Em uma das edificações, as autoridades encontraram uma cobertura de luxo com piscina, área gourmet, cozinha equipada e geladeira cheia de bebidas.
Por Redação, com Agenda do Poder – do Rio de Janeiro
Uma operação conjunta iniciada nesta quinta-feira revelou o padrão de ostentação nas construções erguidas pelo tráfico de drogas na Rocinha, Zona Sul do Rio. Três prédios irregulares, erguidos sobre uma encosta desmatada na região da Dionéia, começaram a ser demolidos por força-tarefa formada por órgãos do Rio e do Ceará.

Em uma das edificações, as autoridades encontraram uma cobertura de luxo com piscina, área gourmet, cozinha equipada e geladeira cheia de bebidas. A vista dava direto para o mar de São Conrado. Todo o imóvel, segundo engenheiros da Prefeitura do Rio, apresentava acabamento de alto padrão, semelhante ao de empreendimentos de classe alta. O custo estimado das obras, todas realizadas sem licença ou autorização, chega a R$ 6 milhões.
Os prédios tinham entre dois e sete andares e estavam em uma área de aproximadamente dois mil metros quadrados. A estrutura foi considerada de alto risco por ter sido construída em área de encosta instável, após desmatamento. Além do perigo geológico, as construções também serviam como base para esconder criminosos do Comando Vermelho do Ceará, segundo apontam as investigações.
A ação é coordenada pelo Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente do Ministério Público do Rio de Janeiro (Gaema/MPRJ), em parceria com a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop) e a Polícia Militar. O Ministério Público do Ceará e a Polícia Civil cearense também atuam na operação, que visa desarticular uma rede interestadual de proteção a traficantes foragidos.
Reduto de luxo para o crime
Os prédios agora demolidos foram identificados após uma operação realizada em 31 de maio, quando autoridades cumpriram mandados contra chefes do tráfico do Ceará que haviam se refugiado na Rocinha. Durante aquela ação, dezenas de criminosos foram flagrados fugindo pela mata da Dionéia, a mesma área onde os imóveis foram construídos. As imagens captadas por drones mostravam homens armados com fuzis em fuga organizada, usando a floresta como rota de escape para outras áreas da Zona Sul, como Gávea e Jardim Botânico.
De acordo com os promotores, os imóveis serviam como uma espécie de “hotel do tráfico”, luxuoso, bem equipado e estratégico. Além de abrigar os foragidos, os prédios funcionavam como ponto de apoio logístico para as operações da facção.
Impacto e simbolismo
A demolição dos prédios, além de remover riscos estruturais, tem impacto direto na estratégia de enfraquecimento do poder territorial e econômico do tráfico. Segundo técnicos do município, essas construções representam mais que violações urbanísticas: são marcos do avanço da criminalidade sobre áreas de interesse público, e da tentativa de transformar favelas em zonas de luxo privativas sob controle criminoso.
A operação também teve apoio da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI) do MPRJ, da Secretaria de Assistência Social e da RioLuz. As ações de campo seguem nos próximos dias com novas vistorias em imóveis suspeitos.
Para as autoridades, o caso evidencia o nível de sofisticação e investimento do crime organizado, que hoje constrói mansões e prédios com padrão de condomínio de luxo em comunidades dominadas por facções, desafiando não apenas a segurança pública, mas também a ordem urbana da cidade.