O adiamento da composição da equipe ministerial que executará as políticas públicas definidas para o segundo mandato recebe apoio de parlamentares governistas e analistas políticos. Na última semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou que não anunciará suas decisões até o início de janeiro.
Segundo ele, quem toma posse no dia 1º são ele e o vice José Alencar, somente.
- Nunca disse que iria mudar ministros. Alguns ministros disseram que iriam sair, mas eles só saem se eu quiser - disse Lula, na última sexta-feira, em café da manhã com jornalistas.
Esse adiamento pode beneficiar Lula e o país, na avaliação do cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília.
- Os interinos (ministros e presidentes e diretores de estatais e autarquias) vão querer mostrar mais algumas semanas de bons serviços para tentar permanecer em seus cargos. Tem males que vêm para o bem, e esse pode ser um dos casos.
Segundo Fleischer, o tempo para as nomeações para alguns cargos está vinculado diretamente às eleições para as presidências da Câmara e do Senado Federal.
- Se o presidente tiver incerteza sobre a sucessão na Câmara, deve nomear alguns ministros antes da posse, em 1º de janeiro, e retardar para depois das eleições (das Mesas Diretoras) as nomeações dos 'frutos' maiores (ministérios com orçamentos maiores).
Entre as pastas "mais atrativas" para os partidos, o professor da UnB cita Cidades, Integração Nacional e Transportes, entre outras.
A oposição critica os métodos usados pelo governo na composição da coalizão, como a cessão de cargos em troca da garantia de apoio político. Para o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), "não há compromissos com idéias, nem com formulações programáticas mas, sim, com a disputa por cargos".
Quanto ao processo sucessório na Câmara e no Senado, Agripino Maia diz que a estratégia do governo "é criar expectativas".
Apesar das críticas da oposição, o presidente Lula tem chamado para conversas institucionais os dirigentes dos partidos que pretende ter na sua base de apoio parlamentar. O PMDB, maior partido na Câmara e no Senado, foi um dos primeiros a ser chamado para essa conversa.
- O governo de coalizão deve se dar, primeiro, em torno da definição de um programa mínimo a ser implementado para se ter um crescimento mais rápido da economia. A definição desse programa deve se dar, num primeiro momento, em conversas com partidos da coalizão e o governo e depois entre os partidos - tem afirmado o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
O líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS), complementa o que vem sendo dito por Calheiros e outras lideranças políticas peemedebistas. Na avaliação dele, o segundo mandato de Lula já começou no dia seguinte à reeleição.
- Neste momento está sendo avaliado um conjunto de medidas na área econômica para alavancar o que é uma das diretrizes principais do próximo governo, que é o crescimento econômico mais acelerado em relação ao primeiro - diz ele.
Fontana lembra que a meta é conseguir um crescimento em torno de 5% ao ano.
- Para dar este exemplo, o ministro da Fazenda e outros agentes da área econômica do governo estão ultimando um conjunto de medidas que serão apresentadas ao país. Então, isso é governar, é fazer aquilo que é preciso.
Quanto ao tempo em que se darão as nomeações, Fontana diz que, "particularmente", considera o 1º de janeiro a data mais adequada para os anúncios, porque o segundo mandato, na prática, já está em andamento.
Ele considera, entretanto, que não existe "atraso" para compor um governo. "Para compor um governo é preciso a prudência e a qualidade. Isso é o central: a qualidade que realmente consolide uma base de sustentação capaz de dar estabilidade a este governo e, de outro lado, que se escolha os melhores nomes para qualificar cada área do governo."