No lugar de Lula livre e com nome na cédula eleitoral; líderes petistas e aliados já buscam; a menos de cinco meses para as prováveis eleições, quem possa libertar Lula, se for eleito.
Por Redação - de São Paulo
Embora o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso há mais de um mês na Superintendência da Polícia Federal (PF) paranaense, tenha dito na véspera ao filósofo e amigo Leonardo Boff; durante visita autorizada, enfim, pela Justiça Federal; que segue “candidatíssimo”, a realidade assume um outro viés.
No lugar de Lula livre e com nome na cédula eleitoral; líderes petistas e aliados já sussurram um novo mantra. A menos de cinco meses para as prováveis eleições, começa a busca por quem possa libertar Lula, se for eleito.
O presidenciável Ciro Gomes (PDT), por sua amizade pessoal com o líder petista, busca parte do eleitorado da legenda; mas quer distância do PT. Se chegar ao segundo turno, guarda no bolso o discurso bem alinhavado sobre a partidarização do Judiciário brasileiro; razão mais do que suficiente para conceder ao prisioneiro político a graça presidencial. Argumento bastante para mobilizar a parte do eleitorado petista que se aproxima do centro. E não tem vergonha de votar ao lado da direita.
Boulos
Um pouco mais à esquerda, o cientista social Guilherme Boulos (PSOL) — ainda que bem vindo ao programa Roda Viva, noite passada, conduzido pela extrema direita; mesma força que mantém sua coluna em um dos diários conservadores paulistanos — coloca “as coisas em seu devido lugar”. Mora no coração da parte do PT que não migrou para a legenda psolista e questiona como o presidente de facto, Michel Temer, continua no poder; mesmo depois de duas denúncias por corrupção, enquanto Lula é “preso sem nenhuma prova”, disse.
Assista ao momento:
Próxima do traço nas pesquisas de opinião, há ainda a deputada comunista Manuela D’Ávila (RS). Presente no apoio a Lula, nos momentos mais dramáticos, D’Ávila conta com o apoio discreto da presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR). Mas é de dentro do PCdoB que, nesta terça-feira, o governador do Maranhão, Flávio Dino, amplia a mensagem a Lula para que pense rápido e defina, o quanto antes, um nome para sucedê-lo. Isso, após assumir que está fora de combate e não tem condições de seguir na sua candidatura à reeleição.
Um nome
Dino afirmou, ao mesmo jornal para o qual escreve Guilherme Boulos, que “a multiplicidade de candidaturas ameaça o seu campo político de perder já no primeiro turno”.
— Está chegando o momento de admitir uma nova agenda. Se não oferecermos uma alternativa viável, você pode perder a capacidade de atrair outros setores do centro que se guiam também pela viabilidade — disse o governador do Partido Comunista do Brasil.
Dino prega, portanto, que a união dos diversos segmentos da esquerda ocorreriam em torno de Ciro Gomes, pré-candidato “melhor posicionado”, na opinião dele. Lula, segundo Flávio Dino, desembargador e jurista, estaria inabilitado e "o PT não tem nome capaz de unir nesse momento", disse aos jornalistas.
Simbolismo
Outro ponto que Dino observa é o fato que, sem Lula nas pesquisas de intenção de voto, entre os nomes identificados como de esquerda; o ex-governador fica com a maior parte do apoio eleitoral, 15% no cenário mais favorável; segundo apurou o Datafolha, mês passado. Manuela D’Avila seduz apenas 3% dos votos do ex-presidente.
Pragmático quanto à urgência de escolher um contendor que saia em defesa de Lula, Dino afirma, todavia, que a prisão do líder petista é "muito dilacerante, muito traumática; uma tragédia política, a maior derrota da esquerda brasileira desde o golpe (militar) de 1964”.
— É pior do que o impeachment (da presidenta deposta Dilma Rousseff) pelo simbolismo de o maior líder popular do país ao lado de Getulio Vargas está fora da eleição — afirmou.
‘Reza brava’
Na opinião do governador maranhense, ainda assim; passado um mês do cumprimento de uma pena de 12 anos de prisão, é chegada a hora de Lula e seus aliados admitir que sua candidatura se tornou inviável.
-- E traçar estratégias para vencer a eleição -- afirmou.
A divisão do eleitorado de esquerda, consequentemente, “pode resultar em tragédia ainda pior, que seria a derrota para a direita”.
— O ponto de interrogação que está dirigido sobretudo ao PT é se nós queremos uma eleição apenas de resistência; de marcar posição, eleger deputados; ou ganhar a eleição presidencial. Temos chance de ganhar a eleição, porque o pós-impeachment deu errado. O fracasso do Temer é o fracasso da alternativa que se gestou a nós — acrescentou.
De forma velada, no entanto, Dino abriu uma severa crítica à senadora Hoffmann por insistir na candidatura de Lula. Ela afirmou que o apoio a Lula, no PT não passa “nem com reza brava”.
— A tática de marcar posição é derrotista. Não honra a importância do Lula, porque abre mão da possibilidade de haver uma virada geral; na sociedade que possibilite julgamentos racionais dele — concluiu.