O Quênia fechou, desde as primeiras horas desta quinta-feira, as fronteiras com a Somália. O Governo de Nairobi teme a entrada das milícias islâmicas no país que se encontram cercadas pelas tropas etíopes no extremo Sul da Somália.
Outra das preocupações do Quênia é uma nova onda de refugiados somalis que fogem da violência que o país atravessa, desde que Adis Abeba declarou guerra aberta aos tribunais islâmicos, que tomaram Mogadíscio.
As forças navais norte-americanas na região passaram a patrulhar as fronteiras marítimas entre a Somália e o Quênia, com o objetivo de evitar a fuga de dirigentes islamitas.
O Quênia já acolhe actualmente mais de 160 mil cidadãos da Somália em campos de refugiados, mas diz não ter capacidade para acolher os cerca de quatro mil que as agências humanitárias internacionais dizem estar perto da fronteira.
Ataques aéreos
Tiroteios e vôos rasantes de aviões etíopes assustaram, na madrugada desta quarta-feira, a população que vive na região de fronteira entre Somália e Quênia, cenário da luta entre o governo somali e militantes islâmicos. Os militantes fugiram, na segunda-feira, de seu último reduto, após duas semanas de guerra, mas prometeram continuar lutando. Enquanto isso, o governo, apoiado pela Etiópia, se instala na capital, Mogadíscio, oferece anistia aos rebeldes e tenta impor sua autoridade.
Os guerrilheiros se dispersaram pelas montanhas que ficam entre a cidade portuária de Kismayu e a longa fronteira com o Quênia. Moradores de Liboi, localidade queniana fronteiriça, disseram ter visto caças e helicópteros etíopes sobre a cidade somali de Doble, a 25 quilômetros, na noite de terça-feira. Em seguida, ouviram disparos, que se estenderam até depois de meia-noite.
- Quando ouvimos os tiros entramos em pânico, embora soubéssemos que podiam ser esses grupos lutando do outro lado da fronteira - disse um morador.
O governo queniano fechou a fronteira para impedir a infiltração de militantes da Somália. Oito suspeitos foram detidos no domingo quando tentavam entrar no Quênia, perto de Liboi. Na terça-feira, uma emboscada matou pelo menos um soldado etíope, mostrando que os confrontos continuam. O governo etíope diz que suas tropas permanecerão no país vizinho durante mais algumas semanas. O primeiro-ministro somali, Ali Mohamed Gedi, diz que a presença estrangeira pode durar meses.
Em Bruxelas, diplomatas estrangeiros se reuniram para incentivar uma retomada do processo de paz.
- Queremos ver um processo político inclusivo na Somália, sem o qual será difícil alcançar a segurança - disse o chanceler sueco, Carl Bildt, à agência inglesa de notícias Reuters, antes da reunião.
Tanto a Etiópia quanto a Somália querem o envio imediato de tropas internacionais de paz. A Uganda ofereceu um batalhão, desde que a missão e a estratégia de saída estejam claramente definidas. A Nigéria também pode ajudar. Analistas dizem que os militantes, com a ajuda de combatentes estrangeiros, podem iniciar uma insurgência em estilo iraquiano contra o governo somali, que tem apoio da Etiópia, uma potência cristã odiada por eles.
O primeiro-ministro Gedi disse que o governo prendeu combatentes árabes, rebeldes etíopes e soldados enviados pela Eritréia, arquiinimiga da Etiópia. De acordo com diplomatas, navios militares dos EUA patrulham o litoral somali para impedir a fuga de militantes. O governo exigiu que todos os milicianos e moradores de Mogadíscio entreguem suas armas até quinta-feira. Mas, em um posto de coleta visitado pela Reuters, nem uma só pistola havia sido entregue.
- Armas são meios de emprego para muitos. Pedir a eles que simplesmente deponham suas armas é como dizer a eles que não trabalhem e não comam - afirmou um morador da capital.