“Globo, corrupta, pagou propina no futebol. E aí?”, dizia a faixa estendida na arquibancada do Estádio Independência, na tarde de domingo. A corda está cada vez mais esticada para os atores do golpe de Estado, em curso no país.
Por Redação - do Rio de Janeiro
A tensão social no país tem aumentado contra os agentes do golpe de Estado, em curso. A rejeição ainda mais ampla ao presidente de facto, Michel Temer, e as manifestações contra as Organizações Globo, madrinha da atual ruptura democrática, esticam a corda do processo eleitoral que se inicia no ano que vem. Alvo de um rumoroso processo internacional, em que é acusada de distribuir propina aos dirigentes de federações desportivas, em troca da exclusividade na transmissão de campeonatos de futebol, a Rede Globo de TV, principal empresa da família Marinho — uma das mais ricas do país — foi alvo de amplo protesto. A torcida do Atlético-MG subiu uma faixa gigante, na arquibancada do Estádio Independência; na tarde deste domingo, em plena capital mineira:
“Globo, corrupta, pagou propina no futebol. E aí?".
Denúncia
Antes, a empresa disse, no Jornal Nacional, principal informativo da casa, que não tinha conhecimento do pagamento de propina alguma. Na semana passada, porém, mudou o tom. A emissora voltou a ser acusada de pagar propina a dirigentes por direitos de transmissão de jogos de futebol. De acordo com o empresário José Eladio Rodríguez, a T&T, uma offshore da Torneos y Competencias, foi criada na Holanda para receber pagamentos de grupos de mídia; entre eles a emissora brasileira. Ele apontou os caminhos percorridos pelo dinheiro sujo até os chefes das federações de futebol. A denúncia surgiu no julgamento do ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) José Maria Marin; no escândalo de corrupção da Fifa,
O ex-funcionário da empresa argentina Torneos y Competências (TyC) José Eladio Rodríguez, testemunha de acusação no julgamento do ex-presidente da CBF José Maria Marin, apresentou sua denúncia no Tribunal Federal do Brooklin, em Nova York. Ele mostrou as planilhas que registram pagamento de US$ 1 milhão ao ex-executivo da Rede Globo, Marcelo Campos Pinto. O atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, também aparece como destinatário de pagamentos ilícitos. A partir daí, o discurso da empresa mudou. Passou a admitir que havia um processo de corrupção em andamento; mas os donos não estariam cientes disso.
Propina
Acontece que Marcelo Campos Pinto, homem de confiança da família Marinho, negociou a compra de direitos de transmissão para o Grupo Globo até o final de 2015; quando deixou a empresa. De acordo com documentos apresentados por José Eládio Rodríguez, ele seria o "MCP”. A inicial consta de uma planilha de pagamentos ilegais da empresa argentina. Inicialmente, ele havia dito que a sigla era referente a Marco Polo Del Nero; depois corrigiu.
Os pagamentos teriam sido feitos em 2013. Mas o ex-funcionário da TyC, encarregado de fazer as remessas da empresa, disse ao júri que não conhecia Marcelo Campos Pinto. Nas planilhas também apareceu referência a "MP", que seria Marco Polo Del Nero. Ao depor no dia anterior, na quarta-feira, José Eladio Rodríguez afirmou ter pago US$ 4,8 milhões em propinas para Del Nero e José Maria Marin. Na quinta-feira passada, a defesa do ex-presidente da CBF, que cumpre prisão domiciliar em Nova York, voltou a dizer ao júri que era Del Nero, e não Marin, que recebia propinas.
A denúncia, encaminhada primeiramente à Procuradoria-Geral da República (PGR), foi destinada ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MPF-RJ). Segundo o pedido de investigação, a Rede Globo teria pago propina na compra de direitos de transmissão das Copas do Mundo de 2026 e 2030; além de jogos da Libertadores e da Copa Sul-Americana.
Pablo Escobar
Procurado pela reportagem do Correio do Brasil, o MPF-RJ não soube responder, de pronto, se a denúncia foi aceita e se a emissora será alvo de uma investigação, conforme pediram os partidos políticos PT, PDT e Psol. A nova linha de argumentação da emissora, no entanto, está em fase de testes. Apesar das fortes evidências de que a empresa corrompeu dirigentes desportivos para obter exclusividade no futebol, afirma que comprou os eventos de boa-fé. Diz, ainda, ter sido ludibriada pelos delatores que venderam a ela esses mesmos direitos de transmissão.
Na segunda nota, lida também por William Bonner, no JN, a Globo se disse "surpresa" ao saber das propinas pagas pela subsidiária da Globo à T&T, na Holanda. Ainda assim, os dois delatores dizem ter sido orientados pela própria Globo a abrir uma empresa no país europeu. Ao todo, o volume de propina já chega a R$ 50 milhões.
“A nota tem o mesmo valor que a declaração que Pablo Escobar dava quando, confrontado com acusação de tráfico, negava e dizia que era empresário. A Globo sempre pagou propina ou esteve envolvida em irregularidades para obtenção de contratos”, escreveu o jornalista Joaquim de Carvalho, no blog Diário do Centro do Mundo.