Com o crescimento de 4,6% registrado em 2021 o país conseguiu recuperar a queda do nível de atividade econômica causada pela crise pandêmica, sem, contudo, voltar ao patamar real de produção observado em 2014, antes da depressão (da qual, portanto, ainda não saiu).
Por Luciano Alencar Barros - do Rio de Janeiro
Enquanto o mundo luta para sair da pandemia, uma guerra na Europa, com repercussões globais, altera substancialmente o panorama dos próximos meses e anos. Neste conturbado cenário o Brasil, que ainda não se recuperou da depressão iniciada em 2015, irá às eleições, preocupado não apenas com o caótico cenário econômico de curto prazo e com as pautas social e ambiental dos próximos anos, como também com a estabilidade do próprio sistema democrático e de suas instituições. Neste contexto, quais serão os principais desafios econômicos do próximo governo?Cenário extremamente desfavorável
Some-se a este cenário extremamente desfavorável os erros e amarras autoimpostas ao Brasil, e tem-se ideia do tamanho do desafio do próximo governo. Uma vez que a locomotiva do crescimento não será o mercado externo e nem o setor privado, caberá ao setor público impulsionar a economia, e para tal é preciso recuperar a capacidade do Estado de realizar política econômica, fundamental tanto para a retomada do crescimento quanto para o controle da inflação. Neste sentido, em primeiro lugar é preciso revogar o teto de gastos, aberração institucional que, além de inviável (tendo sido descumprido em 2020 e 2021), é totalmente contraproducente para a recuperação da economia. Em não havendo restrição de dólares, o governo tem toda a capacidade de realizar política fiscal para promover o crescimento, e o arcabouço fiscal deve alinhar-se a esse objetivo, deixando de lado o terrorismo habitualmente associado à defesa do “equilíbrio” das finanças públicas. No atual quadro catastrófico que nos encontramos investimentos públicos e gastos sociais são necessários e inadiáveis. A política monetária, associada a algum nível de controle do fluxo de capitais internacionais, deve buscar a estabilização do câmbio em patamares não muito depreciados, de modo a não catalisar o processo inflacionário em curso. Neste sentido, e de forma complementar, deve-se também abandonar a atual política de preços da Petrobras instituída no governo Temer, de modo que os preços dos combustíveis se associem aos seus custos de produção em moeda nacional. E a prazos maiores a empresa deve aumentar sua capacidade de refino, reduzindo suas exportações de petróleo bruto (que podem ser eventualmente taxadas de modo a constituir um fundo para subsidiar o preço dos combustíveis). A questão tributária, apesar de complexa, também precisa ser encarada. Uma reforma que aumente a progressividade do sistema, elevando a taxação sobre quem ganha mais e reduzindo sobre quem ganha menos, deve ser pautada. Trata-se também de uma excelente oportunidade de estimular a sustentabilidade ambiental, preocupação, aliás, que deve ser transversal à toda política econômica.Os desafios econômicos
Em suma, serão enormes os desafios econômicos impostos ao próximo governo eleito. Se, por um lado, é possível e urgente retomar o crescimento com distribuição de renda no país, por outro é necessário reconhecer o conflito de interesses que permeia a tomada de decisões no âmbito da política. E, nos últimos anos, os interesses externos e de parcelas da elite vêm se sobrepondo àquele da maioria da população brasileira. Cabe a ela ajudar na construção de candidaturas alinhadas com seus interesses, chancelá-las nas urnas, e dar o apoio político necessário para que o programa eleito não se desvirtue de uma agenda comprometida com os interesses da maioria.Luciano Alencar Barros, é doutorando pelo Instituto de Economia da UFRJ e pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ.
As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil