Ainda segundo o delator, Picciani teria acertado em 2015 uma comissão ilegal de 3% para direcionar a conta de publicidade do Ministério da Saúde — na época, o PMDB comandava a pasta no governo Dilma Rousseff.
Por Redação - de Brasília
O publicitário Renato Pereira, na delação premiada que presta à Justiça Federal, denunciou, nesta quinta-feira, o titular da pasta do Esporte, Leonardo Picciani (PMDB-RJ). Segundo o dono da agência Prole Propaganda, Picciani direcionou uma licitação de publicidade da pasta para sua empresa, no ano passado. A concorrência pública para a conta do ministério foi realizado na gestão do deputado do PMDB fluminense. A Prole constou entre as duas vencedoras do processo e dividiu uma conta de R$ 55 milhões.
Em nota, Picciani disse que a acusação de Renato Pereira "é mais uma mentira inventada por quem quer se safar dos próprios crimes que cometeu". Ele negou ter se encontrado com o marqueteiro em seu gabinete "para tratar de licitação no Ministério do Esporte ou de qualquer outro assunto".
"Mais de uma dezena de empresas concorreram na licitação pública aberta pelo ministério. Os certames são conduzidos por servidores técnicos, vinculados à respectiva área, sem qualquer ingerência do ministro”, diz ele.
Corrupção
Em seu depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR), o publicitário disse que viajou a Brasília para fazer o acerto diretamente com Picciani. Ele assumiu o cargo em 12 de maio de 2016, logo após a edição do golpe de Estado de derrubou a presidenta Dilma Rousseff.
“(Pereira) Veio a Brasília e teve uma reunião com Picciani no seu gabinete, onde ficou acertado que ganharia a conta de publicidade do ministério", consigna o depoimento. A concorrência para a conta do Esporte foi aberta logo em seguida, já na gestão de Picciani. A Prole, de fato, foi classificada entre as duas vencedoras do processo milionário.
Alertado por seus advogados para o risco de seguir adiante no acerto com o Ministério do Esporte, os representantes da agência não compareceram ao ato de assinatura do contrato. Pereira desistiu de prestar os serviços. Ele alegou dificuldades financeiras para realizar os serviços. A mudança de rumos ocorreu, no entanto, apenas alguns dias após de o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB-RJ) ser preso. Pereira e Cabral foram citados nos esquemas de corrupção entre o governo do Estado e a Prole.
Esquema
A empresa que assumiu o contrato de publicidade foi a Calia Y2, terceira classificada na licitação. A agência pertence ao publicitário Gustavo Mouco, irmão do marqueteiro de Temer, Elsinho Mouco. Os ganhos da empresa se multiplicaram desde que Temer assumiu o governo, no ano passado.
Ainda segundo o delator, Picciani teria acertado em 2015 uma comissão ilegal de 3% para direcionar a conta de publicidade do Ministério da Saúde — na época, o PMDB comandava a pasta no governo Dilma Rousseff. O publicitário teria encontrado um funcionário do ministério, identificado apenas como "Valter", e o publicitário Paulo de Tarso Lobão Morais, sócio de uma outra empresa, envolvida no esquema.
"Nessa reunião ficou confirmado que a Prole seria uma das agências vencedoras da conta de publicidade do Ministério da Saúde", afirmou Pereira, no depoimento. Ele acrescentou que, devido ao processo de impeachment de Dilma, o governo caiu e o PMDB do Rio perdeu influência na Saúde. As tratativas, então, caíram por terra. A delação foi tornada pública, na véspera, pelo ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro, no entanto, não avalizou a iniciativa e a devolveu à PGR.
Propinas
No acordo de delação fechado entre a PGR e Renato Pereira, sub judice no STF, ele admitiu ter recebido dinheiro vivo, de caixa dois, nas campanhas do ex-governador Sérgio Cabral; do ex-prefeito Eduardo Paes, do atual governador Luiz Fernando Pezão, todas no Rio; e da senadora Marta Suplicy, em São Paulo. As disputas eleitorais delatadas vão de 2010 a 2016.
Na reeleição de Cabral, em 2010, Pereira disse que recebeu valores oficialmente e também via caixa dois. Ele contou que foi orientado por Wilson Carlos, braço direito e ex-secretário de Cabral, a procurar o executivo da Odebrecht Leandro Azevedo. Ele pagava em dinheiro vivo. A campanha teria custado de R$ 10 milhões a R$ 12 milhões.
Para retirar o dinheiro, segundo Pereira, era preciso informar uma senha. Esta sempre mudava –geralmente, um nome de peixe, como tainha e badejo. O relato coincide com as investigações da Operação Lava Jato. E estas mostraram que o chamado "departamento de propinas" da Odebrecht operava por meio de senhas para entregas de dinheiro.
Negativas
A assessoria do governador Pezão divulgou nota, nesta quinta-feira. Afirmou que todas as doações da campanha foram feitas de acordo com a Justiça Eleitoral. As defesa de Cabral e Marta Suplicy não devolveram as ligações da reportagem do Correio do Brasil.
O ex-prefeito Eduardo Paes disse a jornalistas, por intermédio de sua assessoria, que a delação é "mentirosa e inconsistente". "Pereira conta que o valor de R$ 25 milhões orçado inicialmente não se concretizou. O valor foi bem inferior e não houve caixa dois”, afirmou. Pedro Paulo também afirmou que os depoimentos "não merecem qualquer credibilidade".