Rio de Janeiro, 14 de Setembro de 2025

Os dilemas do Fórum Social Mundial

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Terça, 23 de Janeiro de 2007 às 12:46, por: CdB

Em Nairóbi, o Fórum Social Mundial chegou àquilo que em língua inglesa se chama "the crossroads of life" - as encruzilhadas da vida. O fato de se realizar na África sua sétima edição é uma tremenda vitória. É uma demonstração da vitalidade do processo inaugurado pelo Fórum. É uma demonstração de que ele de fato se mundializou. É também uma demonstração de que a vida política do Fórum adquiriu diversas ramificações, e de que ele conseguiu construir uma rede de comunicação eficiente entre diversas frentes ativistas em busca de um melhor conceito de sociedade em escala mundial.

Na entrevista coletiva dada no dia 22 de janeiro por alguns dos responsáveis pela organização deste Fórum, Taoufik Ben Abdallah, Moema Miranda, Edward Oyungi, e Oduar Ongwen, os últimos do Quênia, as conquistas dessas realização na África ficaram evidentes.

Oduar Ongwen disse que até 22/01 havia 46 mil inscritos oficialmente no Fórum. O número de participantes ainda é incerto, porque há atividades que se realizam fora do recinto oficial do Fórum, o Conjunto Esportivo Moi, em Kazarani. Também apareceram as dificuldades: a montagem do Fórum custou 5 milhões de dólares, dos quais apenas a metade foi levantada até o momento. As condições de trabalho no belo estádio de atletismo e futebol são muito precárias: a internet não funciona em boa parte do tempo, há notícias de furtos em todas as partes, mesas mudam de horário, é muito difícil tomar decisões diante dos imprevistos, porque a estrutura de funcionamento do Fórum é muito hierarquizada. Uma pessoa que seja responsável por um setor num dado momento não se sente com autonomia suficiente para tomar uma decisão diante de um imprevisto - por exemplo, realizar-se uma entrevista numa sala onde há espaço mas não havia previsão dela, que foi o caso que aconteceu comigo, para entrevistar membros da Via Campesina africana.

Mas vai-se aprendendo: momentos depois a pessoa em questão, que antes me dissera que era necessário consultar seu superior, me apresentou um formulário a preencher que seria encaminhado, etc. Fiz as entrevistas no campo em frente ao estádio, sob o sol poente e vigoroso do belo entardecer equatorial.

Os membros da mesa defenderam resoluções da organização que vêm sendo questionadas. Entrar no Fórum custa 7 dólares. Como assim?, perguntam os jornalistas, e diversos ativistas por todos os cantos. Abrir os portões?, retrucaram os da mesa. A situação e a segurança poderiam ter saído de controle completamente, argumentaram. E acrescentaram: os mesmos que reclamam a abertura dos portões reclamam dos vários furtos de câmeras, de carteiras e de outros objetos que têm sido registrados no espaço do Fórum. E é verdade que, num país em que a gentileza
das pessoas é extrema, tanto quanto a pobreza, a insegurança aparece a cada passo, nas recomendações (das pessoas daqui) de que não se ande desacompanhado à noite, etc.

Mas essa mesma é a razão da vitória de realizar tal Fórum nestas devastadas, generosas e enigmáticas terras africanas, berço da humanidade. Realizá-lo na Europa, ou em Porto Alegre, poderia ser fácil, apesar das confusões em alguns fóruns europeus. O desafio é plantá-lo em terras como as de África, levando sua mensagem de construção da auto-estima por parte dos que almejam esse "outro mundo possível" às organizações locais, para quem, com toda a precariedade, a realização de um encontro de tal monta é um fato de dimensões continentais e históricas.

Mas... houve custos conceituais para essa realização que, se forem incompreendidos, poderão levar a preconceitos contra o continente
africano e suas condições; mas que, se não forem pesados, poderão levar a graves impasses no futuro do Fórum. Pela primeira vez (e as necessidades de financiamento explicam isso) as faixas do Fórum apareceram com a logo-marca de um patrocinador (uma companhia local de telecomunicações) num dos cantos.

Os debates têm sido muito qualificados - esta é a informaç

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