O economista Rudinger Dornbusch, professor do Massachusets Institute of Technology (MIT), afirmou que se a crise econômica aumentar no Brasil, o real ainda pode se desvalorizar mais 10%. Em entrevista exclusiva ao programa De Olho no Mundo, uma co-produção da BBC Brasil e da Rádio Eldorado AM de São Paulo, Dornbusch fez uma análise das atuais dificuldades econômicas enfrentada pelos Estados Unidos, pela Argentina e pelo Brasil. Ele disse que, por causa da crise argentina, seria arriscado reduzir os juros agora no Brasil. Segundo Dornbusch, a definição do nome do candidato do governo à Presidência vai "ajudar a sustentar os investimentos e a confiança no Brasil". Dornbusch nunca poupou críticas ao Brasil. Mas, atualmente, ele, que já chamou o presidente Fernando Henrique Cardoso de "fraude", adota um discurso mais moderado quando fala sobre o país. Leia a seguir a íntegra da entrevista. BBC - A economia mundial vive hoje uma situação muito diferente da de um ano atrás, quando a economia americana e a européia estavam crescendo. O que o senhor acha que vai acontecer agora? Rudinger Dornbusch - A economia mundial está numa situação muito difícil: Japão em débito, Europa e Estados Unidos indo em direção à recessão. O crescimento dos Estados Unidos é essencial para empurrar Europa, Ásia e América Latina. Mas eu acredito que teremos uma reviravolta em breve nos Estados Unidos. Diria que há 70% de probabilidade de recuperação. Mas ainda haveria 30% de possibilidade de os Estados Unidos não decolar, de escorregar junto com a economia mundial. Acho que setembro será um mês muito importante. BBC - O senhor, então, está otimista? Dornbusch - Sim, 70% é bem otimista, mas eu não diria 100%, não tenho certeza absoluta. Isso depende da confiança do consumidor, do nível de consumo. Até agora eles têm reagido bem, mas eles podem ficar cansados. BBC - Os números mais recentes mostraram uma redução no consumo, que até então estava crescendo e puxando a economia americana. O senhor acha que o medo de perder o emprego pode tornar os consumidores americanos mais cuidadosos na hora de gastar? Dornbusch - Acho que isso não é relevante. Nós temos pleno emprego nos Estados Unidos. O nível de emprego é igual ao dos anos 60. Não existe uma queda de confiança dramática, apenas uma queda no alto nível de consumo que estava ocorrendo, o que era incomum. O aumento de recursos disponíveis a partir da redução de impostos vai aumentar o consumo e, como resultado, haverá um pouco mais de crescimento. Isso vai levar a um ciclo virtuoso. BBC - O Fed, o banco central americano, já reduziu a taxa de juros em três pontos percentuais este ano. Há um limite para essa redução? Dornbusch - O Fed vem cortando os juros durante todo o ano e ainda tem um longo caminho para percorrer até chegar a zero. E eles vão chegar a zero, se a economia permanecer fraca. Não há nenhum obstáculo para o Fed reduzir os juros. Agora o Banco Central Europeu também está reduzindo as taxas, e isso é positivo. BBC - O senhor acha que esse corte não está funcionando como instrumento para reativar a economia? Dornbusch - Demora um pouco para que a redução dos juros afete o consumo. Mas nós temos uma situação boa, em que é possível aumentar a produção, porque a capacidade de produção ainda tem espaço para crescer. Através das políticas monetária e fiscal, nós conseguimos controlar todas as recessões nos últimos 15 anos. E essa nem é uma recessão. Então, eu acho que existe muito pessimismo. BBC - Falando sobre América Latina, região sobre a qual o senhor não costuma ser tão otimista. A Argentina conseguiu um novo empréstimo com o FMI. O senhor vê solução para a Argentina? Dornbusch - Eu não vejo. Não vejo um retorno rápido ao crescimento, principalmente, porque o mundo não está tendo um crescimento extraordinário, e ninguém está no momento querendo colocar um monte de dinheiro na Argentina. Então vai ser muito difícil. Vai demorar anos, não meses, ma
Professor do MIT prevê real em queda caso a crise perdure
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Quinta, 06 de Setembro de 2001 às 12:49, por: CdB