Qualquer detalhamento agora do que se deva e se deseje fazer tão logo o novo presidente tome posse, poderia colocar à mesa, desnecessariamente, o pomo da discórdia. A ansiedade é compreensível tamanha a dimensão da crise em que estamos mergulhados.
Por Luciano Siqueira - de Brasília
Em ambiente de acirrada disputa e de boas perspectivas de vitória do ex-presidente Lula, várias são as vozes qualificadas que propõem a antecipação de detalhes essenciais da correção de rumos a ser feita em nossa economia.Taxa de investimentos públicos e privados
Lembro-me de quando Lula eleito pela primeira vez presidente da República, dias antes da posse, almoçou com o prefeito João Paulo e membros de nossa equipe de governo e alguns ilustres convidados, na Prefeitura do Recife. Num canto, conversávamos o ex-ministro Armando Monteiro Filho, o então futuro ministro Cristóvão Buarque e eu, a propósito da situação econômica de então. Lula se aproximou, ouviu parte de nossa conversa e arrematou: “Vocês tem razão. Sei que vou pegar uma economia em frangalhos. E não serei um De La Rua, que tentou dar um passo além do tamanho das próprias pernas na Argentina e se deu mal.” E a história registra os êxitos obtidos nos dois governos Lula quanto à gestão da economia, ainda que, por carência de convicção ou de força real, não tenha alterado no essencial os fundamentos macroeconômicos. Qualquer detalhamento agora do que se deva e se deseje fazer tão logo o novo presidente tome posse, poderia colocar à mesa, desnecessariamente, o pomo da discórdia, quando estamos necessitando precisamente do contrário. Confirmando-se a vitória de Lula, o breve período de transição definirá as iniciativas concretas em seu conteúdo e em sua dimensão, em parte determinadas pelas necessidades objetivas, em parte dimensionadas pela correlação de forças real no interior do próprio governo, no Congresso Nacional e no conjunto da sociedade. Aí, quem sabe, seja possível inverter o sentido da expressão advinda da mitologia grega e tenhamos, enfim, a necessária concórdia para o êxito.Luciano Siqueira, é Médico, vice-prefeito do Recife, membro do Comitê Central do PCdoB
As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil