A presença do "Posto Ipiranga" do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nos bancos da CPI foi um dos primeiros temas que causou divergência entre a oposição e a tropa de choque bolsonarista na comissão, antes mesmo dela ser instalada, em abril. A blindagem a Guedes, no entanto, tende a ser rompida após o recesso parlamentar.
Por Redação, com RBA - de Brasília
A convocação do ministro da Economia, Paulo Guedes, para depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado é considerada líquida e certa por integrantes do grupo majoritário de senadores, a ser definida na volta do recesso legislativo, dentro de duas semanas, segundo apurou a reportagem do Correio do Brasil. Desde que as sessões foram paralisadas, Guedes voltou a ter seu nome envolvido em denúncias sobre ações e omissões do governo federal no combate à pandemia do novo coronavírus.
Ministro da Economia, Paulo Guedes atuou, ativamente, para o atraso na compra de vacinas contra a covid-19
A presença do "Posto Ipiranga" do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nos bancos da CPI foi um dos primeiros temas que causou divergência entre a oposição e a tropa de choque bolsonarista na comissão, antes mesmo dela ser instalada, em abril. A blindagem a Guedes, no entanto, tende a ser rompida após a revelação de novos casos que apontam o papel central do Ministério da Economia no atraso na compra de vacinas e no incentivo à imunidade de rebanho.
Convocação
Nesta terça-feira, em linha com a apuração do CdB, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, disse a jornalistas que é favorável à votação do requerimento de convocação no retorno aos trabalhos da comissão:
— É uma providência natural que a CPI convoque Guedes. A falta de planejamento é, na verdade, uma consequência do agravamento da pandemia no Brasil. É importante convidá-lo para resolver efetivamente o problema do ponto de vista orçamentário — pontuou.
Em abril, o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), disse que a convocação "politizaria o debate" e atuou contra a ida do ministro ao banco dos depoentes. No mês seguinte, no entanto, Guedes fez declarações contra a China, principal fornecedor de insumos para fabricação da CoronaVac no Brasil, e Aziz mudou o tom. Disse que o ministro deveria “cuidar da economia, que não está bem” no país e disse que ele seria “puxa-saco americano”.
Anti-Pfizer
À época, o senador Humberto Costa (PT-PE) disse que a crise “tem tudo a ver com Guedes. A (a CPI terá também de) apurar a nossa tese de que o governo adotou uma posição de que era mais importante deixar o vírus circular, todo mundo pegar, fazendo com que o governo não tivesse que gastar dinheiro.”
Guedes e sua equipe interferiram, diretamente, na elaboração da Medida Provisória (MP) que tratou da aquisição de vacinas contra a covid-19. De acordo com os documentos enviados à CPI da Covid, vazados para o diário conservador paulistano Folha de S.Paulo na terça-feira, o ministério barrou dispositivo que facilitava a aquisição de imunizantes da Pfizer e Janssen.
A cláusula vetada autorizava a União a assumir eventuais riscos e custos de possíveis efeitos adversos da vacina. Tratava-se de exigência das farmacêuticas para negociar o imunizante em todos os países. A reportagem afirma que tanto Guedes como o presidente Jair Bolsonaro “temiam” a ameaça de processos contra eventuais efeitos colaterais dos imunizantes. O risco de judicialização poderia aumentar o passivo financeiro da União.
Contrato
A MP foi publicada em 6 de janeiro, sem o artigo vetado por Guedes. Foi quando Bolsonaro declarou que o governo não se responsabilizaria, caso quem tomasse o imunizante da Pfizer “virasse jacaré“. A decisão atrasou as negociação com o laboratórios norte-americano em pelo menos 8 meses desde a primeira oferta.
O contrato para a aquisição de 100 milhões de doses da vacina da Pfizer foi assinado em março. Mas só foi possível após a aprovação de uma lei que repassou à União os riscos relativos à aplicação dos imunizantes. Na sequência, o contrato com a Janssen, para a compra de 38 milhões de doses, também foi firmado.
Em junho, documentos sigilosos do Itamaraty, vazados ao diário conservador paulistano O Estado de São Paulo, revelam que o dono da Precisa Medicamentos, Francisco Emerson Maximiano, afirmou ter discutido com a pasta de Paulo Guedes a abertura de uma linha de crédito para clínicas privadas adquirirem vacinas no exterior.