Diante do quadro de dificuldades, o governo Bolsonaro já trabalha com a perspectiva de que a votação acontecer apenas no segundo semestre.
Por Redação - de Brasília e São Paulo
O rápido declínio do prestígio de Jair Bolsonaro (PSL) junto aos eleitores e parlamentares influiu na decisão dos deputados da centro-direita de adiar para o segundo semestre deste ano a votação da proposta do governo para a reforma previdenciária. Embora o texto tenha passado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, no último dia 23, a chance de chegar ao Plenário antes do recesso do Poder Legislativo fica cada vez menor.
Jair Bolsonaro está cada vez mais distante dos índices observados no início do mandato
Diante do quadro de dificuldades, o governo Bolsonaro já trabalha com a perspectiva de que a votação pelo plenário da Casa deverá acontecer apenas no segundo semestre, com a possibilidade, segundo o momento político, de ser adiada para o ano que vem. Lideranças do Centrão, ouvidas por jornalistas da mídia conservadora, em condição de anonimato, avisaram ao Planalto que o texto somente será votado após as férias.
Arrependimento
Ainda nesta manhã, o Planalto tomou conhecimento de pesquisa do Ibope que mostra a rápida queda do apoio ao presidente. Em apenas quatro meses, os eleitores com renda mensal de até dois salários mínimos mostram o arrependimento por votar em um candidato da extrema direita. A maior queda ocorreu nas capitais e na região Nordeste. Os eleitores de Bolsonaro manifestam ainda incômodo com interferência dos filhos no governo e com o despreparo do presidente.
Os dados constam nas últimas pesquisas do Instituto, nas quais os nordestinos e eleitores com baixa escolaridade e renda estão entre os que mais rechaçam Bolsonaro. Nos maiores centros urbanos do país, onde se concentra a maior parte do eleitorado, foi exatamente onde ocorre o maior arrependimento.
Intensidade
Segundo afirmou a diretora-executiva do Ibope Inteligência, Márcia Cavallari, a jornalistas, Bolsonaro chegou a ganhar, logo depois da posse, um “voto de confiança” significativo em setores que, na eleição presidencial, penderam majoritariamente para Fernando Haddad (PT), como os mais pobres e os nordestinos. Mas, nesses segmentos "a identificação com Bolsonaro é mais frágil", observa Cavallari.
— A partir do momento em que o governo passa pelos primeiros desgastes, essa população manifesta seu descontentamento de forma mais rápida — afirmou a executiva.
Outro dado significativo é que na região Nordeste, de cada dez eleitores que consideravam o governo bom ou ótimo, quatro mudaram de opinião. No Sudeste e no Sul, esse movimento também se observa, mas com menor intensidade: três e dois de cada dez, respectivamente, já deixaram de manifestar aprovação. O descontentamento é cada vez maior nas faixas de renda mais baixas e nas capitais.
A queda da confiança pessoal no presidente também caiu de 62% para 51%.