Rio de Janeiro, 12 de Setembro de 2025

Polícia Civil registra um crime de ódio a cada 12 horas em SP

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Segunda, 13 de Novembro de 2017 às 11:09, por: CdB

Os números mostram que oito entre os 10 distritos policiais com maior incidência de crimes de intolerância estão na região central da capital

Por Redação, com Vermelho - de São Paulo:

De acordo com dados fornecidos via Lei de Acesso à Informação, a Polícia Civil registrou um crime de intolerância a cada 12 horas na capital entre janeiro de 2016 e agosto deste ano. São ataques de ódio contra negros, gays, imigrantes ou por motivações religiosas, que ocorreram com mais frequência na região central da cidade e foram cometidos, principalmente, por homens brancos e jovens.

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O perfil do praticante de crimes de ódio é bem definido. Seis em cada 10 são homens e brancos

O levantamento leva em consideração 1.091 crimes de intolerância no período; até 15 de agosto. Todos os boletins de ocorrência que têm como motivação o ódio do agressor recebem uma marcação específica desde 2014. Ainda não há um registro distinto para a homofobia.

Os números mostram que oito entre os 10 distritos policiais com maior incidência de crimes de intolerância estão na região central da capital; que concentra grande quantidade de imigrantes e muitos pontos de diversão; e cultura da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros).

Principal palco da Parada Gay, a avenida Paulista lidera o número de delitos com essa característica; com 21 casos no período analisado.

Destaca-se o fato de que apenas 9% do total dos casos tenham sido registrados como discriminação; o que é previsto no artigo 20 da Lei Crime Racial e determina pena de dois a cinco anos de prisão. Por outro lado, 59% foram caracterizados como injúria; que prevê pena bem menor, de três meses a um ano de prisão.

Perfil do agressor e da vítima

O perfil do praticante de crimes de ódio é bem definido. Seis em cada 10 são homens e brancos. Com relação à idade, três a cada 10 têm de 18 a 30 anos. Entre as vítimas; é mais variado. Mas destaca-se o fato de que quatro entre 10 atacados têm de 18 a 30 anos.

O jornalista congolês Christo Kamanda foi agredido por um grupo de homens na região central da capital; à luz do dia, no dia 30 de novembro do ano passado. Segundo Kamanda, as ameaças que recebe são tão frequentes; como “a água que bebe todos os dias”.

Naquela ocasião, quatro pessoas o abordaram e ofereceram uma carona para levá-lo para casa. Isso foi às 10h de uma quarta-feira, na avenida Duque de Caxias, em Santa Cecília.

Violência

Kamanda conta que recusou a oferta, mas o grupo continuou insistindo até dar início à pancadaria. Um dos homens, com perfil atlético, carregava consigo um taco de beisebol; afirma o jornalista. “Eles me agrediram e fui para o hospital. Felizmente, nenhum exame deu problema.”

O jornalista diz que grande parte dos imigrantes europeus chegou ao Brasil na virada do século passado como refugiado econômico; e que uma parcela dos descendentes deles se tornou racista e homofóbica; “infelizmente, por falta de memória”. “Há muita hipocrisia. Precisamos quebrar esse mito de que o Brasil é um país acolhedor”, afirma Kamanda.

Cultura da superioridade

Diretor da Adus (Instituto de Reintegração do Refugiado), Marcelo Haydu; diz que têm crescido manifestações de intolerância contra a vida de refugiados e imigrantes negros no Brasil.

– O problema para essas pessoas não é a vinda de estrangeiros. Mas quem são esses estrangeiros. É um recorte claro contra raça e religião; contra os imigrantes negros de países pobres. Segundo Haydu, desemprego em alta e instabilidade política; e econômica são combustíveis para o crescimento do ódio contra eles.

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