesta terça-feira e a expectativa dos especialistas é que sejam feitas alterações nas propostas de combate às fake news listadas no relatório da CPI da Covid. — Houve dezenas de audiências públicas sobre esse PL. Então me parece muito problemático que o relatório desconsidere todo esse processo democrático de elaboração, discussão e refinamento das propostas para combater a desinformação e proponha algo simplesmente a partir dos estudos da própria Comissão Parlamentar de Inquérito que, nós sabemos, teve que se debruçar sobre muitos outros temas — destaca a professora.

Perfeccionismo

O relatório final da CPI da Covid, no entanto, deverá não apenas ser aprovado, como também acolhido pela Procuradoria-Geral da República (PGR) em relação aos possíveis delitos cometidos pelo presidente Jair Bolsonaro. A avaliação é do senador Humberto Costa (PT-PE), membro da comissão. De acordo com o parlamentar, o relatório possui “perfeccionismo jurídico” e apresenta denúncias robustas contra Bolsonaro e membros de seu governo. O documento propõe o indiciamento do chefe do Executivo por nove crimes cometidos durante a pandemia.  — Nós vamos conseguir, na terça-feira, chegarmos a um entendimento no grupo que hegemoniza a condução da CPI. O relatório apresentado pelo senador Renan Calheiros foi muito bem recebido pelos integrantes da comissão, pois é um relatório muito duro, denso e muito bem fundamentado — conclui Costa.
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